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Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira) romance Capítulo 74

Do interior do carro, Victor observa a cena que se desenrola diante de seus olhos e, sem que perceba, seus olhos se estreitam. Sua expressão permanece impenetrável, como uma máscara fria e inabalável, mas, por dentro, uma onda de incômodo o atinge com força. Ele não consegue explicar por que a visão de Marina nos braços de outro homem o afeta tanto, mas sente algo visceral. Suas mandíbulas travam e seus punhos se fecham com força, sem emitir som, mantendo a compostura externa enquanto assiste à assistente compartilhar um beijo longo e íntimo com o namorado.

Marina, por sua vez, se afasta de Sávio depois do beijo. E, por um instante, seus olhos se voltam para o carro onde Victor permanece, imóvel. Quando seus olhares se encontram, uma eletricidade quase palpável passa entre os dois. Marina sente uma mistura amarga de vitória e culpa. Embora sinta um triunfo momentâneo, ao perceber que sua provocação surtiu algum efeito, não consegue escapar do peso da culpa que começa a se formar. Afinal, estava usando Sávio naquilo.

Notando que está sobrando naquela situação, Victor desvia o olhar para a frente e, sem demonstrar mais nada, dá a partida no carro, saindo dali em silêncio.

Sem trocar mais palavras com Victor, Marina volta sua atenção para o namorado, lutando para se concentrar nele e não no turbilhão de emoções conflitantes que surgem em seu peito.

— Mari, eu realmente não esperava que fosse me receber assim — comenta Sávio, sorrindo, visivelmente surpreso e feliz com a atitude da namorada.

— Eu só queria que soubesse que aceito seu pedido de desculpas — diz ela, disfarçando as verdadeiras motivações por trás de suas ações e afastando qualquer menção ao que acabou de fazer.

Sávio a abraça novamente, desta vez com carinho genuíno, com um alívio claro estampado em sua expressão.

— Obrigado, meu amor. Sei que errei naquela noite, e isso me atormenta até agora — confessa, com uma sinceridade que a faz se sentir culpada.

— Que tal deixarmos tudo isso para trás? — propõe, tentando encerrar o assunto que tanto a incomoda. Não queria relembrar a terrível noite de sábado.

— Claro, vamos fingir que aquela noite nunca existiu. Podemos começar de novo — concorda, olhando para o rosto sério da namorada. — Está tudo bem, Mari? Aconteceu alguma coisa? — questiona, confuso com a aparente distância emocional dela.

— Não aconteceu nada — responde Marina rapidamente, quase como um reflexo automático. — Por que está me perguntando isso?

— É que você chegou tarde… — observa Sávio, claramente incomodado. — Não sabia que seu trabalho a faria ficar até essa hora.

— Sim, houve uma mudança no meu trabalho, tive que visitar um cliente com meu chefe — explica, evitando dar mais detalhes.

— E então ele resolveu te deixar em casa? — Sávio comenta, deixando o seu tom levemente tingido de ciúme. — Eu não sabia que seu chefe era tão… prestativo.

Marina prefere não prolongar a discussão, percebendo o incômodo sutil na voz de Sávio. Ela está cansada e, acima de tudo, quer evitar mais um confronto emocional.

— Estou muito cansada. Podemos nos ver outro dia? — pergunta ela, tentando encerrar a noite tranquilamente.

Mesmo frustrado, Sávio decide esconder sua decepção com um sorriso suave.

— Tudo bem… Eu só queria te ver e consertar as coisas entre nós. Fico feliz que tenha gostado das flores — diz ele, olhando para o buquê que Marina ainda segura.

— Eu adorei. São as primeiras flores que recebo na vida. Nunca vou esquecer disso — admite, com um sorriso genuíno surgindo em seus lábios.

Sávio a abraça mais uma vez e lhe dá um beijo longo, desta vez mais suave e cheio de afeição.

— Bom descanso, amor. Eu te vejo amanhã — despede-se, antes de sair lentamente.

Marina entra na padaria onde seus pais estão finalizando a arrumação para encerrar o expediente. Coloca o buquê e a bolsa sobre a mesa da cozinha e caminha em direção a eles.

— Boa noite, mãe. Boa noite, pai — cumprimenta, com um sorriso leve.

José a encara, visivelmente confuso.

— Boa noite, minha filha. Você chegou tarde hoje… — observa, com um tom paternal.

— Sim, e provavelmente isso acontecerá com mais frequência daqui para frente — diz ela, já prevendo que os novos desafios ao lado de Victor trariam muitas horas extras.

Marina fica boquiaberta, chocada com a acusação.

— Mãe, o que você está insinuando?

— Você sabe muito bem, Marina — Daniela praticamente grita. — Depois do que vi naquela videochamada, não tente me convencer de que é normal receber tanto dinheiro assim de um chefe.

— Não acredito que esteja pensando essas coisas de mim — Marina responde, e a decepção fica clara em sua voz.

— Do que vocês duas estão falando? — interrompe José, sentindo que estava prestes a perder o controle da situação.

Daniela se vira para o marido, ainda segurando o cheque.

— Lembra-se de que, quando a Marina estava no Rio de Janeiro, ela evitava nos fazer chamadas de vídeo? — pergunta ela, e José acena com a cabeça. — Quando finalmente consegui fazer uma, ela estava no banheiro, vestindo um daqueles pijamas curtos. E então, de repente, o chefe dela apareceu no fundo, usando apenas uma cueca! Como se fosse a coisa mais normal do mundo.

José, até então confuso, agora exibe uma expressão de choque, encarando a filha com desaprovação.

— Isso é verdade, Mari? — ele pergunta, com voz dura.

— Pai, não foi bem assim! — responde Marina, com a voz trêmula, enquanto as lágrimas ameaçam cair. — O Victor ligou para a mãe e explicou o que aconteceu. Foi tudo um mal-entendido.

— E acha mesmo que acreditei nessa história? — interrompe Daniela. — Sei que houve algo mais, Marina! Desde que voltou do Rio, está diferente. Não se engane achando que sou ingênua.

— Já parou para pensar que evitei falar com você porque percebi que não confia em mim? — Marina deixa as lágrimas rolarem, magoada pela falta de confiança da mãe. — Eu nunca dei motivos para a senhora duvidar de mim.

— Parem agora mesmo! — José ordena, sentindo a sua paciência se esgotando. Ele toma o cheque das mãos da esposa e o devolve à filha. — Ligue para o seu chefe e devolva esse dinheiro agora. E mais uma coisa: peça demissão!

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