Lentamente, Marina caminha em direção a Victor, mas o peso dos últimos acontecimentos a faz hesitar. Ela se senta no outro sofá, mantendo uma distância considerável. Victor observa seu gesto, o quanto parece retraída e vulnerável. Ele fecha os olhos por alguns segundos, respirando fundo, tentando organizar os pensamentos e controlar a confusão que o preenche. Sabe que precisa ouvir o que ela tem a dizer, mesmo que as respostas possam parecer confusas. Após um instante, ele se levanta e vai até o sofá dela, sentando-se ao seu lado, mas mantendo uma distância respeitosa.
— Olhe para mim — diz ele, com voz firme, mas com uma suavidade que revela sua compreensão. — Quero que você me diga tudo, olhando nos meus olhos.
Marina ergue lentamente o olhar. Seus olhos azuis, agora vermelhos e inchados, encontram os intensos e profundos olhos de Victor. A dor, o desapontamento e um pedido silencioso de compreensão pairam no ar entre eles.
— Eu nem sei por onde começar — ela murmura, com a voz quase inaudível, num tom de vulnerabilidade em cada palavra. — Estou tão surpresa quanto você com tudo isso. Achei que tivesse uma amiga… mas percebi agora que estava convivendo com uma cobra traiçoeira, que conspirava ao lado do seu pai… — Marina pausa, ao sentir a voz começar a falhar, ela luta para não ceder ao choro. Inspirando fundo, recompõe-se.
Victor observa cada nuance dela, cada hesitação. Ele percebe o esforço que ela faz para se manter forte, e por um momento sente uma vontade imensa de envolvê-la em seus braços, mas permanece em silêncio, permitindo que ela continue. Conclui que o melhor primeiro é esclarecer tudo aquilo de uma vez, antes de deixar que seus sentimentos se envolvam.
— Nos últimos dias, comecei a desconfiar dela. Principalmente depois que você mencionou a amante do seu pai. A Andressa sempre disse ter um namorado mais velho e rico, mas nunca falava muito sobre ele. Eu também nunca desconfiei que esse homem poderia ser casado, entende? Eu colocava a minha mão no fogo por ela, acreditando que a Andressa fosse uma mulher de índole, que não se prestaria a esse tipo de atitude. Na primeira vez que ela me levou àquele apartamento… ela disse ser ali que o namorado morava, mas que ele estava viajando. Naquela noite, fizemos uma “noite das garotas”: filme, pipoca… — Marina desvia o olhar, corando levemente. — E aquelas fotos… — confessa, com vergonha, e abaixa a cabeça.
Victor mantém a expressão impassível, mas sente o quanto aquilo está sendo pesado para ela. Mesmo assim, permite que ela prossiga, sabendo que Marina precisa disso.
— Andressa me incentivava a ficar com o Sávio na viagem que fizemos, insistindo que seria bom para mim, para tirar você da minha cabeça. Ela me levou a uma loja para comprar algumas lingeries, e depois sugeriu que tirássemos as fotos para “descontrair”… no início, hesitei, mas ela disse ser uma brincadeira, algo entre amigas, e que apagaria as fotos após me enviar… — Marina para, sentindo vergonha. — Deus, eu nem consigo imaginar… não só você, mas sua mãe, seu pai… — lágrimas escorrem pelo rosto dela, e ela luta para recuperar a voz. — Confiei nela. Nunca imaginei que pudesse fazer isso comigo.
Tentando manter-se forte, Marina pega o celular e abre as mensagens trocadas com Andressa. Ela as entrega a Victor, que começa a ler, analisando cada conversa com cautela. Suas sobrancelhas ficam levemente franzidas.
— Nesse mesmo dia, ela me pediu para descer e buscar a pizza que havia pedido. Quando voltei, a encontrei mexendo na minha carteira. Perguntei o que estava fazendo, e ela respondeu estar “observando o quanto a minha carteira estava velha e desgastada”. — Marina suspira, dolorosamente lembrando. — Mas agora entendo que ela estava tirando fotos dos meus documentos, provavelmente. E é por isso… — ela abaixa o tom, hesitante. — É por isso que recebi essa transferência de dinheiro.
Victor ergue o olhar, confuso.
— Que transferência?
Marina toma o celular de volta e abre o aplicativo do banco, mostrando a Victor a quantia que Xavier transferiu para sua conta.
— Isso apareceu minutos antes de vocês dois… de você e sua mãe aparecerem lá no apartamento — murmura, sentindo um calafrio ao lembrar do que aquilo significava.
Victor observa a tela, sua respiração começa a acelerar. Seus punhos se apertam levemente enquanto ele tenta processar a quantia absurda e a implicação daquele dinheiro.
— Obrigada por não agir por impulso e me escutar, antes de qualquer decisão — diz Marina, levantando o rosto para encontrá-lo, seus olhos brilham com gratidão.
Ele a observa, com carinho.
— Se esqueceu de que sou advogado? — responde, deixando um meio sorriso se formar. — O direito de defesa é sagrado, e eu jamais deixaria que você saísse da minha vida sem ouvir a sua versão, mesmo que todas as provas estivessem contra você.
Marina fixa os olhos nos dele, enxergando um lado dele que poucas vezes teve o privilégio de ver, e decide lhe perguntar, com um sorriso suave nos lábios:
— Quando foi que você se tornou tão compreensível assim comigo?
Victor a encara, deixando um sorriso sincero emergir, carregado de afeto, e sem desviar o olhar, responde:
— Desde o momento em que me apaixonei por você.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...