Só Minha! Volume 1 da Trilogia Doce Desejo romance Capítulo 10

No caminho até a escola, Nicole se ajeitou no banco e reparou na forma como Alexander encostou o cotovelo ao volante e tocou no lábio inferior. Atento ao semáforo, ele apoiou o queixo com covinha vertical nos dedos longos, olhou de soslaio e esboçou um sorriso sedutor ao vê-la tocar nos cabelos e expor o pulso enfeitado por uma pulseira fina com um pingente de coração.

― Tudo bem?

― Sim!

― Não se preocupe, chegaremos a tempo.

Ela cruzou as pernas, sentiu o corpo que contraia sob o olhar dele. Inclinou a cabeça para trás e encostou-se no banco, os seus pensamentos vagavam.

Aquele homem à sua frente parecia bem mais maduro e decidido, estava certa que ele só a desejava por uma, talvez até duas noites… tinha certeza que logo ele a deixaria para voltar à sua vida na França. Ela abriu os olhos quando o carro deu ré. Alexander manobrou e estacionou em uma vaga.

― Chegamos!

Nicole evitou o contato visual, tirou o cinto de segurança e pegou a bolsa. Abriu a porta do carro, mas não conseguiu sair. Ele expandiu o tórax com ar de superioridade e sentiu a maciez da pele de Nicole quando se esticou e fechou a porta do carro.

― Nicky, se você me der mais uma oportunidade, eu posso…

― Não! ― Fitou a carranca que a encarava. ― Sofri demais enquanto você esteve fora do país e não quero passar por isso de novo.

― E eu sofri tanto quanto você! ― Ele cerrou os olhos com uma fisionomia de desgosto. ― Fiquei arrasado quando o Marcello contou que você estava com outro.

― Isso é culpa sua! Você preferiu acreditar no Marcello a confiar em mim. ― Cuspiu a verdade ― Levei muito tempo para colocar a minha mente em ordem e cuidar do meu filho.

― Eu só quero uma chance.

― Existem milhares de mulheres que dariam tudo para casar com você.

― Eu só preciso de você!

Alexander pegou a mão dela, a levou até os lábios e beijou o dorso.

― Não! ― Ela puxou a mão. ― Estamos atrasados! ― Nicole verificou a hora no relógio.

― Calma!

Alexander foi para o outro lado, abriu a porta do carro e esperou até que Nicole saísse. O sorriso cortava-lhe o rosto de um lado a outro ao lembrar das manias dela. A síndrome do coelho branco a deixava em constante atividade. Nicole sempre se apressava para fazer alguma coisa.

Na sala de aula, o livro do dia da leitura era *O Pequeno Príncipe, de Exupéry. Alex lia o trecho da conversa entre a raposa e o príncipe. Um homem observava através do vidro da porta com uma expressão de orgulho no olhar. Alexander abriu a porta bem devagar e entrou na sala sob o olhar atento da turma.

― Espere um minuto, por favor! ― Professora Rivera interrompeu a leitura ao ver Alexander passar pela porta. ― Posso ajudar, senhor?

― Desculpe, eu vim fazer uma surpresa para o meu filho.

― Você veio!

A criança correu até o pai e o abraçou.

― É para você!

Alexander entregou a caixa com um embrulho colorido. O menino rasgou o papel e retirou o veículo com o controle remoto. Exibiu um sorriso de orelha a orelha.

― Obrigado! ― Abraçou a perna de Alexander e olhou para a professora. ― Esse é o meu pai. Ele voltou da viagem.

Os cochichos ecoaram na classe, todos ficaram surpresos. A maioria das crianças duvidava das histórias que o menino contava sobre o pai, até mesmo a professora.

― Bem-vindo, doutor Bittencourt! ― As pupilas da professora dilataram. ― Seu filho fala com orgulho do senhor.

― Posso levar o meu filho?

― Claro! Faltam dois minutos para terminar a aula. Foi um prazer em conhecê-lo, doutor!

O menino acenou para mãe que estava em pé do outro lado da porta. Alex desceu do colo do pai, pegou o livro e guardou na mochila às pressas. Correu para a porta onde seus pais o aguardavam.

― Hey, devagar Alex! Cuidado para não se machucar! ― Professora Rivera o advertiu.

Enquanto passeavam pelos corredores, os olhos claros de Alex brilhavam sempre que ele apresentava o pai para algum funcionário, ou amigo, da escola.

― Vamos mamãe! ― Alex a apressou. ― Quero mostrar a nossa casa.

― O quê? Hoje não dá ― falou baixo. ― A nossa casa é pequena.

― Se eu couber lá, ― ele manteve a postura ereta em seu 1,85 m de altura ― então, não tem problema!

Caminharam juntos até o local onde o carro estava estacionado. O jeito como Nicole cuidava do filho o fascinava. Ela era como um baú de tesouro que mostrava aos poucos o que havia em seu interior e a cada nova descoberta, sentia que ela ainda lhe pertencia.

Alexander abriu a porta do carro. Segurou até que Nicole entrou, o corpo delineado naquela blusa verde e a calça lisa preta fazia a curva no contraste entre a cintura e o quadril, era como um violão que pedia para ser tocado.

― Está perfeita!

― O quê?

Nicole indagou enquanto se sentava no banco do automóvel.

― Nada, pensei alto. ― Alexander foi para o outro lado e assumiu a direção. ― Então, vamos lá! ― Colocou o cinto.

― Owee! Vamos para casa com o meu pai. ― O menino levantou os braços.

Em uma das ruas do subúrbio do Rio de Janeiro havia casas com acabamentos lindos.

O GPS indicou a chegada no instante que Alexander vislumbrou um belo imóvel de dois andares com um portão de garagem automático e um lindo jardim enfeitado com rosas amarelo-ouro.

― É sua casa? ― Ele apontou para o outro lado da calçada.

― Não, pai! É aquela ali.

Alexander olhou na direção apontada pelo filho e viu o portão com algumas ferrugens. Em volta tinha um muro branco e baixo que cercava a pequena varanda. A construção de alvenaria era antiga, parecia ter sido feita de material barato.

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