A chuva começa a cair com intensidade, martelando ritmicamente o para-brisa do carro de Victor, formando pequenos riachos que deslizam pela superfície de vidro.
Do lado de dentro, o silêncio pesa no ar, tornando a atmosfera quase sufocante. Marina observa as gotas que escorrem, como se o mundo lá fora tivesse desacelerado, enquanto o som dos limpadores de para-brisa cria um ritmo hipnotizante, cortando o silêncio pesado. O tráfego desacelera, os carros se movem irregularmente, e a cidade, que antes vibrava de vida, agora parece envolta em um sonho confuso, onde cada minuto se arrasta como uma eternidade.
No carro, Marina sente o tempo congelar. A cada movimento dos limpadores, uma camada invisível de tensão cresce no ar, sufocando seus pensamentos.
— Será que vamos demorar? — ela pergunta, quase num sussurro, enquanto observa o trânsito imobilizado.
Victor se acomoda no banco, deixando os seus dedos relaxarem no volante enquanto responde, sem pressa.
— Não sei. É o horário de pico, e com essa chuva, qualquer coisa pode acontecer. — Ele a olha com atenção. — Está com pressa? — Seus olhos encontram os dela com uma intensidade que faz o coração de Marina acelerar.
Ela desvia o olhar, sentindo um leve constrangimento sob aquele olhar penetrante.
— Só quero chegar em casa — confessa, tentando manter a voz firme, embora o incômodo de ser observada a deixe vulnerável.
— Tem planos para esta noite? — Victor insiste, sua voz carrega uma curiosidade que a faz hesitar. Há algo nele que parece querer arrancar cada pedaço de verdade de dentro dela.
Marina pensa na mensagem de Sávio, que ainda não respondeu.
— Talvez… — responde evasivamente, sentindo o peso do olhar de Victor sobre ela, tão intenso que faz seus dedos se entrelaçarem nervosamente no colo.
A pergunta que segue a surpreende desconcertantemente.
— Você tem namorado, Marina?
Ela se vira para ele, atônita. De todas as coisas que ele poderia ter perguntado, essa é a última que esperava ouvir. O silêncio entre os dois se torna quase palpável, denso e cheio de implicações.
— Por que quer saber? — responde, com um meio sorriso nervoso. — Está interessado em mim? — Ela tenta rir para aliviar a tensão, mas Victor não ri.
Ele a observa em silêncio. Seus olhos, como facas afiadas, penetram suas defesas. Marina sente um arrepio subir pela espinha.
— Só estou brincando — diz ela rapidamente, tentando quebrar o gelo, mas sua voz sai trêmula, carregada de uma timidez inesperada. Suas bochechas queimam sob o calor que a invade, e ela se odeia por não conseguir controlar suas reações.
Victor continua a fitá-la com uma calma afiada, e, finalmente, responde com uma voz fria e precisa:
— Não estou interessado, loirinha.
As palavras caem como uma pedra no peito de Marina. O tom indiferente dele a atinge.
Ela sente uma mistura de irritação e constrangimento.
— Não é legal você me chamar assim… — diz ela, com a voz mais baixa, desviando o olhar para a janela, como se quisesse se esconder. — Faz parecer que somos mais íntimos do que realmente somos.
— Eu não me importo — responde Victor com desdém, sem dar a mínima para o desconforto dela.
Por um instante, a indiferença dele a irrita profundamente. Ela cruza os braços, tentando recuperar algum controle.
— Tudo bem. Então não se importe quando eu te der um apelido também — retruca, com um toque de desafio na voz, tentando provar que não será intimidada.
O silêncio entre eles é insuportável. O coração de Marina b**e tão forte que ela quase pode ouvi-lo, suas mãos começam a suar, e o ar ao redor parece mais denso, como se todo o ambiente estivesse conspirando para torná-la mais vulnerável. Victor, percebendo o efeito que causa nela, decide quebrar finalmente a distância entre eles. Com um movimento calculado, ele estende a mão e a coloca suavemente sobre a dela.
O toque é inesperado, e o calor que emana de sua pele desencadeia uma onda de choque que percorre o corpo de Marina. Seu coração dispara e a sensação de ser tocada por ele é tão intensa que ela não consegue pensar em mais nada. A mão dele é firme, mas há uma suavidade escondida ali, algo que contrasta com a imagem fria que ele projeta. Victor se inclina lentamente, sua respiração se mistura ao som suave da chuva que ainda cai lá fora. Quando ele finalmente fala, sua voz está carregada de um magnetismo quase irresistível.
— Você está nervosa… por minha causa?
A pergunta paira no ar, carregada de tensão, e Marina sente como se o mundo ao seu redor estivesse encolhendo. O calor em suas bochechas aumenta e ela tenta, sem sucesso, controlar o nervosismo que transparece em cada movimento.
— N-não… é claro que não… — responde ela, com a voz trêmula, incapaz de sustentar o olhar dele por mais tempo.
Victor não recua. Sua presença continua opressora, dominadora, e Marina sente que cada célula do seu corpo está reagindo a ele, contra sua vontade. O silêncio que se segue é quase insuportável, até que, finalmente, ele se afasta um pouco, mas não sem antes lançar um sorriso malicioso.
— Você é péssima em mentir — diz ele, soltando uma risada baixa, satisfeito com a provocação.
Marina sente o rosto queimar de vergonha. A humilhação e a raiva se misturam dentro dela, e ela cruza os braços, tentando esconder o rubor que toma conta de suas bochechas.
— Você estava me provocando esse tempo todo? — pergunta, com a voz trêmula, ainda tentando processar tudo.
Victor a olha de soslaio. Seu sorriso travesso ainda é presente em seus lábios.
— Talvez… — responde, cheio de diversão. — É interessante ver como você tenta manter o controle.
Marina vira o rosto para a janela, tentando se esconder da enxurrada de emoções que a domina. Ela sabe que Victor percebeu cada pequena reação sua, e isso a deixa ainda mais vulnerável.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...