Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira) romance Capítulo 38

Ao perceber o que estava prestes a fazer com Victor naquele apartamento, Marina se levanta bruscamente do sofá e caminha até a varanda, tentando encontrar na brisa da noite carioca algum alívio para a confusão de pensamentos que invadem sua mente.

— Meu Deus, eu não acredito que fiz isso — murmura, levando as mãos aos lábios ainda quentes do beijo de Victor Ferraz. — Meu primeiro beijo… e foi com o homem que tenta diariamente me tirar do sério — sussurra para si, sentindo o peso da culpa se instalar.

Desde cedo, Marina se recusou a seguir o mesmo caminho da maioria dos jovens de sua idade. Enquanto suas amigas flertavam com garotos nos intervalos da escola, ela mergulhava em livros, determinada a alcançar seus sonhos. Quando algum rapaz a convidava para sair, sua desculpa sempre era a mesma: precisava estudar. Foi assim que viveu, priorizando os estudos e a carreira, e deixando os sentimentos amorosos em segundo plano.

Ainda assim, houve um momento em que começou a nutrir algo por Sávio, um amigo que, com o tempo, passou a despertar algo mais em seu coração. Porém, por mais que quisesse explorar essa nova emoção, ela sempre manteve seus sentimentos escondidos. Para Marina, não bastava se entregar a um relacionamento; ela queria segurança e estabilidade, algo que Sávio não parecia buscar com a mesma intensidade.

Agora, diante da situação em que se encontra, percebe que, se não reassumir o controle de sua vida, pode se desviar do caminho pelo qual tanto lutou para desbravar.

Marina olha para o céu limpo, buscando respostas, enquanto a sensação do beijo de Victor ainda parece pulsar em sua pele, como um eco distante, mas persistente.

“O que devo fazer?” questiona-se, sabendo muito bem que a intenção de Victor é clara — ele deseja seu corpo, e por mais que essa ideia pareça comum na Era atual em que vive, sabe que não pode se entregar apenas por impulso. Marina valoriza suas ideologias e não quer que aquele momento seja apenas um reflexo de um desejo passageiro.

O toque repentino do telefone a tira de seus pensamentos, e ela corre até a cozinha para atendê-lo. Ao ver o nome de Sávio brilhando na tela, sente uma onda de confusão tomar conta.

— Sávio? — atende, aproveitando a distração para afastar os pensamentos que a atormentam.

— Oi, Mari, estou te atrapalhando? — A voz de Sávio soa hesitante, quase tímida.

— Claro que não, pode falar, estou desocupada.

— Me desculpa por ligar sem avisar, sei que você está trabalhando bastante, mas minha consciência está pesada desde a última vez que nos vimos… não deveria ter agido daquela forma — admite ele, com um tom de arrependimento.

— Realmente, sua atitude me pegou de surpresa — Marina responde, com o tom de voz firme, mas carregado de mágoa contida.

— Eu sei… Nem eu entendi por que reagi daquela maneira. Fiquei cego, não pensei direito — explica, deixando a voz falhar de leve.

— Por que ficou tão incomodado com o que eu disse? Por acaso, não confia em mim?

— Claro que confio, Mari. Você é a pessoa mais íntegra que conheço. O que me preocupa é o seu chefe — confessa Sávio, com uma pontada de ciúme.

— Você nem o conhece, Sávio. Já está tirando conclusões erradas — o repreende, sentindo o cansaço emocional começando a transparecer.

— Sei que não o conheço, mas ele é homem, e você… você é jovem e bonita… — responde ele, inseguro. — Não quero parecer chato, mas… tenho medo de que ele tente se aproveitar da sua determinação e faça algum tipo de proposta indecente.

Marina solta um suspiro profundo. Sente a decepção crescendo dentro dela, mas mantém a calma.

— Sávio, você tem razão sobre a minha determinação. Todo mundo sabe que tenho um sonho e estou disposta a lutar por ele, mas você realmente acha que eu usaria a minha aparência para conseguir o que quero? — questiona, com a voz séria, mas carregada de uma leve tristeza. — Se fosse por isso, eu não teria me dedicado aos estudos como fiz, nem batalhado tanto para conseguir o emprego que tenho agora.