Desde que chegou da casa de uma das testemunhas que a auxiliaria no caso de Dona Valquíria, Marina sente um vazio crescente no peito. Ela entra no quarto, liga o notebook e mergulha nos detalhes do caso, analisando cuidadosamente as informações e as declarações das testemunhas. No entanto, mesmo com o foco no trabalho, um sentimento de medo começa a dominar seus pensamentos.
As palavras de Victor ecoam em sua mente, trazendo uma insegurança que ela não quis admitir na frente dele. Saber que Victor, com toda a sua experiência, nunca havia perdido um caso era uma pressão silenciosa que a fazia questionar suas próprias capacidades. “E se eu não conseguir defender Dona Valquíria corretamente?”, ela pensa, com o coração apertado. Apesar disso, decide seguir em frente. Ela sabe que precisa fazer o que é necessário, mesmo que o medo persista.
Após horas diante da tela do computador, sente a cabeça pesada e decide fazer uma pausa para comer algo. Caminhando pela casa, ao passar pelo quarto da mãe, ela a encontra se vestindo com um vestido novo.
— A senhora está linda, mãe. Quer que eu te ajude com a maquiagem? — pergunta, com um sorriso que tenta mascarar suas preocupações.
A mãe a encara pelo espelho, ajeitando o colar.
— Só se não fizer nada muito exagerado — responde com uma risada leve.
— Espere um momento, vou buscar minha maleta — diz Marina, tentando se ocupar para desviar sua mente dos pensamentos que a consumiam.
Alguns minutos depois, retorna com a maleta de maquiagem e começa a maquiar a mãe, que havia sido convidada para um casamento.
— Você parece cansada, Mari. Está tudo bem? — pergunta Daniela, observando a filha com atenção.
— Sim, mãe, estou bem. É que fiquei muito tempo no computador e minhas vistas estão doendo um pouco — mente, tentando afastar a conversa do verdadeiro motivo de sua inquietação.
— Você vai se encontrar com o Victor hoje?
— Não — responde rapidamente, desviando o olhar.
— Então, por que não se arruma e vem conosco ao casamento? Pode ser bom para espairecer.
— Eu não quero, mãe. Prefiro descansar — diz, forçando um sorriso.
— Tudo bem — responde Daniela, com um tom compreensivo. Após um momento de silêncio, ela continua: — E como está o caso que você pegou? Acha que irá vencer?
A pergunta faz Marina congelar por um instante. Uma onda de medo percorre seu corpo, mas ela decide manter o tom positivo.
— Espero que sim, mãe. Se eu perder esse caso, uma grande injustiça será cometida.
Daniela segura a mão da filha por um momento, oferecendo um olhar encorajador.
— Tenho certeza de que você se sairá bem. Além disso, você namora um advogado renomado. Tenho certeza de que, se precisar, ele a ajudará com qualquer dúvida.
Marina sorri em resposta, mas o sorriso não alcança os olhos. Por dentro, uma mistura de insegurança e tristeza a consome. “Como ele poderia me ajudar se está do outro lado?”, pensa, mas mantém o pensamento para si. Ela não queria que sua mãe percebesse o quão abalada estava, então se esforça para terminar a maquiagem e manter as aparências, mesmo que sua mente esteja distante, perdida entre o medo do fracasso e o peso do relacionamento abalado.
Quando os pais aparecem na porta de seu quarto para se despedirem, ela força um sorriso.
— Vão com Deus e se divirtam muito — diz ela, tentando soar animada.
Daniela e José retribuem o sorriso e se despedem com um aceno antes de seguir pelo corredor. Marina fica sozinha no quarto, apenas com o silêncio preenchendo o espaço ao seu redor. Ela se aproxima da janela e observa o céu escuro, enquanto a pequena garoa que caía começa a engrossar, formando um véu brilhante sob as luzes da rua.
— Victor… — começa, mas ele a interrompe, segurando suas mãos com delicadeza.
— Me desculpa pelo meu modo rude. Eu estava tão preocupado com o que poderia acontecer, que acabei sendo insensível. Só queria te proteger, mas, no processo, machuquei você.
Ela o observa por alguns segundos, enquanto a raiva e a mágoa que antes a consumiam são lentamente substituídas por compreensão.
— Sei que você se preocupa comigo, mas preciso que confie em mim. Que acredite que sou capaz, mesmo que o caminho seja difícil.
Ele assente, apertando as mãos dela com firmeza.
— Confio em você, meu amor. Sempre confiei. Só preciso aprender a demonstrar isso melhor — declara, com arrependimento na voz.
Marina sorri levemente, mesmo com as lágrimas ainda brilhando em seus olhos.
— Tudo bem, eu também posso ser teimosa às vezes — admite, com um toque de humor que traz um alívio suave à conversa.
Victor solta uma risada baixa e a puxa novamente para um abraço.
— Então estamos quites, loirinha. Só não vamos deixar o trabalho nos afastar, combinado?
— Combinado — ela responde, sentindo o peso em seu peito começar finalmente a diminuir.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...