Após Andressa tranquilizá-la, Marina decide aceitar a ajuda da amiga, já que estava sem muitas opções naquele momento.
Ao retornar para casa, encontra metade de suas roupas já dobradas em cima da cama, revelando o quanto sua mãe está empenhada em ajudá-la.
— Conseguiu? — pergunta Daniela, enquanto coloca os itens de higiene pessoal da filha em uma pequena necessaire.
— Sim, a Andressa me emprestou a mala dela — responde, colocando a mala sobre a cama.
Daniela observa o objeto com certa curiosidade, franzindo a testa.
— Isso parece caro — comenta, após alguns segundos de avaliação.
— Não só parece como é — admite Marina. — Só aceitei porque estou sem opções, mas confesso que estou um pouco preocupada.
— Então leve essa mala com cuidado, sem perder de vista nem por um segundo. Quando voltar, providencie uma para você, para evitar esse tipo de situação no futuro. Já que viagens como essas devem se tornar cotidianas com o tempo.
— É exatamente o que vou fazer.
— Já sabe onde irá ficar? — Daniela pergunta preocupada.
— Ainda não, mas deve ser em algum hotel — responde.
— Acredito que o Rio de Janeiro está bem quente nessa época, então coloquei os seus pijamas mais curtos.
Sem mais delongas, Marina termina de arrumar sua mala. Após um jantar tranquilo com os pais, ela toma um banho longo, veste uma roupa casual e se senta na sala com o notebook no colo, esperando por Victor, que não especificou a hora exata em que a buscaria.
Enquanto revisa o caso que Victor lhe enviou por e-mail, seus olhos se voltam para o pequeno machucado no joelho, resultado da queda mais cedo.
A memória do cuidado inesperado de Victor surge em sua mente. Ela balança a cabeça, tentando afastar o pensamento, mas ele insiste.
— Pelo amor de Deus, Marina! — murmura, batendo levemente na própria testa. — Foi ele quem causou a sua queda. O mínimo que poderia fazer era ajudar depois — repete, tentando racionalizar a situação.
O relógio marca nove da noite quando seu celular toca. Um número desconhecido aparece na tela. Ao atender, sente um leve arrepio ao reconhecer a voz grave e provocadora do outro lado da linha.
— Boa noite, loirinha — diz Victor, com um tom casual, mas que faz o coração dela disparar.
A voz dele parece ainda mais intensa pelo telefone, fazendo-a engolir em seco antes de responder com firmeza.
— Boa noite, senhor Ferraz.
— Estou na frente da sua casa. Já está pronta?
— Sim, já estou indo.
Após desligar o telefone, Marina se despede dos pais, pega a mala e caminha em direção à porta. Ao abrir o portão, encontra Victor em pé, encostado no carro.
Mesmo contra a própria vontade, não pode deixar de notar o quanto ele está atraente em um jeans claro, camisa branca e sapatos casuais.
Victor também a observa com atenção. O vestido amarelo solto, a jaqueta preta e as sandálias de salto médio dão a Marina um ar leve, quase casual, mas elegante. Seus cabelos loiros soltos brilham sob a luz suave da noite.
— A verdade é clara — começa, com a voz calma, mas carregada de convicção. — Raul é inocente, mas foi preso em uma armadilha cuidadosamente montada. Fernando Albuquerque planejou tudo para desviar a atenção de si e usar Raul como bode expiatório. Ele manipulou documentos e transações falsas para incriminá-lo, enquanto usava empresas fantasmas para desviar o dinheiro.
Victor, intrigado, estreita os olhos, avaliando o raciocínio dela. Marina continua, agora mais segura:
— Quando Raul tentou confrontar Fernando, tornou-se uma ameaça real. Fernando percebeu precisar se proteger, então usou sua influência e poder para silenciá-lo de todas as formas possíveis. As ameaças à família de Raul são apenas uma parte dessa estratégia. O nível de desespero de Fernando mostra o quanto ele está envolvido.
Marina faz uma pausa, deixando que suas palavras tenham o impacto desejado. Ela sabe que Victor não esperava tanta percepção, mas não pretende se conter agora.
— O ponto-chave — continua ela, com confiança — é provar que os documentos que incriminam Raul foram plantados. Se seguirmos o rastro financeiro corretamente, ligaremos as empresas fantasmas diretamente a Fernando. A verdade está nos detalhes que Raul não autorizou. Quanto mais fundo cavarmos, mais expomos Fernando. Ele está tentando manter uma fachada de inocência, mas seus erros estão escondidos nas sombras que ele mesmo criou.
Victor permanece em silêncio por um momento, surpreso pela clareza e inteligência com que Marina desmontou o caso. Ela não apenas entendeu o problema, mas delineou a estratégia de defesa com precisão.
— Então, resumindo — diz Marina, arqueando levemente as sobrancelhas —, o caso não é apenas sobre limpar o nome de Raul. É sobre desmantelar um esquema de corrupção muito maior, com Fernando no centro. E nós temos todas as peças para fazer isso.
Victor, com um sorriso quase imperceptível, balança a cabeça. Ele percebe, naquele momento, que a subestimou. Ela é muito mais perspicaz do que imaginava.
— Parece que você fez o dever de casa, loirinha — declara surpreso, com um novo respeito no olhar.
— O senhor me deu uma tarefa e eu fiz, é assim que trabalho — confessa.
O sinal de trânsito fica vermelho e ele aproveita aquele momento para encará-la e se aproximar mais dela.
— Está mesmo disposta a se submeter a tudo o que eu te designar? — Embora esteja se referindo ao trabalho, a proximidade e a voz rouca provocadora de Victor fazem com que a mente de Marina viaje para uma coisa bem desavergonhada.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...