Luiza ajeitou o seu casaco contra o seu corpo antes de adentrar na sala de estar da casa de Grace. Ao avistar a matriarca da família Magno, sorriu. Um sorriso frio e contido.
–Retornou mais rápido do que esperado – Grace falou a encarando fingindo seriedade quando sabia a resposta de Luiza – e qual a sua resposta? Irá ser favorável a mim?
–Sim – assentiu ao encara-la – me parece que tudo o que disse era verdade.
–Não teria motivos para mentir ou enganá-la, minha querida.
–Realmente, mas há uma coisa que me deixa inquieta.
–Fale.
–Se Valentin esta se vingando porque a pressa em nos casar? Não deveria estar feliz na vingança que ele esta fazendo?
–Sou uma mulher que não preza isso. Sou favorável que ele sirva para seu propósito: auxiliar no crescimento dos hotéis Magno, e ele conseguirá isso com você.
–Entendi, então apenas esta vendendo o seu filho – sorriu passivamente ao virar as costas – eu não irei me opor a nada afinal minha família não é diferente, entretanto se ele for contra este casamento, eu também irei me recusar. Não vou me casar com alguém me despreza a tal ponto.
–Imaginei que já tivessem se entendido.
–Seu filho é o tipo de homem que nunca será controlado por alguém. Estou indo quando tiver noticias do noivado basta me ligar – virou-se e a encarou – A propósito, Victor me pareceu ser um homem e tanto afinal ele a desafiou – permaneceu parada observando o semblante inexpressivo de Grace ate desistir e ir embora.
–Sim, foi desafiante ate o final – Grace murmurou envolta em lembranças ao se apoiar na poltrona mais próxima.
Flashback on
Grace não conseguia acreditar na escolha de Victor. Ela já havia sido informada, meses atrás, sobre a recente namorada dele, entretanto não esperava que fosse durar mais que dois meses e para sua surpresa o envolvimento deles era cada vez mais forte. Envolta em descrença, raiva e altivez ela foi o procurar após ameaçar e afastar Jessy de Victor. Ela sabia que Jessy não seria capaz de rejeitá-lo mais fortemente se ele também não aceitasse o termino. Ao parar em frente ao edifício onde ele residia, pagou ao porteiro para deixá-la subir sem ser anunciada e assim que apertou o botão do elevador deixou um sorriso brotar em seus lábios. Para ela, tudo acabaria ali. Aquele dia seria o ultimo em que Victor pensaria na mulher insignificante que era Jessy Smiths. As portas do elevador se abriram demorando mais do que Grace desejava. Caminhou pelo corredor silencioso ate parar em frente ao apartamento de seu filho. Tocou a campainha e esperou, paciente, que ele atendesse.
–Mãe? – Victor murmurou perplexo ao ver Grace parada em sua frente – como.. o que.. o que esta fazendo aqui?
–Não vai me chamar para entrar? – indagou séria ao observá-lo. As olheiras dele não lhe passaram despercebida assim como a sua magreza. – “Como ele pode se destruir por uma mulher como ela?” se perguntou em pensamento ao passar por ele e entrar apesar dele ainda estar parado na porta. A casa dele encontrava-se uma bagunça. Inúmeros papeis jogados pelo chão da sala assim como caixas de pizza e latas de cervejas – Vejo que sua vida esta indo bem.
–O que veio fazer aqui? Imaginei que não fosse mais o seu filho já que não nos vemos mais.
–Você foi o único que não me procurou ou estou enganada?
–Como posso procurá-la se tens apenas olhos para Valentin? Deveria fingir ser ele para que desta forma possa me dar atenção e carinho?
–Eu nunca lhe disse para ser ele.
–Nunca precisou sempre estava em seus olhos, mas não veio ate aqui falar sobre isso, não é? Sobre o que veio falar, ou melhor, sobre o que veio me proibir? Imaginei que já tivesse desistido com o passar dos anos, mas estou enganado pelo visto.
–Victor é por isto que Valentin ira acabar liderando a família Magno. Como pode ser tão sentimental? Não me recordo de ter lhe criado desta forma.
–Não criou, e esta é a sua falha como mãe. Sempre se preocupou com os hotéis e com quem iria deixar o seu legado. Nunca parou para pensar no que eu e meu irmão queríamos. Por acaso tem ideia dos nossos sonhos? Já parou para pensar que Valentin poderia não desejar se tornar o presidente dos hotéis?
–Vocês nasceram pra isso.
–Sim, esta foi a única razão para ter nos trazido a este mundo. Estais certa – murmurou cansado. Sentou-se no sofá e a encarou de fingindo despreocupação – pode falar, estou escutando-a.
–Insolente – sussurrou para si mesma ao caminhar pelo cômodo buscando quaisquer evidencias sobre Jessy – vim falar sobre uma pessoa especifica. Jessy Smiths, creio que este seja o nome dela, não é?
–O que quer? Veio me falar para ficar longe dela?
–Isso não bastaria, não é? És determinado e rebelde o suficiente para ir contra o que eu falar, por isso resolvi ir por outro ângulo. Se a encontrar novamente irei fazer o possível para que a vida dela seja uma desgraça. Eu acabarei com toda a sua família, o que não será difícil já que ela tem apenas o pai.
–Me parece que pesquisou bastante sobre a sua vida – disse com um sorriso de escárnio na face enquanto os seus olhos perdiam o brilho cada vez mais.
–Sou sua mãe, e é isso que devo fazer: prezar por sua segurança.
–Estais apenas querendo a segurança desta família que por sinal esta ruindo a cada instante. Parece que não percebes o quanto Valentin é vazio e o quanto sofremos, mas nada disso lhe importa.
–O único que nunca quis assumir nada nesta família foi você, meu filho. Não coloque seu irmão em nossa conversa.
–Claro, ele é seu filho amado. Me esqueci.
–Victor, apenas siga meu conselho e se afaste dela – disse mudando de assunto – quanto mais longe ficar de Jessy Smiths menos a sua vida será dolorosa. Estamos entendidos?
–Me pergunto.. se foi a senhora que a fez se afastar de mim. Não poderia não é? – a olhou firmemente tentando obter algum traço da verdade em sua face – nenhuma mãe seria capaz de destruir a felicidade de seu filho apenas.. por dinheiro, não é? Não seria tão cruel assim, certo?
–Sim, fui eu – Grace disse altiva ainda mantendo o semblante sério – eu a fiz se afastar de você, e não me arrependo, pelo contrario.
–O que disse para ela se afastar de mim? O QUE DISSE? COMO A AMEAÇOU? – gritou alterado ao encarar a mulher a sua frente.
–Lhe disse que se não fizesse o que eu dizia iria acabar sozinha neste mundo. Ela interpretou como quis.
–Então ameaçou fazer algo contra o pai dela. Como és incrível.
–Apenas lhe avisei para ficar longe de você, o que há de mau nisso?
–Nada, definitivamente nada. O único errado fui eu nesta história e sabe porque? Porque me considerei o seu filho por tanto tempo.
–Não quer continuar sendo o meu filho? Então se mate, pois esta é a única forma disso acontecer. Sempre será o meu filho já que saiu de dentro de mim, seu insolente e arrogante. Nem sequer me agradece por ter tudo o que sempre quis. Nunca precisou trabalhar na vida, sempre teve tudo na mão. Como pode agir desta forma com a sua mãe?
–Estais certa – murmurou confuso e magoado consigo mesmo – eu fui o único errado por ter a deixado sozinha. Como pude acreditar que ela não me amava como tanto dizia? Eu tenho que ir atrás dela.. – ao caminhar em direção a porta avistou o sorriso na face de sua mãe.
–Se for atrás dela, eu mesma matarei o pai dela. Isto é um aviso. Estou cheia de sua rebeldia.
–Poderá ser presa, pois eu mesmo a denunciarei.
–Eu tenho dinheiro, e isto é o suficiente hoje em dia para resolver todos os problemas. Terá que escolher entre ficar ao lado dela deixando-a órfã ou deixá-la ir e viver a sua vida longe de ti. Se eu descobrir que foi atrás dela, tudo irá ruir.
–Então alguém esta me vigiando?
–Sim – assentiu.
Victor assentiu deixando-se cair no chão em meio a sujeira que estava a sua sala. Ele relembrou do choro que escutou de Jessy quando ela foi em sua casa e logo tudo se encaixara. Ela estava sofrendo tanto quanto ele e a única culpada era a sua mãe. Seus pensamentos vagaram por todos os tipos de soluções não conseguindo encontrar nada. Ele não queria que Jessy sofresse ainda mais por sua causa e não conseguiria ficar longe dela. Apenas permaneceu no chão, escutou o barulho da porta se fechar. Ficando sozinho em seu apartamento.
–Esta dor..nunca irá desaparecer, não é? – se perguntou em meio as lagrimas que caiam pela sua face. Pela primeira vez Victor havia se dado conta sobre o que era pertencer a família Magno. – Ela também deve ter chorado desse jeito – murmurou ao pensar em Jessy. Levou a mão ao seu peito e deixando que seu choro lavasse a sua dor, mas fora impossível – Jessy.. se não ficarmos juntos nesta vida.. será que na próxima seria possível? Será que não formos feitos para ficarmos juntos? O que seria da minha vida sem você?
Por mais que o tempo passasse, a dor de Victor apenas aumentava. Todas as noites ele ia atrás de Jessy em seu trabalho e a seguia, silenciosamente, ate chegar em casa. Ele não aguentava mais o sofrimento de ser o filho da família Magno. A cada dia a sua dor aumentava, a distancia de seu irmão também e seu amor por Jessy. Ao chegar em casa Victor foi ate o espelho e gargalhou ao mesmo tempo em que as lagrimas caiam pela sua face. Pegou o frasco de comprimidos que havia comprado e foi em direção a cama. Pegou um papel e escreveu tudo o que sentia. E em seguida, sentiu algo aliviar a sua alma a cada comprimido que tomava. Seu único desejo era acabar com a dor que sentia. Ele queria dormir e esquecer tudo. Ele desejava esquecer a sua família e esquecer a sua posição. Victor desejava ser livre.
Flashback off
–Victor, como sempre conseguiu o que queria – Grace murmurou ao ir em direção ao seu quarto. Foi ate a sua cômoda, onde retirou um papel já amassado e desgastado. Sentou-se na cama enquanto lia em forma alta a carta que já havia gravado em sua mente – Eu não aguento mais esta dor. O que não aguento é o sofrimento de saber pertencer a esta família. Porque não posso amar a pessoa que me ama? O que há de mau nisso? Só o que desejo é acabar com a dor e ser livre. Será tão difícil assim? – após a leitura, guardou novamente sentindo a sua raiva por Jessy aumentar – se não fosse a sua culpa, isso nunca teria acontecido – murmurou ao se recordar dele.
***
Valentin encostou na soleira da porta com um sorriso na face ao observar Jessy adormecida em sua cama. Por mais que ele quisesse se conter ou pensar em um modo de reprimir seus sentimentos, não conseguia mais. Ele desejava, ardentemente, seguir em frente com ela, não importando pelo que tivesse que passar. Ele estava decidido a tê-la ao seu lado, apesar de esquecer-se, momentaneamente, sobre Luiza. Andou silenciosamente pelo quarto ate parar ao lado da cama e se deitar ao lado dela. Apoiou a sua cabeça em sua mão e a observou demoradamente. Gravou cada detalhe de seu rosto, o modo como sua respiração era ritmada e o modo como seus lábios ficavam entreabertos. Gentilmente, tocou os lábios dela com os seus e ao se afastar a viu abrir os olhos, lentamente.
–Bom dia – ele disse ao sorrir.
–Oh, bom dia –murmurou confusa ainda. Aos poucos ela começara a dissociar Victor de Valentin, de uma forma que nem ela mesma entendia como.
–Quer comer algo?
–Comer? – repetiu ao olhar em volta deparando-se com as horas no relógio que ficava da cômoda ao lado da cama dele – Estou atrasada – disse ao se levantar da cama apressada e ao escutar as palmas de Valentin, recordou-se de sua nudez – Não deveria fazer isso, você também esta atrasado – o recriminou tentando segurar o riso e não encarar o tórax dele. – deveria terminar de se arrumar também.
–Eu sou o chefe, posso chegar atrasado – falou calmo ao se levantar e ir ate onde ela estava – já você, terá que explica o motivo de chegar atrasada ao seu chefe.
–Como? Você é o único que esta me atrasando.
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