O clima pesado que se instala à mesa deixa todos desconcertados, com olhares cruzando o espaço, revelando o constrangimento que ninguém sabe como dissipar. O silêncio é espesso, quase palpável. Joana, percebendo que Victor está deixando seus sentimentos expostos demais, decide intervir. Ela se levanta com elegância, pedindo licença aos presentes e anunciando com voz firme:
— Vou conversar com o Victor. Volto em breve.
Rodrigo franze a testa ao ver a mãe saindo dali, claramente preocupado com o comportamento do irmão.
— O que está acontecendo com ele? — pergunta, sentindo uma mistura de inquietação e curiosidade.
Xavier permanece em silêncio, com os olhos fixos no prato, como se o mundo ao redor tivesse se apagado. Ele é um homem experiente, que já enfrentou situações delicadas na vida, e percebeu cada indireta que Victor lhe lançou, mesmo que os outros não tenham percebido.
— Você mencionou que o caso no Rio de Janeiro era bastante complexo e até perigoso, talvez o estresse dele venha disso — sugere Valentina, com uma voz serena, tentando suavizar o ambiente.
— Sim, era um caso complicado, mas tudo foi resolvido… — reflete Rodrigo, ainda com o semblante sério. — Victor sempre teve um temperamento difícil, mas nunca o vi assim em casa, especialmente com a família.
— Esqueça o seu irmão por um momento — diz Xavier, voltando a se concentrar no jantar. — Ele não deveria permitir que os seus problemas pessoais afetassem todos nós desse jeito. Olha só o clima pesado que ficou aqui! — Xavier se vira para Valentina e, com um gesto gentil, toca a mão dela. — Sinto muito por isso, Valen, você não deveria ter presenciado um ataque de fúria do Victor.
Valentina mantém a compostura, exibindo um sorriso acolhedor, que demonstra sua compreensão.
— Não se preocupe, sogro, estamos em família. Entendo que, às vezes, os nervos podem tomar conta — responde, com a voz suave, sem traço de abalo pelo comportamento intempestivo do cunhado.
Do lado de fora da mansão, Joana apressa os passos para alcançar Victor, que caminha em direção à garagem. Ela vê quando ele entra no carro, mas o chama com a voz alterada:
— Victor, espere!
Ele para, ainda com a porta aberta, e volta o olhar frio para a mãe. Sai do carro e fecha a porta com força.
— O que foi agora? — questiona, sem esconder a impaciência.
— O que você acabou de fazer foi inaceitável! — diz Joana, aproximando-se mais. — Esse comportamento na frente de todos… o que está acontecendo com você?
— Você não estava lá? Tenho certeza de que ouviu perfeitamente o que eu disse — rebate Victor, cruzando os braços, com o semblante duro.
— Filho, eu vi o que você fez, mas não compreendo o porquê — replica ela, com o tom de voz mais brando, mas firme. — Você estava tão irritado com o seu pai, que por um momento achei que fosse revelar a todos sobre as traições dele.
— Juro que fiquei tentado a fazer isso — admite, com um sorriso amargo. — Como você consegue fingir que está tudo bem, enquanto ele se senta à mesa dizendo o quanto a família é importante, se nem ao menos a respeita?
Joana mantém os olhos fixos nos dele, aproximando-se até ficar bem perto, como se quisesse ler cada pensamento do filho.
— Porque a única coisa que me importa agora é descobrir com quem ele me trai — revela, com um olhar frio. — Já lhe disse antes, Victor, o meu casamento com seu pai não mudará por causa disso. Nem por nada, nem por ninguém.
Victor arqueia uma sobrancelha, incrédulo com a naturalidade com que a mãe lida com a situação.
Joana percebe que o filho está se fechando, mas não pode ignorar a evidência.
— Victor, se os seus problemas pessoais estão interferindo no modo como você lida com a família, ainda mais com o seu pai, então deixe para lá o que lhe pedi outro dia — diz ela, com um tom resoluto. — Quero descobrir quem é essa amante e colocá-la em seu devido lugar, pode ter certeza disso — comenta, com os olhos gélidos transmitindo uma determinação insensível. — Mas não quero que essa situação cause desentendimentos entre você e seu pai. Somos uma família e precisamos manter isso, apesar de tudo.
Victor respira fundo, percebendo o quanto os acontecimentos estão o afetando. O pensamento de que seu pai poderia estar com Marina o deixa incomodado de uma forma que ele não consegue explicar. E, para piorar, a lembrança da foto dela com outro homem provoca uma raiva silenciosa que ele não admite.
Tudo é confuso. Quando está com Marina, ele vê algo nela que o perturba profundamente, uma inocência misturada a uma audácia que o faz querer se aproximar. Mas quando pensa que talvez ela esteja enganando-o com aquela aparência angelical, a frustração toma conta dele.
— Tudo bem, mãe, não se preocupe. Vou me desculpar com o meu pai pelo meu comportamento — diz, tentando encerrar o assunto.
Joana relaxa um pouco os ombros, visivelmente aliviada.
— Isso seria o melhor, querido. Assim, ele não suspeitará que estamos desconfiando de algo — declara.
— Quanto a essa amante, eu mesmo vou dar um jeito de descobrir quem ela é o mais rápido possível — promete Victor, caminhando em direção ao carro.
— Não vai mesmo ficar para o jantar? — pergunta Joana, com a expressão decepcionada ao vê-lo partir.
— Não, preciso resolver uma coisa agora — responde, entrando no carro e ligando o motor antes de sair rapidamente da garagem.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...