O som da aliança batendo no mármore foi baixo, mas ecoou no silêncio tenso do apartamento.
Arthur olhou para o anel, depois para o rosto impassível de Clara. Uma fúria fria tomou conta de seus olhos.-
—Coloque isso de volta.
Era uma ordem, não um pedido.
—Não. Acabou.
—Eu disse que não. Minha avó nunca aprovaria um escândalo.
Ele se agarrava a Dona Helena como um escudo, sem saber que o escudo já havia se partido. Ele acreditava que controlava o tabuleiro, mas Clara tinha acabado de virar o jogo.
—Esse é um problema seu, não meu.
Na manhã seguinte, o bip insistente de seu pager a acordou antes do amanhecer. Emergência no Santa Catarina. Código vermelho.
Vinte minutos depois, ela estava na sala de trauma, o cheiro de sangue e medo no ar. O paciente era um operário da construção civil. Um vergalhão de aço tinha atravessado seu capacete e seu crânio, saindo perto do olho.
Era uma imagem do inferno. A equipe de emergência estava paralisada.
Isabela Ferraz, como chefe do departamento de cirurgia, estava presente. Mas ela se manteve à distância, o rosto pálido e esverdeado.
—Meu Deus... — ela sussurrou, a mão cobrindo a boca. — A perda de massa encefálica... não há o que fazer.
—Há sempre o que fazer.
A voz de Clara cortou o pânico como um bisturi. Ela já estava vestindo as luvas, os olhos analisando cada detalhe da lesão com uma intensidade feroz.
Clara trabalhou com uma concentração que beirava o sublime. Suas mãos, que haviam tremido ao jogar fora uma foto, eram agora de uma firmeza sobre-humana. Ela removeu fragmentos de osso, controlou hemorragias e, milímetro por milímetro, extraiu a barra de aço da cabeça do homem.
O suor escorria por sua testa, entrando em seus olhos. Seus músculos gritavam de exaustão.
Finalmente, após uma eternidade, o último ponto foi dado. O monitor cardíaco mostrava um ritmo estável e forte.
A enfermeira chefe olhou para ela, os olhos cheios de admiração.
—Doutora... foi um milagre.
Clara apenas assentiu, sentindo o peso de cinco horas de tensão começar a desabar sobre ela. Ela se afastou da mesa.
Ela cortou o último fio de sutura.

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