Fico a pensar em tudo isso. Ale não está bem e sua família não parece nem ligar. Aparentemente, a mãe dele se preocupa mais com status e que ele fique com aquela outra garota que Matilde deve aprovar apenas porque a menina é bonita e educada do que porque vai fazer seu filho ficar feliz. Não pude deixar de pensar se Ale por acaso já teve um toque carinhoso de mãe, dizendo que tudo vai ficar bem, cuidando dele, em vez de se preocupar com seu próprio umbigo. Cada tempo que passa enquanto espero Ale, me convenço de que não. Ele nunca teve algo parecido.
Quando Ale desce parece outra pessoa e eu suspiro aliviada ao ver o verdadeiro Ale que conheço. Quer dizer, pelo menos fisicamente, já que seu olhar ainda parece meio confuso, perdido, embora ele esteja mais sério do que quando o conheci e ele sorria insanamente antes.
Ele está agora com uma blusa cinza e calças jeans, embora descalço. O corte que fiz no cabelo dele realmente não é nem um pouco um dos melhores, parecendo um ninho de rato, mas é melhor do que o pavão que ele estava parecendo antes. E agora consigo enxergar os olhos dele, consigo ver uma carga que parece brilhar nos olhos dele, de desespero, desamparo e algo mais que não consigo decifrar perfeitamente.
Quando Ale se aproxima de mim ele me lança um fraco sorriso, já ficando sério de novo, enquanto menciona:
– É sua cor favorita, não é mesmo? – E isso me pega de surpresa, pois não consigo deixar de pensar em como ele ainda se lembra de algo supérfluo como isso. – Da mesma forma que você usa a minha. – Ele completou e eu percebo que até então não tinha visto que tinha vindo usando uma blusa vermelha. Sinto o meu rosto corar diante de tal informação e sinto a mão de Ale tocando o meu rosto e fazendo eu o olhar enquanto ele continua: – Igual a cor das suas bochechas, que gosto tanto. Ficam vermelhas, minha cor favorita. – Ele diz simplesmente e, com muita delicadeza, sou obrigada a tirar a mão de Ale do meu rosto, pois sei que isso me machuca, já que mesmo vendo Ale desamparado assim, sinto o meu eu interior pedindo para beijar seus lábios aflitos e abraçá-lo forte dizendo para ele que vai ficar tudo bem, que eu o perdoo.
Mas não é tão fácil assim. E eu sei que não posso ser. Ao menos tenho que me obrigar de que não seja. Afinal, eu mereço mais. Mereço saber o que era verdade e o que não era. Mereço um pedido de desculpas. Mereço entender essa confusão que a minha vida se tornou depois que eu o conheci. Eu mereço tudo isso e sei que não tenho chances de ter nada disso, não com Ale do jeito que está. E não o culpo por não poder me dar. Ele merece se cuidar primeiro. Simples assim.
– Ale, eu preciso falar com você! – Digo sendo firme nas palavras. Ale passa a me olhar então tentando entender o que direi, mas apenas suspiro antes de continuar: – Você precisa viver a sua vida, Ale! – Digo, o que o faz arregalar os olhos ainda me ouvindo. Continuo: – Você tem que saber o que quer da vida e correr atrás, Ale! A vida é assim! Feita de tentativas e erros! Uma hora a gente acerta! Mas para isso a gente não pode desistir da vida! Você precisa viver a sua vida, Ale. Está me entendendo? – Pergunto e recebo só o vento por longos segundos. Ale continua me olhando como se ainda estivesse captando as minhas palavras.
– Eu já tive por muito tempo tudo o que sempre quis. – Ele começou, a voz grave retumbando e arrepiando o meu corpo. – Hoje em dia não tenho mais nada do que quero, Sara. – Ele admite. – Eu já tive você, mas sou um estúpido e te perdi. – Engoli em seco. Não queria falar sobre isso e fiquei agradecida quando Ale continuou: – Eu nunca tive amor por parte dos meus pais, Sara. – Ele disse.
Aquilo parecia cair como uma bigorna nos meus ombros. Eu desconfiava disso, mas nunca pensei que Ale me admitiria algo tão íntimo como aquilo. Ainda assim, ele continuou com a fala de confissão:
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