Ao perceber que o momento de reconciliação entre mãe e filha havia se encerrado, Victor decide entrar no quarto, agindo como se não tivesse testemunhado nada.
— Desculpa a demora — diz ele, com um sorriso tranquilo, enquanto entrega um copo para cada uma delas. — A fila estava enorme.
Ele se aproxima de Daniela para lhe entregar a bebida e, ao fazer isso, percebe algo diferente no olhar dela. Não era mais o olhar frio e cauteloso de antes, mas algo mais brando, quase como se houvesse uma pitada de admiração. Apesar de notar a mudança, decide não reagir, mantendo sua postura neutra. Com passos calmos, ele se senta ao lado de Marina.
— Parece que a minha avó não irá acordar tão cedo — diz Marina, enquanto seus lábios desenham um sorriso que ilumina o ambiente.
Victor corresponde com um olhar cheio de ternura, inclinando-se levemente para tocar a mão dela.
— Deixe-a descansar, nós não temos pressa, não é mesmo? — pergunta com um olhar sereno.
Daniela observa a interação entre os dois e permanece em silêncio, mas é impossível ignorar como Victor trata sua filha. Cada gesto, cada palavra demonstra cuidado e afeto. Decidida a mudar sua conduta, ela se levanta, ajeitando a postura com um toque de firmeza, olhando diretamente para Victor, com um semblante sério, mas com uma nova decisão no olhar.
— Victor, podemos conversar por um momento? — pergunta, num tom de voz calmo.
— Claro, senhora — responde ele, respeitoso e sem hesitar.
Daniela se volta para a filha, que a observa com curiosidade.
— Mari, fique aqui com sua avó por um instante. Voltamos logo — diz, lançando um sorriso breve e tranquilizador, antes de sair do quarto com Victor a acompanhando.
O corredor do hospital, silencioso e levemente iluminado, parece o cenário ideal para a conversa que Daniela sabia que precisava ter. Ela para, se vira para Victor, cruza os braços, respira fundo e o encara, pronta para dizer tudo o que estava em sua mente.
— Victor, preciso ser sincera com você — começa, tentando conter a emoção na voz. — Tenho receio sobre vocês dois. Não porque você não pareça um bom homem, mas porque vocês vêm de mundos tão diferentes que é difícil acreditar que isso não acabará machucando a Marina.
Victor franze ligeiramente a testa, mas mantém o olhar respeitoso, esperando que ela continue.
— Minha filha sempre foi sensível, sonhadora. Ela sempre acreditou em um amor puro, igual aos livros que ela anda lendo, com finais felizes, mesmo depois de tudo o que já passou — continua falando, oscilando entre preocupação e frustração. — Mas, Victor, o seu mundo… a sua forma de viver… é tão diferente do que ela conhece. Tenho medo de que, quando as diferenças começarem a aparecer, você não tenha paciência, ou que ela não saiba como lidar.
Victor dá um pequeno passo à frente, com uma expressão séria, cheia de sinceridade.
— Senhora, entendo o seu medo. Eu não fingirei que essas diferenças não existem. Sim, venho de um mundo mais acelerado, talvez mais pragmático do que ela está acostumada. Mas, com todo respeito, acho que é justamente isso que me fez me apaixonar pela Marina. Ela me trouxe algo que eu nunca encontrei nesse meu “mundo”: leveza, sinceridade… um jeito de ver a vida que eu nem sabia que precisava.
Daniela parece surpreendida pela resposta, mas não interrompe. Victor aproveita para continuar.
— Sei que existem desafios. Estou ciente de que nem tudo será fácil. Mas, se tem uma coisa que aprendi desde que conheci Marina, é que ela vale cada esforço, cada ajuste. E, para ser honesto, ela também já mudou muito de mim, mesmo sem perceber. — Ele dá um pequeno sorriso. — Marina me fez querer ser uma pessoa melhor. E, sinceramente, não acredito que nossas diferenças sejam um obstáculo. Possivelmente são parte do que nos faz funcionar.
Daniela solta um suspiro longo, como se processasse as palavras dele. Apesar de ainda hesitar, a sinceridade nos olhos de Victor parece enfraquecer as barreiras que ela tanto tenta manter.
— Eu só quero que você prometa uma coisa, Victor. Se algum dia perceber que não pode mais fazê-la feliz, que não consegue cuidar dela como ela merece… tenha coragem de dizer a verdade. Não brinque com os sentimentos da minha filha.
Ele assente, com um olhar firme.
Daniela franze a testa, claramente inquieta.
— Sei disso, mas as pessoas não costumam ser tão razoáveis quanto gostaríamos. Sua família já fez o pré-julgamento, então como cogita esclarecer isso?
Sorrindo de leve, ele tenta transmitir tranquilidade.
— Estou cuidando disso, senhora. Em breve esclarecerei as coisas, e continuarei fazendo o necessário para proteger a Marina dessa situação. Não deixarei que ninguém a trate injustamente.
Embora as palavras dele tragam confiança, Daniela ainda não parece completamente convencida. Seus medos, profundamente enraizados, são difíceis de dissipar.
— E depois? — questiona, embargando a voz, levemente. — O que vai acontecer entre vocês? Acha mesmo que sua família aceitará a Marina?
Fixando seus olhos negros nela, responde:
— Dona Daniela, vamos dar tempo ao tempo, tudo bem? O que importa agora é que gosto de sua filha. Isso, atualmente, é o suficiente para nós dois. — Ele faz uma pausa. — Mas se sua preocupação é sobre como ela será tratada na minha casa, quero que saiba uma coisa: a Marina será tratada com respeito. Ela entrará pela porta da frente, com a dignidade que merece, e ninguém na minha família ousará desrespeitá-la. Garanto isso.
Observando Victor por alguns segundos a mais, Daniela avalia suas palavras, mas os anos de proteção maternal não a deixam baixar completamente a guarda.
— Espero que você esteja certo, Victor — murmura, um pouco mais suave. — Porque a última coisa que quero é ver minha filha sofrer de novo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...