Enquanto sai da empresa, Marina sente que as palavras de Victor ainda ecoam em sua mente como um peso que ela não consegue afastar.
— Por que ele me odeia tanto? — sussurra para si mesma, sentindo o coração apertado.
Sentada no ponto de ônibus, ela observa o céu escurecendo rapidamente. Nuvens densas se acumulando no horizonte anunciam a iminente chegada de uma tempestade. O vento frio começa a cortar o ar, trazendo uma sensação de inquietude.
— Justo hoje que esqueci o guarda-chuva… — murmura, com um suspiro resignado. — Eu só queria ter uma vida normal, será que é pedir demais?
Seu celular vibra, quebrando o silêncio ao redor. O nome de Sávio aparece na tela.
“Quero te ver hoje”
Ao ler a mensagem, fica em dúvida. O polegar paira sobre a tela enquanto decide se responde de imediato ou não.
Mas, depois do caos emocional do dia, ela opta por guardar o celular na bolsa, voltando a encarar o céu, agora carregado de nuvens escuras. A brisa fria toca suavemente sua pele e, sem perceber, sua mente retorna a Victor. A pressão das lembranças é pesada demais, e uma lágrima solitária rola por seu rosto, sendo uma confissão silenciosa de sua exaustão.
— Por que aquele homem não me deixa em paz? — murmura, tentando compreender os sentimentos conflitantes que ele desperta nela.
De repente, um carro luxuoso e familiar para ao seu lado. Reconhecendo o veículo de imediato, seu coração b**e um pouco mais forte. Ela sabe muito bem quem está ali, mas a presença inesperada a desestabiliza. Lentamente, o vidro do carro desce, revelando o rosto sério de Victor. Seu olhar é penetrante e, por um momento, Marina se pega observando os traços fortes de seu rosto.
“Por que o acho tão bonito?”, ela se pergunta, incapaz de desviar os olhos dos lábios dele.
— Entra. Eu te levo para casa — ordena com a voz firme, porém surpreendentemente gentil, o que a faz estremecer de surpresa.
— Não precisa, o ônibus já deve estar chegando — responde Marina, tentando resistir à ideia, mesmo que a curiosidade de entrar naquele carro luxuoso cresça dentro dela.
Há algo sedutor na possibilidade, mas também perigoso.
Victor a observa por alguns segundos antes de replicar com a sua voz carregada do tom autoritário que ele traz como uma segunda pele.
— Estou indo na mesma direção. Não me faça insistir.
Marina reflete.
O céu ameaça uma chuva pesada, e mesmo pegando o ônibus, ela teria que caminhar até sua casa debaixo da tempestade. Finalmente, cede.
— Tudo bem — concorda, levantando-se lentamente e entrando no carro.
Assim que a porta se fecha, a realidade a atinge com força.
“Estou sozinha no carro de Victor. Meu Deus, estou sozinha com o Victor no carro dele”, pensa, sentindo seu coração acelerar descontroladamente.
Tentando controlar o nervosismo, ela desvia o olhar para o interior do carro. O couro macio do banco parece se moldar ao seu corpo de uma forma quase desconcertante. O silêncio entre os dois é palpável, denso, enquanto a proximidade de Victor aumenta sua inquietação. Ela começa a estudar os detalhes do carro, em uma tentativa desesperada de focar em outra coisa além da tensão crescente.
— Ele é um verdadeiro cavalheiro. Enquanto eu, sou o demônio que atormenta seu dia, certo? — retruca Victor, com um sorriso sarcástico que, contra sua vontade, a faz sorrir de volta.
— Exatamente — concorda Marina, tentando entrar no mesmo humor que ele.
Victor sorri com a sinceridade dela.
— Se é por isso, eu aceito seu pedido de desculpas — responde ele, com um tom um pouco mais suave, embora o sarcasmo ainda esteja presente.
— Mas que fique claro, estou me desculpando apenas por isso — reforça Marina, decidida a manter sua dignidade.
Victor solta uma risada inesperada. O som é tão raro que Marina se surpreende, e seus olhos se fixam nele por mais tempo do que gostaria. O sorriso transforma-o de uma maneira que a deixa momentaneamente hipnotizada. “Ele deveria sorrir mais”, ela pensa, sem entender por que aquele pensamento a incomoda tanto.
— Você ainda é um enigma para mim, Marina — confessa Victor, desviando os olhos da estrada por um instante para olhá-la diretamente.
— Por que está dizendo isso? — ela pergunta, sentindo a confusão misturar-se à curiosidade.
— Não sei… — murmura, ponderando. Victor queria dizer mais, revelar os pensamentos que lhe rondam a mente, mas se segura. Algo em Marina o intriga profundamente.
Ele observa seus gestos, suas palavras afiadas, sua postura decidida. E, no fundo, teme que, se suas suspeitas se confirmarem, sua decepção será maior do que gostaria de admitir. Então, por ora, ele se limita ao silêncio, aguardando o momento certo para entender melhor quem é essa mulher que o desestabiliza como nenhuma outra.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...