– Eu prefiro o lado esquerdo. E precisamos fazer uma faixa. Nada de encostar em mim, ouviu Alexander? – Perguntei enquanto colocava minha mala no canto do quarto. Alexander não me respondeu. Voltei então meu olhar em sua direção e logo descobri porquê. Ele estava olhando pela janela para o campo da fazenda.
Me aproximei dele lentamente, observando como a luz do sol adentrava a janela e batia sob os cabelos de Alexander dando um ar dourado aos mesmos. O nariz afilado parecia um ponto de escalada naquele brilho dourado e os olhos dele, esverdeados, pareciam duas bilhas cristalinas a receber a luz do sol convidativa. Era uma imagem e tanto de se olhar.
Voltei então minha atenção para o que Alexander via logo mais a frente. Também era uma imagem agradável e calma, como toda a fazenda. Dali de longe era apenas um pequeno rastro do rio que era observado. A outra parte adentrava a parte da floresta preservada, perdendo-se na beleza da mesma.
Havia algumas vacas, depois do rio, pastando calmamente e, lá ao longe, era possível observar uma casa no meio do nada, que eu sabia que servia para as galinhas quando dava a hora de dormir. Era um ambiente gigante e tranquilo. Eu sabia, também, que a leste havia outra casinha mais distante e algumas outras criações. Uma hortinha também se fazia abaixo da janela de onde víamos tudo isso e os olhos de Alexander logo brilharam ao perceber isso.
– Vocês tem uma horta. – Ele murmurou.
– Sim. Vovó cuida com muito empenho. – Disse, o que fez Alexander voltar sua atenção para mim, sorrindo.
– Isso é fantástico! Amanhã quero conhecer tudo isso! – Ele disse e eu sorri.
– Vai ter que acordar cedo. Está disposto a isso, Ale? – E os olhos brilhantes de Alexander, que olhavam todo o ambiente anterior, voltaram-se para mim.
– Mas é claro! Eu acordo cedo todos os dias, se você não sabe, Sara. – Balancei a cabeça negando.
– Não consigo acreditar nisso. – E era verdade. O senhor riquinho Alexander acordando cedo? Não podia ser verdade.
– Veremos então. – Disse Alexander e eu concordei. Esperaria para ver isso.
**
Dividir uma cama com Alexander até que não foi muito problema. Num primeiro momento fiquei assustada, pensando que ele poderia ultrapassar a faixa de gaza de cobertas que eu tinha feito, mas não foi o caso. Ele dormiu rapidamente e eu logo fiz o mesmo, dormindo na calmaria daquela noite.
Eu realmente não levava fé que Alexander iria acordar cedo, o que me fez resmungar quando senti alguém empurrando o meu ombro com força para ver se eu acordaria.
– Me deixa dormir. – Disse entre resmungos, o que fez Alexander rir e dizer:
– Vamos, eu quero explorar a fazenda, Sara! – E eu neguei virando-me na outra direção. Não fazia ideia de que horas eram, mas eu queria dormir. Isso era fato.
– Eu quero dormir. – Resmunguei novamente, mas Alexander continuava empurrando-me a fim de que eu acordasse. Abri os olhos levemente transtornada, encontrando os olhos de Alexander fixados em mim, esperando que eu me levantasse.
Com muito custo acabei me levantando e me tranquei na suíte do quarto. Alexander já estava pronto ao que parecia, mas nem o olhei direito para saber o que ele estava vestindo. Coloquei uma calça caqui e uma blusa xadrez com azul. Coloquei tênis, pois sabia que andar no mato sempre me fazia ter mosquitos a quererem o meu sangue. Prendi o cabelo num rabo de cavalo e então sai do banheiro a fim de então sair andando pela fazenda.
Olhei então para Alexander. Ele estava vestindo uma calça larguinha daquelas que usavam para fazer ginastica, preta. Também estava com uma blusa azul marinho larguinha de meia manga e tênis. Estava muito bonito por sinal, o que me fazia pensar quando Alexander não pareceria bonito.
– Vamos? – Perguntou um Alexander animado sorrindo bastante. Ele realmente parecia a fim de conhecer aquele mundo novo no qual estávamos.
– Vamos. – Respondi.
Tomamos um café reforçado, embora rápido, e seguimos então pela exploração daquilo tudo, desconhecido para Alexander. Ele parecia uma criança de sete anos, extremamente animada com tudo o que via. Vimos a horta e Alexander pegou uns ramos de cebolinha, sentindo o cheiro agradável da planta. Depois, foi mexer com a terra, visto que vovó estava plantando uns pés de alface. Ele acompanhou ela na tarefa metendo a mão na terra, ainda que uma cara diferente.
– A terra tem um aspecto tão úmido. Tão diferente. – Disse Alexander e vovó riu.
– O menino urbano não sabe nem como é a terra que se planta direito, acha? – Vovó gargalhou. – Você tem muito o que aprender aqui ainda, Alexander. – E ele concordou.
Ajudei Alexander a colocar o pé de alface sob a terra e ele sorriu para mim. Então, ainda falando sobre a horta, ele murmurou:
– É tudo orgânico, tão simples, mas tão cheiroso, Sara. Que sorte que sua família tem de ter ingredientes tão preciosos assim! – Disse Alexander e eu só consegui corar diante desse tipo de fala dele. Vovó concordou.
– Tudo que é plantado por nós mesmos, tem mais amor, menino. – E Alexander nada falou depois disso.
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