Quando Xavier chega ao Brasil, está praticamente irreconhecível. Seu rosto está inchado, com marcas visíveis que denunciam a “conversa” severa que teve com os policiais internacionais antes de ser extraditado. Cada hematoma e corte é um testemunho silencioso do nervosismo e do desespero que viveu nas últimas horas. Mesmo assim, ele mantém o semblante rígido, tentando esconder o desconforto físico e a humilhação de estar naquela situação.
Entretanto, o que mais o incomoda não são as dores espalhadas pelo corpo, mas a lembrança de como foi forçado a assinar um documento afirmando que havia sido tratado humanamente bem enquanto esteve sob custódia. Ele não assinou por vontade própria, claro; o fez apenas para pôr fim às agressões e ser finalmente enviado de volta ao Brasil, onde acreditava que poderia retomar o controle da situação.
No aeroporto, a recepção está longe de ser calorosa. Jornalistas e câmeras de diversas emissoras aguardam do lado de fora, famintos por imagens do homem que se tornou o centro de um escândalo nacional. Assim que Xavier é escoltado para fora, flashes iluminam seu rosto machucado, e perguntas incisivas são lançadas na direção dele.
— Senhor Ferraz, o senhor confirma que mandou assassinar o próprio filho?
— Foi sua esposa quem organizou o plano e o senhor apenas o seguiu?
— O que tem a dizer sobre as acusações de desvio de dinheiro?
— É verdade que o motivo inicial de tudo foi devido a uma traição extraconjugal?
Xavier mantém o silêncio, caminhando com passos firmes enquanto é conduzido pelos policiais. Sua expressão é de puro desprezo, mas sente-se internamente cercado, como um animal acuado. Ele percebe que sua situação é mais grave do que imaginava; a mídia não deixará que nada passe despercebido.
Ao entrar na viatura, longe das câmeras, ele finalmente respira fundo. Mas não é um suspiro de alívio. É o peso de saber que, assim que as portas da delegacia se fecharem, terá que enfrentar o interrogatório da polícia brasileira, além de possíveis confrontos com figuras que ele mesmo traiu.
Ao chegar na delegacia, uma multidão, composta por populares revoltados e curiosos, forma um muro humano à frente da delegacia. O clamor por justiça é ensurdecedor.
— Desgraçado, sangue-frio.
— Covarde!
— Que apodreça na cadeia! — ecoam as vozes de diversos lados.
Tentando se proteger, Xavier mantém a cabeça baixa, cobrindo o rosto com uma jaqueta, mesmo assim sente o peso dos olhares de ódio e a proximidade dos gritos, que o cercam como uma onda esmagadora.
De repente, no meio do tumulto, um som seco se destaca. Uma garrafa de vidro voa entre a multidão e atinge a cabeça dele com força, quebrando-se ao impacto. Ele cambaleia para o lado, enquanto fragmentos de vidro caem ao chão e o sangue começa a escorrer pela lateral de sua testa. A dor é imediata, mas o susto o paralisa por um instante.
— Bem feito! — alguém grita, enquanto outros aplaudem o ato.
— Ele merece mais! — outro brada, enfurecido.
Os policiais agem rapidamente, formando um escudo ao redor dele para protegê-lo de novos ataques. Um dos agentes o segura firmemente pelo braço, enquanto outro se coloca entre ele e a multidão, tentando evitar que a situação saia ainda mais do controle.
— Continuem andando! — ordena um dos policiais, empurrando Xavier para frente.
Ainda atordoado, ele leva a mão à testa, tentando estancar o sangue que agora mancha sua jaqueta.
No prédio, o barulho ensurdecedor é abafado pelas portas que se fecham atrás deles. Xavier é levado a uma sala de espera, onde um agente se aproxima com um kit de primeiros socorros improvisado.
Quando chegam ao hospital, o esquema de segurança é reforçado para evitar qualquer tentativa de fuga ou novos ataques. Xavier é levado para dentro sob vigilância constante, onde uma equipe médica já o aguarda para realizar os exames.
Enquanto é levado pelo corredor, empurrado em uma cadeira de rodas por um dos paramédicos, ele percebe uma figura conhecida ao longe. Marina está parada próximo à recepção, conversando com alguém, mas assim que ele entra em seu campo de visão, ela se vira e seus olhares se cruzam.
Os olhos de Marina, que momentos antes estavam mergulhados em tristeza e preocupação, ganham uma intensidade fulminante.
Sentindo o impacto daquele olhar, Xavier dá um pequeno sorriso frio em direção a ela.
— Como ousa aparecer aqui? — Marina dispara, com a voz firme.
O corredor parece congelar por um instante, e todas as atenções se voltam para os dois. Xavier abre a boca para responder, mas a intensidade no olhar de Marina o cala.
Ela dá um passo à frente, ignorando completamente os paramédicos e os policiais que o escoltam.
— Meu marido está entre a vida e a morte por sua causa, e você tem a audácia de estar aqui, como se fosse apenas mais um dia normal em sua vida miserável? — diz ela, sem elevar a voz, mas cada palavra soa como uma lâmina afiada.
Xavier tenta dizer algo, mas Marina continua, aproximando-se ainda mais.
— Você destruiu a sua própria família, Xavier. Não foi suficiente? Queria tirar a minha também? — As lágrimas ameaçam surgir em seus olhos, mas ela as segura, mantendo sua postura firme. — Espero que apodreça na cadeia e que cada segundo lá dentro seja uma lembrança de tudo o que você fez.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...