— Me tirem daqui, não sou obrigado a escutar um monte de baboseira de uma pessoa insignificante — Xavier diz, com a voz de desdém, tentando mascarar qualquer resquício de remorso. Seu olhar é frio e calculista, enquanto tenta se livrar da energia que o olhar de Marina deixou em sua consciência.
Um dos policiais que o acompanha para e se vira para ele, claramente irritado pela atitude.
— Insignificante? — o policial repete, com um tom seco e firme. — Insignificante é quem tenta matar o próprio filho e ainda tem coragem de agir como se fosse a vítima.
Se remexendo na cadeira de rodas em que havia sido colocado, Xavier tenta parecer superior, mas o comentário do policial o deixa ligeiramente desconfortável.
— Não é o seu trabalho me julgar, seu imbecil — retruca, elevando a voz. — Faça o seu papel e me leve para onde tenho que ir.
O paramédico que empurra a cadeira lança um olhar de reprovação, mas mantém-se em silêncio. Já o segundo policial, que está ao lado de Xavier, cruza os braços e solta um riso sarcástico.
— A única coisa que você vai conseguir com essa atitude é piorar ainda mais a sua situação. E, para sua informação, senhor Ferraz, ninguém aqui tem obrigação de suportar suas grosserias — diz ele, aproximando-se de Xavier e falando em um tom baixo, mas ameaçador. — Talvez você não tenha aprendido com a lição que te deram fora do país, e precise de um pouco mais de disciplina. De qualquer forma, um bom tempo atrás das grades irá lhe ensinar o que é respeito.
Engolindo um nó na garganta, Xavier decide não falar mais nada naquele momento.
Ainda próxima o suficiente para ouvir o desdém de Xavier, Marina decide comentar:
— Baboseira? Insignificante? — Ela caminha em direção a ele com passos firmes, enquanto os policiais e o paramédico observam, surpresos. — Você destruiu vidas, Xavier. Deveria estar se ajoelhando e implorando perdão a Deus por tudo o que fez, mas em vez disso, prefere se esconder atrás de uma máscara patética de arrogância.
Ela se inclina levemente, ficando no mesmo nível do rosto de Xavier, e o encara diretamente.
— A única coisa insignificante aqui é a sua humanidade — declara, com um tom de voz cheio de desprezo. — Aproveite bem os dias que lhe restam em liberdade, porque em breve, nem mesmo essa arrogância vai te salvar.
Rapidamente ela se afasta, deixando um silêncio pesado no ar. O primeiro policial balança a cabeça, enquanto o segundo faz sinal para continuarem empurrando a cadeira.
— Vamos, senhor Ferraz — diz o paramédico, com um tom seco. — Já ouvimos o suficiente de você por hoje.
Enquanto aguarda os resultados dos exames, Xavier sente a pressão nas algemas que apertam seu pulso, intensificando a raiva e o desprezo que nutre pela situação em que se encontra. Seus olhos percorrem o quarto, examinando cada detalhe em busca de uma saída. Ele sabe que um policial está posicionado do lado de fora da porta, tornando a janela sua única rota de fuga, mas mesmo assim, a ideia parece improvável.
A porta do quarto se abre e um médico entra com uma prancheta em mãos. Seus olhos encontram os de Xavier, que imediatamente percebe a expressão de curiosidade no rosto do homem.
— O que está olhando? — pergunta Xavier, com um tom irritado.
O médico para no meio do quarto, levantando as sobrancelhas.
— Nada, senhor Ferraz. Só quero saber se está se sentindo bem — responde com calma.
— Acha que estou bem numa situação dessas? — dispara, elevando um pouco a voz. — Algemado, humilhado e aguardando um destino que eu não desejo.
O médico se aproxima um pouco mais, mantendo um semblante neutro, mas sua resposta carrega um leve tom de persuasão.
— Sei que não está, senhor. Na verdade, acredito que se sentiria muito melhor se pudesse estar em casa.
Captando o subtexto na fala do médico, Xavier inclina-se levemente para frente, com um brilho astuto surgindo em seus olhos.
— Acha que eu conseguiria isso? Ficar em casa? — pergunta, lançando a isca.
— Farei agora mesmo o seu laudo médico e utilizarei os resultados dos seus exames para comprovar que o senhor está debilitado o suficiente para não permanecer em uma cela comum. Tudo será devidamente documentado.
Xavier o encara fixamente, tentando encontrar alguma falha na postura confiante do homem.
— E os resultados dos exames? Eles realmente mostram que eu não posso ir para a prisão? — questiona, mais incisivo.
Cruzando os braços, o médico responde com um pouco de sarcasmo:
— Os que entregarei às autoridades, sim! — revela, deixando escapar um sorriso irônico. — O restante fica por conta do seu advogado. Só precisa garantir que o pagamento seja feito sem qualquer atraso.
Xavier pondera por alguns instantes. O plano parecia arriscado, mas a alternativa de enfrentar um tribunal ou uma cela era ainda pior. Ele solta um suspiro profundo, sinalizando que está convencido.
— Você terá o que pediu — responde, firme. — Mas quero isso rápido. Bem rápido.
O médico dá um passo para trás, ajustando o jaleco com um ar de superioridade.
— Considere feito, senhor Ferraz — diz, com a confiança de quem acredita ter fechado um negócio lucrativo. — Agora, aproveite o tempo para descansar.
Xavier observa o médico sair do quarto e, quando está prestes a sorrir confiante, a porta do quarto se abre bruscamente.
— Você? — pergunta, incrédulo, ao ver o homem à sua frente.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...