O medico de plantão olhou incrédulo para Jon, ao vê-lo sair apressado do hospital. Aquela era a primeira vez em que Jon fora relapso em seu trabalho.
Por mais que o transito estivesse calmo aquela hora, para Jon, os minutos que durou para chegar ao Hotel Magno foram intermináveis. Ao escutar a voz de Jessy tão frágil do outro lado da linha, ele não conseguiu pensar em mais nada que não fosse abraçá-la e dizer que a protegeria. Entretanto, ele não conseguia entender do que ela tinha tanto medo ou do que sofria. Assim que o taxi estacionou, Jon retirou algumas notas de sua carteira, entregou ao motorista e saiu apressado. Ele precisava encontrá-la.
***
Valentin saiu de sua sala confuso pelo seu comportamento. Era impossível negar a si mesmo o que fizera e o que estava prestes a fazer. Ele percebeu estar descontrolado. Apertou o botão do elevador sentindo o olhar de Vanda em suas costas, por mais que quisesse perguntar sobre Jessy, optou pelo silencio. Ele precisava de tempo. Tempo para entender o que estava acontecendo com ele. Assim que se viu sozinho no elevador rumo a garagem, escutou o seu celular tocar. A contragosto atendeu e escutou a voz histérica de sua mãe do outro lado da linha.
–Onde esta? – Grace perguntou alterada – tentei falar com você e...
–Não estou lhe escutando direito – Valentin disse sem paciência, desligando em seguida. A cada instante que se passava, ele se via ainda mais solitário e perdido em sua vida. –Eramos o Yin e o Yang, meu irmão. Um equilíbrio perfeito. Porque desistiu de tudo por ela? – se perguntou inquieto. A cada instante sentia a alegria de sua vida esvaísse por completo. Entrou em seu carro, segundos depois, e dirigiu sem rumo. Ele precisava pensar e aquietar os seus pensamentos. Sem perceber guiou o seu carro para a parte mais afastada da cidade parando, uma hora depois, próximo da praia. Uma praia vazia e fria. Saiu do carro, encostou-se no capô e ficou apreciando a paisagem, a qual lhe dava uma sensação de nostalgia. Respirou profundamente afim de colocar seus pensamentos em ordem. O vento batia nos cabelos dele lhe transmitindo uma boa sensação. Abriu os botões restantes da camisa e em meio a pensamentos confusos, se viu retirando as coisas de seus bolsos, colocando-os embolado em sua camisa. Deixou tudo próximo ao carro e foi em direção ao mar. Ele sabia o quanto a água estaria gelada. Ele sabia o quanto seria doloroso, mas nada disso o impediu de seguir adiante. Assim que seus pés tocaram na água gelada, seu corpo se arrepiou. O seu instinto dizia para se afastar, mas ele prosseguiu. Ele precisava fazer isso para se punir. Ele precisava fazer isso para se sentir vivo. A cada parte que a água gelada tocava de seu corpo, um sentimento diferente dissipava-se dele. Continuou a andar em direção a parte mais funda. A sua respiração começou a se tornar difícil e o seu coração bater mais devagar. Fechou os seus olhos para sentir a sensação paralisante com mais força. Ele não queria se mover ou nem respirar. Ele queria sentir ate onde seria capaz de ir. Ele precisava disso. Aos poucos os seus pensamentos tornaram-se mais claros e quando saiu da água, tremendo de frio, soube o que deveria fazer.
***
Grace olhou para o seu celular inexpressiva. Aquela era a primeira vez em que Valentin se comportava de maneira tão imprudente para com ela. Olhou para Luiza, a qual observava a reação dela com curiosidade. Aos poucos ela começava a entender o modo de Valentin agir e isso a encantava de sobremaneira. Luiza sorriu levemente ao se levantar do sofá da casa de Grace.
–Ele não vem, então é melhor eu ir ate ele – tornou sincera – não se preocupe. Acabaremos nos dando bem.
–Não tenho duvidas sobre isso.
–ótimo. Irei primeiro então – deu as costas dirigindo-se para a porta quando escutou o seu nome, virou-se e sorriu.
–Daqui a algumas semanas irei anunciar o seu noivado.
–Acho mais prudente anunciar quando Valentin e eu estivermos...nos dando melhor.
–Isso poderá demorar.
–Não se preocupe. Basta me dar apenas..algumas semanas – disse confiante. Viu Grace assentir a contragosto, o que fez Luiza sorrir. Despediu-se e foi para a saída. Ela estava ansiosa para se encontrar com Valentin.
Luiza chegou ao hotel Magno ansiosa. Caminhou segura de si ate a sala de Valentin, sem esperar pela palavra de Vanda, a qual tentou falar algo, mas assim que Luiza abriu a porta do escritório de seu noivo, encontrou tudo vazio e bagunçado.
–Onde ele esta? – Luiza perguntou sem olhar para trás de si, sabendo da presença de Vanda.
–Ele saiu.
–O que houve aqui?
–Isso é particular, senhorita.
–Particular? – sorriu ao virar-se – sabe que esta falando com a futura senhora Magno?
–Presumo que sim – confirmou sem paciência – entretanto não tenho permissão para falar de assuntos internos com a senhorita.
–Entendo. Diga a Valentin que virei falar com ele, hoje ainda.
–Creio que o Senhor Magno não retornará hoje.
Luiza suspirou profundamente ao olhar para Vanda com desprezo. Sem falar nada, passou pela secretaria de Valentin e foi embora da mesma forma que entrou.
–Algo me diz que isto é apenas o começo – Vanda murmurou ao fechar a porta da sala de Valentin e retornar para a sua mesa.
***
O banheiro encontrava-se vazio e silencioso, apenas uma pessoa olhava o seu reflexo pelo grande espelho. Os olhos de Jessy estavam avermelhados, entretanto o que ela tanto olhava era para o seu estado. A cada dia que passava, a sua palidez diminuía e suas olheiras aumentavam. Sorriu triste ao perceber o quanto a sua vida estava se complicando após a morte de Victor. Pensou em seu pai e com um aperto em seu coração, deu-se conta que talvez, apenas talvez, teria que se acostumar com aquela solidão que a consumia. Olhou para o aparelho que repousava em cima da pia de mármore, e sentiu uma vermelhidão tomar conta de seu rosto ao recordar-se do que pedira a Jon.
–Eu devia estar mesmo desesperada – murmurou ao fechar os olhos, abrindo-os em seguida ao escutar o barulho de seu aparelho. Olhou para o visor expondo uma expressão calma na face alternando com a temerosa. Atendeu e logo escutou a voz aflita de Jon. – Sim, estou bem. Me perdoe por.. Onde estou? – repetiu a pergunta que ele lhe fez com a voz suplicante – No hotel. Onde? No toalete do penúltimo andar. Sim, estou aqui dentro. – ela escutou o barulho do celular sendo desligado e antes que pudesse entender o que acontecia, a porta do banheiro abriu dando espaço para Jon, o qual demonstrava sinais de cansaço em sua face. Ele andou ate ela e a abraçou fortemente.
–Graças a Deus esta bem – murmurou próximo ao seu ouvido ao sentir o calor de seu corpo – eu pensei..pensei que..
–Veio por mim? – indagou ao sentir o seu abraço ficar ainda mais apertado contra o seu corpo. A respiração dele fazia se sentir calma e ao sentir o calor do corpo dele, relaxou. Jon sempre conseguia deixá-la calma. – então..
–Sim, eu vim por você e vou lhe proteger a partir de hoje. Basta me aceitar e eu prometo não lhe deixar.- aos poucos Jon sentiu o corpo de Jessy relaxar. Para ele, aquele momento era o mais feliz de sua vida. Ela estava aceitando-o.
Jessy moveu os seus braços, retribuindo o abraço dele. Naquele banheiro, no penúltimo andar do hotel Magno, algo estava se fortalecendo. Um casal permaneceu abraçado como se apenas eles existissem.
“Vou me deixar ser acalentada por ele. Ficarei parada, apenas.. apenas sentindo esta sensação. A quanto tempo não me sinto assim?” Jessy se perguntou ao fechar os olhos.
–Jessy? – Jon a chamou, despertando-a de seus pensamentos ainda abraçado a ela – acho que.. esta na hora de me contar o que esta havendo. – a sentiu ficar tensa em seus braços, mas não a afastou de si e nem permitiu que ela fizesse – eu quero lhe proteger, mas não posso fazer isso sem saber o que esta acontecendo. Não posso lhe proteger apenas com minha vontade.
Jessy escutou verdades, entretanto ainda não sabia como falar a ele. Suspirou ao tentar se afastar dele, sem sucesso.
–Jon..eu..
–Não precisa se esforçar se não quiser falar – lhe assegurou com um sorriso sem graça na face – mas saber de seu passado, iria me deixar feliz e apto para lhe proteger, pois agora...nao sei contra quem lutar.
–Contra quem lutar.. – repetiu as palavras dele com um sorriso frio nos lábios – sim.. é quase uma guerra, todos os dias. Uma guerra..
–Que você travava sozinha, agora tem a mim.
–Sim.. Parece que tenho – murmurou inebriada pelo aroma dele. – eu..eu..
–Você.. – a incentivou.
–Ainda o amo – revelou segurando as lagrimas – ainda amo Victor, o homem que morreu por me amar demais. O homem que morreu por amar uma pessoa fraca como eu. – Jon permaneceu em silencio a espera da confissão dela, a qual surgiu em forma de lagrimas e múrmuros – Ele.. se matou porque não pudermos ficar juntos e...de alguma forma.. o seu irmão..
–Irmão?
–Ele.. me odeia tanto quanto eu me odeio por isso. O ódio que sinto de mim mesma, não é nada ao ódio que ele senti por mim.
–Esta me dizendo que..
–Provavelmente é o que esta pensando. A cada dia que passa, deixo a minha vida em suas mãos. A cada dia, entrego a minha felicidade a ele. Estou sofrendo em suas mãos para que ele me perdoe e eu acabe me perdoando. Estou errada em querer me perdoar? Estou errada em..
–Sim, você está – Jon a interrompeu sério, afastando-a de si. Olhou em seus olhos, incrédulo – como pode achar que o perdão que busca estaria no sofrimento? O irmão dele é apenas outro sofredor. Não pode achar que sofrer pelas suas mãos irá lhe trazer algum alento.
–Nada é tão fácil. A dor que eu senti vem diminuindo, pouco a pouco, diante de meu sofrimento. Isso não é algo? Eu não posso continuar com isso ate me sentir bem?
–Você...esta tão desesperada assim? Tão desesperada ao ponto de se sacrificar por um perdão?
–Sim, eu preciso disso para seguir em frente.
–Oh, minha querida, eu vou lhe ajudar – Jon disse emocionado ao puxá-la para o seu corpo, abraçando-a novamente. – Vou lhe ajudar a perceber que não precisa disso. Tenho certeza que não teve culpa pelo que aconteceu. Jessy escutou suas doces palavras, imóvel. Por mais que ela se sentisse tranquila e em paz ao seu lado, não conseguiu ter estes mesmos sentimentos diante das palavras dele.
“O que há comigo afinal?” ela se perguntou. “Será que esta na hora de deixar a dor para trás e seguir em frente?”
***
Valentin parou o carro em frente a sua casa, esboçando um sorriso sutil ao ver Alejandro com os braços cruzados logo em frente ao portão. Desligou o carro e saiu do mesmo esboçando uma expressão tranquila na face. Caminhou ate onde ele estava e parou em sua frente, esperando que seu amigo falasse algo.
–Onde esteve? – Alejandro indagou ao vê-lo com uma expressão tranquila na face. – Não estava..
–Estava sozinho, não precisa se preocupar, mamãe. – gracejou ao retirar a chave do bolso - vai querer falar sobre o que viu mais cedo, certo?
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