Enquanto observa Marina desaparecer no corredor em direção ao quarto, Daniela começa a andar de um lado para o outro na sala, claramente inquieta. Seus passos são rápidos, e as mãos mexem nervosamente na barra do vestido.
— Você ouviu o que ela me disse, José? — pergunta, cheia de indignação. — Como pode falar comigo daquele jeito? Sou a mãe dela!
José, que está sentado no sofá com uma expressão calma, porém séria, observa os movimentos da esposa antes de responder.
— Sim, eu ouvi — diz, num tom tranquilo. — E, para ser honesto, não a culpo.
Daniela para de repente, virando-se para encará-lo com incredulidade.
— Como assim? Não a culpa? Ela jogou na minha cara que confia mais em um homem que mal conhece do que em mim!
José suspira, levantando-se do sofá para ficar de frente para a esposa. Ele coloca as mãos nos bolsos, num gesto que sempre fazia quando tentava manter a paciência.
— Daniela, a nossa filha tem razão — começa, num tom firme, mas sem agressividade.
— Como pode dizer isso? — ela retruca, cruzando os braços, claramente ofendida.
— Pense bem. Desde o momento em que essa história começou, você não deu a Marina nem uma chance de se explicar. Já foi logo julgando, acreditando no pior, como se ela não fosse a filha que você criou — explica, olhando diretamente nos olhos dela.
— Eu só estava preocupada com ela! — Daniela se defende, mas sua voz vacila.
— Preocupação não é desculpa para não escutar a sua filha — ele continua. — O que a Mari disse é verdade. Quando ela precisou de apoio, de alguém para ouvi-la, quem fez isso foi o Victor, não nós. E ela está ressentida por isso, com razão.
Ela desvia o olhar, mordendo o lábio inferior enquanto digere as palavras do marido. José aproveita o momento para continuar.
— Depois do que aconteceu com o Sávio, você conversou com ela em algum momento?
— Não, porque ela não me deu abertura para nada.
— Ou foi ao contrário? — José questiona. — Nós sempre nos orgulhamos de ter criado uma filha forte e independente, mas quando ela tentou mostrar isso, você interpretou como rebeldia. Está na hora de confiar nela, mulher. A Marina está crescendo, e ela precisa que a gente esteja ao lado dela, não contra ela.
Permanecendo em silêncio por alguns instantes, Daniela fixa seus olhos no chão. José dá um passo à frente, colocando uma mão reconfortante no ombro dela.
— Sei que você só quer o melhor para ela, mas talvez seja hora de aceitar que o melhor agora é dar a ela o espaço que precisa para fazer suas escolhas — conclui, num tom mais suave.
Antes que possa responder, passos leves ecoam pelo corredor e Marina surge na sala. Ela está arrumada, os cabelos úmidos do banho estão bem penteados e possui uma bolsa no ombro. Sua postura está ereta, e seus olhos demonstram a mesma determinação de antes. Sua mãe a encara, com uma mistura de surpresa e curiosidade.
— Para onde você vai? — pergunta, tentando esconder o tom de reprovação.
— Sim, pai, o senhor disse e pode ter certeza de que o Victor respeita isso, mas estou falando agora de mim — ela diz, franzindo a sobrancelha. — Mesmo com toda a correria e os problemas familiares que ele também está passando, Victor tirou um tempo para vir me ver e eu quero ficar com ele, por todo o tempo que puder, por favor, respeitem a minha decisão. — Sua voz é como uma súplica, numa tentativa desesperada de compreensão.
José encara a esposa, que espera uma intervenção firme da parte dele, porém os olhos de súplica da filha são mais fortes do que qualquer decisão que pode tomar naquele momento.
— Tenha cuidado, filha. E, se precisar de algo, estamos aqui — diz ele, com um tom sincero.
Marina lança um pequeno sorriso para o pai, sentindo-se grata pela atitude dele. Seu olhar encontra rapidamente o de Daniela, e, por um momento, ambas ficam em silêncio.
— Espero que saiba o que está fazendo — murmura Daniela, num tom mais baixo, antes de se virar e ir em direção à cozinha.
— Eu sei, mãe… — murmura, antes de sair pela porta.
Na cozinha, Daniela suspira profundamente, numa expressão preocupada. Ela bebe um copo de água com açúcar, na intenção de se acalmar, até ouvir os passos do marido se aproximando.
— Você não deveria ser tão condescendente com a Marina — declara, visivelmente magoada.
— Dê espaço a ela, mulher. A Mari já é uma mulher feita, devia estar feliz por ela nos contar tudo o que faz — diz José, num tom tranquilizador.
Daniela não responde, mas encosta a cabeça no ombro do marido, tentando assimilar as palavras dele. Lá, no fundo, sabia que ele estava certo, mas aceitar isso era mais difícil do que parecia.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...