Um mês após o julgamento, Marina recebeu finalmente o pagamento pelo caso de Dona Valquíria, uma quantia que não apenas representava sua dedicação profissional, mas também mudou a dinâmica de sua família. Quando compartilhou a notícia com seus pais, viu os olhos de José e Daniela brilharem de orgulho.
— Agora que recebi esse dinheiro, quero que vocês descansem — ela anuncia, com um sorriso decidido, enquanto se senta à mesa da cozinha com eles.
José, franzindo o cenho, olha para a filha, confuso.
— Descansar? Como assim? — pergunta, ajustando o corpo na cadeira, como se quisesse escutar melhor as intenções dela.
Marina inspira fundo, antes de responder, num tom carinhoso.
— Quero que parem com a padaria — revela. — Vocês já trabalharam demais a vida toda, é hora de descansarem um pouco, de aproveitarem a vida.
Daniela arregala os olhos, surpresa, enquanto José balança a cabeça, ainda assimilando a ideia.
— Mas filha, não podemos simplesmente parar assim, do nada — argumenta José, incrédulo.
— Claro que podem — ela rebate, com a determinação que havia aprendido nos últimos meses. — Apenas acabem com o estoque que ainda têm guardado e avisem aos clientes que vão fechar as portas no próximo mês.
— Mas, querida, isso é um grande passo… e o dinheiro que você ganhou é seu. Não é justo usarmos isso para o nosso benefício — diz Daniela, um pouco hesitante.
Marina sorri, inclinando-se sobre a mesa e segurando as mãos da mãe.
— Sempre disse que trabalharia para tirar vocês dessa correria, e esse dia finalmente chegou. Com o que ganhei no caso de Dona Valquíria, posso garantir que vocês fiquem muito bem. Se quiserem, podem até alugar o ponto da padaria e ganhar com isso, mas, a partir de agora, quero que se considerem aposentados.
José e Daniela se entreolham, divididos entre a gratidão e a dificuldade de aceitar aquela nova realidade.
— Não sei se estou pronto para isso, Marina… — José murmura, com um olhar pensativo. — Trabalhar é o que faço desde sempre.
— Pai, trabalhar sempre foi a vida de vocês. Agora quero que vivam de verdade. Quero que viajem, que descubram novos lugares, que tirem um tempo para vocês mesmos. Vocês merecem — diz ela, com o coração transbordando de amor.
Mesmo com os protestos iniciais, a sinceridade e segurança da filha acabam por convencê-los. Daniela enxuga uma lágrima furtiva enquanto José, com um suspiro profundo, sorri levemente.
— Está bem, filha. Se é isso que você quer, vamos tentar. Mas só porque sabemos que você fez isso com o coração — declara José.
— E, porque estamos muito orgulhosos de você — completa Daniela, segurando a mão da filha.
Marina sente o peito se aquecer. Ver os pais finalmente aceitando descansar era o maior presente que ela poderia receber após tantos anos vendo-os se sacrificarem pela família.
— Também vou comprar uma casa nova — revela, com um sorriso entusiasmado. — Já pesquisei tudo e quero levá-los para conhecer o lugar no fim de semana. Se gostarem, irei fechar o negócio — acrescenta, com os olhos brilhando de empolgação.
José e Daniela se entreolham, confusos com a decisão repentina, e permanecem em silêncio por alguns segundos.
— Mas, filha… o dinheiro que você ganhou é suficiente para tudo isso? — José pergunta, ainda assimilando a novidade.
— Dá, sim, pai, não se preocupe. E ainda tem mais uma novidade que quero contar a vocês — comenta animada. — Fui contratada pelo escritório Ferraz e agora faço parte do time de advogados!
O casal leva um instante para processar as palavras, mas logo a alegria explode. Daniela cobre a boca com as mãos, emocionada, enquanto José abre um sorriso orgulhoso.
Ele assente com um meio sorriso, mas sua resposta é breve e distante:
— Está, sim. Boa noite!
Ao voltar para dentro da casa, ela encontra a mãe na cozinha, lavando a louça.
— Está tudo bem, Mari? — pergunta Daniela, inclinando-se levemente contra o balcão.
Marina suspira, desviando o olhar para o prato que a mãe segura.
— Acho que está — responde, num tom melancólico, claramente tentando convencer mais a si mesma do que à mãe.
— Tem certeza? Achei que fosse para a casa do Victor hoje — Daniela insiste, analisando o rosto da filha.
— Pois é... — murmura. — Ele disse que estaria ocupado, que era melhor eu passar a noite aqui, para terminarmos a noite em família.
Daniela franze o cenho por um instante, mas logo suaviza a expressão, buscando tranquilizá-la.
— Bem, a explicação dele parece razoável, filha. É a nossa primeira noite na casa nova. Acho que ele quer respeitar esse momento especial para nós.
Mesmo tentando absorver as palavras da mãe, ainda sente uma pontada de inquietação no peito.
— Espero que seja apenas por isso…
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...