Em uma sala reservada, a família Bittencourt aguardava a leitura do testamento. Ricardo e esposa sentaram na cadeira do lado esquerdo. Todos estavam apreensivos, não sabiam com quem estava o testamento.
Do outro lado, Alexander verificou a hora no Rolex em aço e voltou a atenção para a porta que se abria. Tinha uma expressão de desagrado ao perceber que Nicole não apareceria.
― Jenny, onde está a Nicky?
― Oi, Alexander! Bom dia! ― Avaliou a sala com calma antes de responder. ― Ela não quis vir.
― O advogado disse que ela deveria participar.
― Ela tinha algumas coisas para resolver no trabalho antes de tirar férias e daqui a pouco ela pegará o Alex na escola. Sabe como ela é com os horários!
― Com licença! ― Lana se aproximou deles e puxou Jenny para o lado. ― Baby, precisamos entregar o documento ― falou baixo.
Junto com o advogado, Lana e Jenny apresentaram o documento lacrado. O envelope estava da mesma forma como foi elaborado.
A partilha dos bens era dividida entre os únicos herdeiros. Sophie deixou 30% de seus bens para o bisneto, Alex. Os bens deveriam ser administrados por Nicole Moraes, a mãe, até que a criança completasse 18 anos.
Dentre os bens citados, a testadora deixou um valor considerável em espécie para ajudar nos estudos do bisneto e uma casa de veraneio em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
― Essa criança não pode receber os bens citados no documento. ― Louise aumentou a voz. ― O Alexander nem sabe se esse garoto é filho dele.
Um dos advogados, que Sophie designou para representar Nicole e o bisneto, pegou uma pasta com o teste de D.N.A. realizado na criança no sétimo mês de vida. Segundo o advogado, Eliel Stein, a testadora trouxe alguns fios de cabelo de Alexander na última vez que o visitou na França. O teste confirmou que a criança citada no testamento era filho legítimo de Alexander Bittencourt, portanto tinha direito ao bem citado no testamento.
Os outros 70% dos bens e patrimônios de Sophie foram divididos entre o filho Ricardo e o neto Alexander. A mansão ficou como um bem de consumo para Ricardo e sua esposa, assim como um prédio com salas comerciais na Zona Sul do Rio de Janeiro e duas casas de veraneio no litoral do Rio.
Uma das cláusulas do documento fez Alexander se mexer na cadeira. Ele deveria contrair matrimônio e permanecer casado por pelo menos sete meses com residência fixa no Brasil.
Caso o neto concordasse, então, ele herdaria o efetivo controle do Hospital São Miguel. Se por alguma razão Alexander discordasse, as ações seriam divididas entre Ricardo e os colaboradores mais antigos do hospital.
Logo depois da leitura do testamento, os advogados insistiram para que Alexander recorresse e pedisse a anulação do documento. No entanto, ele assinou alguns papéis, tirou os óculos e coçou a vista com a palma da mão.
― Isso é tudo! ― Guardou a caneta. ― Não quero mais falar sobre isso. Não por hoje!
Alexander desconversou e agradeceu ao advogado que mencionou que a responsável pela criança deveria assinar os papéis para administrar os bens herdados pelo filho. Ele tentou se afastar, estava com pressa de sair daquele lugar.
― Jenny, espere! A Nicky trabalha em Botafogo, certo?
― Sim!
― Preciso falar com ela.
― Alexander, não contamos a ela sobre o documento. Sua avó exigiu segredo sobre o testamento.
― Eu só quero falar sobre o meu filho.
― Pensa bem no que você falará. A Nicky sempre foi batalhadora e não aceitará um centavo dessa herança.
Alexander fingiu compreender os argumentos de Jenny, mas a expressão se mantinha severa.
― Licença! ― A voz tranquila de Lana interrompeu a conversa. ― Baby, meu plantão começa em uma hora, vamos!
Apesar de perceberem a frustração no modo como ele agia, Jenny e Lana se despediram e saíram às pressas para cumprir mais um plantão no hospital.
Algumas horas depois que organizou o escritório e assinou os papéis das férias, Nicole verificou o estoque, fez o pedido dos produtos que faltavam e deu algumas instruções à gerente da loja que a substituiria por quinze dias. Pegou o celular e verificou mais uma ligação do número desconhecido e rejeitou a chamada.
Ela saiu do estabelecimento comercial depois de se despedir dos colegas de trabalho e seguiu até o outro lado da calçada. Prendeu o cabelo no alto da cabeça enquanto olhava o preço de um carrinho de controle remoto através da vitrine da loja Kid's play.
― É para o Alex?
As batidas do coração aceleravam. O rosto corou como um rabanete. Ela mirou o reflexo na vitrine, a presença de Alexander trazia ao cérebro uma onda de sensações.
― Oi! ― Virou-se para ele. ― Sim, eu vou comprar!
― Espere aqui!
― Não! Você não precisa fazer isso.
― Eu nunca dei nada para o meu filho. ― Foi até a entrada da loja de brinquedos. ― Eu já volto!
Através do vidro, Nicole observou a vendedora encantada com o cliente, as pupilas da bela morena, de pele mais escura, saltavam. A funcionária da loja sorria e piscava sem parar. Imaginou se aquela jovem reagiria da mesma forma se ele ainda fosse aquele rapaz esguio e comprido de alguns anos atrás.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Só Minha! Volume 1 da Trilogia Doce Desejo