Alexander andava pelo enorme corredor do segundo andar à procura de Louise, bateu à porta de uma das suítes, todavia não obteve resposta. Pegou o telefone que vibrava no bolso da calça, acelerou os passos pelo corredor até chegar à escada, tocou na tela e atendeu.
― O que você quer, Josephiné?
― Allô, mon amour!
― Josephiné, não existe mais nada entre nós! Lembra?
― Oh, mon chéri! Você ainda está magoado? Esquece isso! Só liguei para saber como você está?
― Estou muito bem! Onde está a Marcelly?
Alexander descia as escadas com cautela e falava baixo ao telefone.
― Quero falar com ela!
― Marcelly está na casa dos meus pais. Como você viajou para o Brasil, eu tirei algumas semanas de férias, estou na Grécia com alguns amigos do escritório. Quando você voltar para casa, eu estarei te esperando.
― Josephiné, nós terminamos! O único motivo que me obriga a ter contato com você é a Marcelly. Só me ligue se o assunto for sobre a minha filha.
― Aposto que você já encontrou a tal da “Nicky”! ― Ela enfatizou com desdém.
― Isso não é do seu interesse!
― Ela estava com o marido? O filho dela deve ser tão fofo! ― falou, a voz sarcástica.
― Adeus, Josephiné! ― Tocou na tela e encerrou a ligação.
Ele andou pelos cômodos da casa à procura de Louise. Ao retornar à sala de estar, prosseguiu pelo corredor do primeiro andar até o escritório e encontrou um dos choferes saindo da Biblioteca.
― Oi! Daniel, boa noite! Você viu a minha mãe?
― Olá, doutor! A sua mãe está na biblioteca, acabei de falar com ela.
― Obrigado!
Alexander bateu e esperou. Da porta ouvia-se o som de uma missa fúnebre em ré menor. Ele abriu a porta devagar. A sala de leitura tinha um espaço grande com uma base arquitetônica clássica. Os arcos e as filigranas no teto branco, e alguns móveis de madeira maciça em tom verniz davam charme ao ambiente. Nos cantos havia duas enormes estantes com diversos livros organizados por assuntos e quatro pequenas estantes nos cantos, próximo à janela ao estilo colonial.
Louise estava sentada numa poltrona sofisticada com acabamento capitonê em estofado vermelho.
Ao fundo tocava *Réquiem, de Mozart. A boa música e a leitura do clássico *Assassinato no Expresso do Oriente a distraíram. Ela encerrou o último capítulo, fechou o livro e cerrou os olhos. Uma sensação de que alguém a observava a deixou inquieta. Abriu os olhos e jogou o livro para o alto ao vê-lo parado na porta.
― Que susto! ― Louise levou a mão ao peito.
― Desculpe! Bati à porta.
Alexander caminhou até a mãe. Esticou o braço para pegar o livro e examinou o título.
― Bom gosto!
― Adoro os livros da Agatha Christie.
Louise pegou o exemplar e colocou sobre a mesa de centro.
― Você já leu?
― Não! Falo da música clássica. ― Ele sentou no sofá de frente à Louise.
― Eu sempre apreciei Mozart. ― Tomou um gole do uísque escocês. ― O que o traz aqui? Desde que você voltou, não parou em casa.
― Quero saber o que aconteceu no dia do acidente da Nicky.
― Se quer falar sobre aquela mulher, então está perdendo o seu tempo. Devíamos falar sobre o seu casamento com Josephiné.
― Josephiné e eu terminamos.
― Lamento que o seu relacionamento com Josephiné não tenha dado certo. Gosto dela, acho que ela seria a mulher ideal para você.
Ele levantou e serviu-se com uma taça de Royal Salute.
― Não, ela não é! Josephiné sempre soube que eu não a amava, só insistia nesse relacionamento pela Marcelly.
Louise colocou a taça na mesa de centro em formato oval. Pousou as mãos sobre o joelho.
― O que aconteceu nesta casa no dia do acidente? ― Os olhos apertados a examinaram. ― A senhora e a Joanna viviam brigando com a Nicky. ― Engrossou o tom de voz. ― Dá para notar o quanto ela fica com medo de andar por esta casa.
Louise ficou de pé e caminhou até a janela, ajeitou a cortina que imprimia um aspecto sofisticado.
― Eu não empurrei a Nicky, se é isso que você quer saber. Eu sempre quis o melhor para você, mas não a ponto de machucar alguém, muito menos uma mulher grávida.
Faltavam alguns segundos para os ponteiros marcarem 11 da manhã, a mente de Louise estava presa ao passado. Despertou dos devaneios quando Alexander ficou em pé.
― Estou de cabeça quente, vou descansar um pouco. Amanhã verei o meu filho.
― Você realmente acredita que esse garoto é seu filho?
― Eu não tenho motivos para desconfiar.
― Faça como quiser. ― Louise seguiu até a porta. ― Já chega de conversa por hoje! Preciso me preparar para a aula de Pilates. ― Olhou para o relógio com pulseira de ouro e saiu da biblioteca.
Os mocassins pretos batiam no assoalho de madeira de um lado a outro, a ideia de que seu melhor amigo teria machucado Nicole ainda o incomodava.
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é um dos melhores lugares para fugir do sol e para estar no meio da natureza. Alex corria por um dos imensos corredores de palmeiras-imperiais cortados por uma linda fonte do século XIX.
Nicole admirava as palmeiras e sorria com aquele espetáculo da natureza. O flash da câmera capturava cada movimento dela. Alexander se aproveitava da distração de Nicole para registrar os momentos espontâneos.
Eles encontraram uma área com um parquinho, mesas e bancos. Nicole cobriu a mesa com a toalha de xadrez e organizou as bebidas refrescantes e os lanches. Aquele contato com diversos tipos diferentes de vegetação e animais era extremamente agradável. Durante toda a tarde Alex corria e brincava à vontade com o pai enquanto respirava o ar puro.
Os tons de violeta aos fins de tarde em contraste com o laranja anunciavam o pôr do sol. Nicole começou a recolher o restante da comida e dobrou a toalha de xadrez verde.
― Nós já vamos? ― Alexander se aproximou da mesa onde Nicole guardava os lanches.
― Sim, está ficando tarde! ― Nicole voltou o olhar para a cesta de piquenique.
― Pronto! ― Alex se aproximou e esticou a mão e entregou a câmera fotográfica.
― Meu anjo, pegue os seus brinquedos. ― ordenou a voz mansa de Nicole. ― Temos de voltar para casa e trabalhar no seu projeto para a feira de ciências.
― Não quero voltar para casa, mãe. Ficaremos mais um pouco, por favor!
O menino tirou os óculos de armação infantil e passou a mão nos olhos cheios de lágrimas.
― Já fiquei muito tempo longe do meu pai, não quero ficar sem ele. ― Agarrou-se à perna de Alexander.
― Hey, eu não vou a lugar algum! ― Tinha determinação na voz. Ele se abaixou na altura do filho. ― Lembra da nossa conversa no parquinho, eu cuidarei de você e da sua mãe. ― Enxugou a lágrima no rosto da criança e fez cócegas até Alex sorrir.
A paisagem perfeita era extremamente atrativa. Nicole resolveu ficar mais um pouco para animar o filho e, depois de muita insistência, aceitou passear pelas palmeiras imponentes próximo ao lago com algumas vitórias-régias que lembravam uma pintura.
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