A dor, a raiva e a humilhação que Luiza sentia não conseguia ser comparada ao ódio que estava sentindo de Valentin e de Jessy Smiths. Preservando o mínimo de dignidade que sentia Luiza olhou com desprezo para Jessy ao passar por sua mesa, entretanto logo algo lhe passou pela sua mente, e sorriu. Um sorriso que conseguia fazer qualquer pessoa temê-la. Virou-se e com o mesmo sorriso foi ate onde Jessy estava, parando em frente a sua mesa.
–Há um ditado muito interessante: Para sustentar uma mentira são necessárias muitas outras. Nunca confie em ninguém, Senhorita Smiths – falou a encarando dando as costas em seguida.
Jessy permaneceu como estava, sentada e perplexa. Sem perceber seu olhar voltou-se para a porta da sala de Valentin. “Porque tenho a sensação de algo ruim esta para acontecer?” questionou-se em pensamento. Durante todo o dia Valentin não saiu de sua sala e nem permitiu a entrada de ninguém na mesma. Ele precisava ficar sozinho em algum local onde não pudesse ver ninguém.
Por mais que Jessy estivesse curiosa e se sentisse abandonada por Valentin, nada disse ou fez, apenas se manteve distante como imaginou que ele desejasse. No horário de ir embora não olhou para trás nenhuma vez, apenas se arrumou e foi para o seu, solitário, apartamento. Caminhou pelo hotel imersa em seus pensamentos, entretanto próxima ao saguão parou abruptamente.
–Se eu me sinto assim...não deveria ir ate ele agora? – sussurrou para si mesma. Permaneceu parada por alguns instante ate assentir para si mesma. Virou-se e foi em direção ao elevador, apertou o botão inúmeras vezes e quando as portas se abriram, entrou com um sorriso na face. Os segundos que passaram para que o elevador abrisse sua porta no ultimo andar foram os mais longos para ela. Ao parar em frente a porta da sala de Valentin, respirou fundo e ao colocar as mãos na maçaneta fria percebeu que algo estava estranho. Abriu a porta encontrando o vazio e o silencio. –O que eu esperava? – se perguntou ao fechar a porta.
***
Valentin deixou-se cair no sofá de sua casa sem importar-se com nada. O álcool estava impregnado em sua roupa e em seu sangue. Ele não se lembrara da quantidade que bebeu dentro de sua sala aquele dia, entretanto a única coisa que conseguia sentir era a dor e confusão. Pela primeira vez em sua vida, Valentin Alexander Magno, não sabia o que fazer. Pelo seu temperamento acabara por tornar a sua vida ainda mais difícil do que imaginará. Fechou os olhos com força imaginando se quando abrisse os olhos tudo voltaria ao normal.
–Eu fui..um tolo, não é Vic? – perguntou no silencio de sua casa. Valentin sabia que para enfrentar a sua mãe precisaria de muito mais que rebeldia, e isso estava atormentando-o. – Acho que esta na hora de fazer o que é certo – murmurou antes de adormecer sentado no sofá.
***
Jessy abriu os olhos relutante com o barulho do despertador. Ao mesmo tempo em que sentia vontade de se levantar e ir ate Valentin, sentia um desejo de permanecer em sua cama e continuar sonhando com uma vida sem tristezas. Após muito relutar, levantou-se e percebeu que não visitara os eu pai a algum tempo. Suspirou diante de sua indecisão, entretanto optou por faltar naquele dia. Ela estava decidida a ir ate o homem que amava e lhe dar atenção, algo que sabia que não lhe dava a um tempo.
–Mas.. encontrarei Jon? – perguntou-se ao ir ate a sala, onde foi ate o telefone e discou para Vanda lhe informando sobre sua ausência devido a uma febre. Desligou sentindo-se culpada, mas sabia que aquela mentira poderia ser perdoada. Tomou um banho demorado e logo saiu de casa trajando uma calça jeans, uma blusa branca e um pesado casaco. O seu percurso ate o ponto de ônibus fora repleto de lembranças de Victor, ela aos poucos começava a se despedir do sofrimento, pois ao se recordar dele começava a sentir um calor em seu coração. “Será este o sentimento do perdão?” se perguntou em pensamento. Sorriu diante de seu pensamento e logo percebeu ter chegado ao ponto de ônibus, sentou-se e olhou em sua volta percebendo a felicidade nas pessoas, e pela primeira vez em anos se deu conta de que era possível ser feliz.
***
Jon caminhou pelo hospital com o semblante entristecido. Todos começavam a se acostumar com ele agindo daquela forma, entretanto algumas enfermeiras ainda tentava lhe incentivar a melhorar o animo chamando-o para sair, convites estes que eram recusados. Ele encontrava-se olhando a pasta de um dos seus pacientes quando erguer a sua cabeça deparando-se com a mulher que atormentava os seus sonhos: Jessy. Seu coração começou a bater mais rápido e sem saber o que fazer, virou-se de costas com receio de que ela o visse. Segurou a pasta contra o seu corpo e logo percebeu a loucura que estava fazendo.
–Sou mesmo patético – disse consigo mesmo ao entregar a pasta para a enfermeira, a qual o olhava de forma estranha. – Eu... é melhor eu ir. – afastou-se rapidamente e ao entrar no elevador, suspirou aliviado ao se ver sozinho. Apertou o botão do andar onde o pai dela estava internado de forma inconsciente e ao sair percebeu o seu erro, mas optou por ir ate ela. Ele desejava vê-la nem que fosse de longe. Caminhou pelo corredor como se estivesse cometendo um crime e ao se ver parado em frente a porta, encostou-se na parede e esperou. Esperou para escutar a sua voz.
O sorriso que esboçava o rosto de Jessy ao ver o seu pai na cama do hospital assemelhava-se a um sorriso triste e vazio. Aproximou-se da cama lentamente, sentando-se na ponta da cama. Segurou a mão dele com força e contornou o rosto dele com carinho. Permanecendo daquela forma por alguns minutos.
–Pai, me perdoe pela demora em vir. Sei que não tenho desculpas para isso, mas aconteceu. Me perdoe – falou sincera – O que falaria a mim se eu lhe dissesse que me apaixonei pelo irmão gêmeo de Victor? Ficaria muito bravo, não é? Eu imagino que sim, e acredito que concordaria com o senhor, mas.. pela primeira vez..estou me sentindo viva. O que fazer? Sei que ela virá atacar e tenho medo. Medo de que ele seja fraca como Victor. – falou imaginando estar sozinha com seu pai.
–Mas dessa vez você estará com ele – Jon disse assustando-a. – me desculpe, tenho que perder o habito de lhe assustar – sorriu levemente ao passar a mão pela nuca.
–Jon.. eu..
–Não precisa dizer nada.
–Escutou tudo?
–Sim – assentiu – mas.. eu já sabia.
–Como?
–Eu os vi juntos no hospital.
–Me perdoe, eu deveria ter falado contigo antes e.. Cometi muitos erros, me perdoe – implorou sincera ao encará-lo – deveria me odiar agora.
–Se eu a odiar, perderei uma boa amiga, não é?
Jessy saiu da cama e foi em direção a Jon, abraçando-o afetuosamente. Ele foi a primeira pessoa com quem conversou sobre Victor de forma livremente.
–Obrigada..por isso – ela sussurrou em seu ouvido, afastado-se em seguida.
–Não há de que – tornou sem graça – nunca lhe perguntei, mas já viu uma foto de minha esposa? – indagou. Para ele, aquele era um passo para libertá-lo de seu amor unilateral. Ao vê-la negar, retirou a carteira de seu bolso traseiro, retirando uma fotografia já amassada – esta é ela – estendeu a fotografia ficando surpreso com o modo com que Jessy observava.
–Ela.. era muito parecida comigo.
–Verdade, acho que me aproximei de você por isso. Fui egoísta, não?
–Não – negou sorrindo levemente – foi apenas um homem apaixonado querendo uma segunda chance.
–Obrigado por entender.
–Eu que agradeço por tudo – sorriu ao lhe devolver a fotografia – isto parece um adeus. É um?
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