Naquela tarde, a chuva de verão chegou em uma nuvem de ventania. O automóvel prata se aproximava da casa luxuosa.
A fachada toda branca neoclássica no estilo francês possuía um charme provençal na mansão construída em uma das áreas nobres do Rio de Janeiro. Da janela do carro, Nicole olhou a edícula da área externa em frente à piscina. Aquele espaço remeteu à infância. As brincadeiras com os únicos amigos e as refeições na mesa de madeira rústica.
― Eu preciso conversar com meu pai. Não vou demorar, eu prometo!
Ela concordou com a cabeça, a mente estava em outro lugar. Tirou o cinto de segurança e abriu a porta em silêncio. Estava a ponto de sair do carro, mas parou quando ele esticou o braço e fechou a porta impedindo-a de sair.
― Você está tão quieta! ― Manteve o torso inclinado na direção dela. ― Desde que atravessamos o portão você não disse uma palavra.
― Só estou pensando sobre como será a nossa vida nessa casa. ― Balançou as mãos.
― Nicky, para! ― A voz grave interrompeu. ― Não pense demais! É só por um tempo, eu já coloquei meu apartamento e a casa em Saint-Foy-lès-Lyon à venda.
― Nós poderíamos morar lá! ― Sorriu ao propor.
― Não! ― Murmurou, o tom desarmônico. ― Eu não quero voltar para aquela casa.
O olhar taciturno não ocultou o desconforto por tocar naquele assunto, não podia permitir que o passado destruísse os planos de uma vida feliz em família. Ele removeu o cinto de segurança e saiu do carro. Foi até o outro lado e abriu a porta.
― Vamos! ― Ajeitou os óculos com o dedo indicador.
Ambos caminharam até a entrada principal em silêncio, aqueles cômodos amplos ainda causavam uma certa repulsa em Nicole. Ela deu alguns passos à frente dele e se afastou.
― Nicky, espera! ― Ele a alcançou. ― Não vamos brigar por besteiras. Quer me esperar na sala de estar?
― Não! ― Virou o rosto quando ele tentou beijá-la. ― Eu vou tomar um banho e descansar um pouco.
― Eu adoro quando você fica brava.
Alexander chegou mais perto e colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. Aproximou o quadril e a segurou pela cintura apertando o corpo dela.
― Hoje você não dorme, gata! ― Segurou a orelha com os dentes e puxou com delicadeza.
Nicole apertou as pernas para aliviar a deliciosa sensação que estremecia por entre as coxas e molhava o tecido de renda da calcinha. O corpo vibrava em resposta às investidas.
― Você precisa de um banho gelado. ― Saiu de perto dele.
― Já vou subir pra te dar um calmante.
Esperou até que ela subisse o primeiro degrau e foi até o escritório onde Ricardo o aguardava junto aos advogados. Depois de quase uma hora, Alexander verificou os papéis, se ateve a alguns dos parágrafos e pediu que advogado corrigisse os trechos sublinhados antes de assinar.
― Ok! Encerramos por hoje! A partir de hoje, qualquer problema com a documentação da empresa, o doutor Ricardo me representa junto a vocês. ― Tinha um ar de determinação na voz. ― Isso é tudo!
Saindo do escritório, Alexander andou com uma certa pressa pelos corredores. Passou pela sala de estar e chamou a governanta que acabava de dar algumas ordens para uma das empregadas.
― Rosa, fez tudo como eu te pedi?
― Sim! Eu liguei mais cedo para falar sobre as flores.
― Não pude atender. Conseguiu resolver?
― O jardineiro lembrou que ela adora tulipas e margaridas.
― Obrigada! ― Subiu as escadas.
Uma trilha de pétalas fazia o trajeto da entrada da suíte até a enorme cama. As flores brilhavam sob a luz branda do lustre que pendia sob a cama.
― Se ele pensa que vai me ganhar com isso, está muito enganado. ― Jogou a bolsa na poltrona.
Em uma das cômodas tinha uma garrafa de vinho branco mergulhada no gelo e ao lado duas taças de cristais. Na pequena escrivaninha de madeira, próximo a um dos castiçais, havia uma bandeja dourada com alguns chocolates suíços. Ela suspirou assim que mordeu um pedaço, o sabor daquele doce era divino.
Caminhou até a penteadeira onde pegou o buquê de tulipas e sentiu o aroma delicioso das flores. Retirou o cartão do envelope branco e abriu.
"Está vendo a mulher no espelho. Ela é a mulher mais perfeita que eu já conheci na vida. E o melhor de tudo é que ela é minha! Só minha!"
― Parece mais calma! ― Os lábios dele se esticaram em uma linha fina ao passar pela porta. ― Eu adoro esses chocolates suíços. ― Mirou o último pedaço de doce que Nicole colocou na boca.
― É gostoso ― confessou depois que mastigou. ― Você sabe como conquistar uma garota.
O olhar extasiado se fixou em Alexander que trancava a porta. Ele caminhou até ela com as mãos no bolso da calça.
― Eu sei como conquistar a minha esposa. ― Corrigiu em um tom sedutor. ― Você entende a letra desta música?
A canção "You are the sunshine of my life" ecoava pelo quarto da suíte. Ele sabia que aquela canção da playlist era uma das favoritas de Nicole.
― Um pouco! ― Colocou o buquê sobre a penteadeira e pegou um guardanapo para limpar as mãos. ― Já tocou mais de uma vez.
Ele a envolveu pela cintura e entrelaçou os dedos dela com a outra mão.
― O que você está fazendo? Eu não sei dançar!
― Relaxa! Só me acompanha.
Os corpos deslizavam e giravam pelo quarto no ritmo da música. Ele deu um passo e esperou, conduziu o corpo dela em outro passo.
― Você está tentando me seduzir?
Alexander escorregou a mão pelas costas dela até a altura do quadril e apertou-lhe o bumbum. Jogou os cabelos dela para trás dos ombros e depositou beijos do pescoço até a orelha.
― Humm! Sou tão óbvio assim?
Ele se afastou, esticou o braço e a girou. Puxou- a mais uma vez, encostou o quadril contra a barriga e permitiu que ela sentisse o volume que se formava no tecido liso da calça. Firmou os braços nas costas e a segurou à medida que inclinava o corpo para trás. Os lábios se tocavam, podia sentir o calor da língua dele chegar à garganta. Com muito cuidado, levantou o corpo dela.
― Tem mais uma surpresa!
Pegou a caixa com fita branca sobre a cama e a entregou. Esperou até que Nicole desatasse o nó do laço, tirou a tampa e o papel que cobria as peças de rendas vermelhas.
― Talvez eu não fique ― olhou para um ponto fixo como se procurasse por uma resposta ― bem nesse tecido.
― Você é perfeita pra mim! ― Agarrou a cintura do corpo curvilíneo. ― Vista pra mim, por favor!
― Primeiro vou tomar um banho, depois eu vou pensar no seu caso. Acho que não é o meu tamanho.
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