Ao retornar para a mesa, Marina nota que Victor já não está mais acompanhado de sua “amiga”. Com um suspiro discreto de alívio, ela se senta e decide terminar o café, agora frio.
— Por que saiu? — pergunta Victor, com uma sobrancelha arqueada ao vê-la se acomodar novamente.
— Aproveitei que você estava ocupado para ligar para os meus pais — responde, tentando soar casual.
Victor sorri, aquele sorriso que a faz se sentir constantemente desafiada.
— Tem certeza de que foi isso mesmo? Ou saiu daqui porque ficou com ciúme da Rebecca?
Marina estreita os olhos, surpresa pela acusação.
— Ciúme? — ela solta uma risada breve e incrédula. — Agora é você que está se superestimando, senhor Ferraz. Por que eu sentiria ciúme? — rebate, como se o comentário fosse a coisa mais absurda que já ouviu.
Victor sorri de canto, satisfeito com a reação dela, e volta a comer em silêncio. Marina foca no café, sem vontade de prolongar qualquer interação desnecessária.
Após alguns minutos de silêncio desconfortável, Victor verifica o relógio e decide antecipar o encontro com Raul Vilela.
— Vamos até a casa dele — comunica.
Marina assente, seguindo Victor até o carro.
— Você sabe dirigir? — Ele questiona curioso.
— Eu não sei — explica, sentindo-se um pouco envergonhada com aquilo.
Porém, seu pai nunca teve um carro para lhe ensinar e, por serem bem humildes, não conseguiu dinheiro o suficiente para tirar a CNH.
— Deve providenciar, se quiser se destacar na empresa, ou acha que uma assistente que não sabe dirigir tem alguma serventia?
— Eu sei — murmura, observando a rua pela janela.
Por mais que o tom de voz dele tenha sido rude e sinta que tenha dito aquilo para lhe provocar, Marina entende que Victor está sendo realista. Por esse motivo, resolve não discutir, já que uma pessoa como ele, acostumada a ter tudo fácil na vida, nunca saberá o que é renunciar a uma coisa para conseguir outra.
O caminho os leva até o Joá, uma das áreas mais nobres e exclusivas do Rio de Janeiro, conhecida por suas mansões com vistas deslumbrantes.
Quando chegam, são recebidos por seguranças armados, o que faz Marina sentir um leve desconforto. Ela observa Victor calmamente passar pelos protocolos de segurança, claramente acostumado com esse tipo de ambiente.
Ao entrarem, encontram Raul Vilela no jardim, relaxado em um roupão branco e fumando um charuto. Na sua perna, próximo ao pé, há uma tornozeleira eletrônica. Ele se levanta quando vê Victor e o cumprimenta com um firme aperto de mão.
— Victor, não esperava você tão cedo — diz Raul, lançando um olhar curioso para Marina.
— Decidi vir antes devido a uma surpresa desagradável que recebi no meu apartamento — responde Victor, acomodando-se em uma das espreguiçadeiras.
Marina permanece em pé, até que Raul a convida a se sentar.
— E quem é a sua assistente? — pergunta Raul, avaliando-a de cima a baixo.
Marina se lembra imediatamente da maneira como ele a descreveu para Raul mais cedo e sente a necessidade de responder.
— Está dizendo isso porque, desse modo, sou mais fácil de lidar e não me torno a “pessoa teimosa de personalidade forte”?
Victor gargalha, claramente se divertindo com a situação.
— Você guardou isso no coração, foi?
— Não é isso — responde ela, um tanto irritada. — Só não gostei da forma como você me descreveu para outra pessoa.
Victor vira-se para encará-la, exibindo um sorriso provocador no rosto.
— Por que não protestou na hora? Ficou com medo de abrir a boca e provar que tudo o que eu disse é verdade?
— Ora, seu… — Marina começa, pronta para soltar uma resposta afiada, mas o olhar gélido e desafiador que Victor lhe lança a faz congelar.
Sem dizer mais nada, ela apenas vira o rosto para a janela, tentando ignorá-lo. Victor, por sua vez, sorri satisfeito com a reação dela e, inclinando-se levemente, aproxima os lábios de seu ouvido.
— Gosto assim… bem mansinha — sussurra, sua voz baixa e rouca provoca um arrepio involuntário em Marina.
Ela tenta responder alguma coisa, mas a sensação que ele provoca em seu corpo é tão nova que não compreende e acaba ficando em silêncio. Ela sente o calor subir pelo corpo, mas se recusa a dar a ele a satisfação de uma resposta.
Ao perceber que o que havia feito surtiu o efeito esperado, Victor se afasta e dá partida no veículo, com um sorriso vitorioso no rosto. Ele percebe que provocar Marina daquele modo é melhor do trocar farpas durante o dia, por isso, decide se dedicar ainda mais naquela tarefa, até que ela peça menos por não conseguir se conter.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...