Victor dirige pelas ruas, com o som do motor ecoando no silêncio de seus pensamentos. Tudo o que ele quer é afastar o estresse e o tumulto mental que parecem não lhe dar um segundo de paz desde que Marina entrou em sua vida. Desde o primeiro dia em que cruzaram caminhos, ele percebe que perdeu o controle completo da tranquilidade que antes reinava.
Seus dias se tornaram tensos, cheios de questionamentos, e o pior de tudo: a semana que passaram juntos no Rio de Janeiro pareceu amplificar ainda mais sua confusão.
Ao chegar em casa, estaciona o carro de qualquer jeito, refletindo sua frustração interna. Entrando pela porta principal, encontra seus pais sentados na sala, conversando em um tom baixo.
— Boa noite — diz ele, tentando soar casual, enquanto luta para manter a mente longe da imagem de Marina.
— Boa noite, filho — responde Xavier, com um sorriso leve. Ele está satisfeito por resolver o pequeno atrito que tiveram no jantar anterior, embora ainda sinta certo distanciamento da parte do filho.
— Já sabe da novidade, filho? — pergunta Joana, em um tom animado e quase conspiratório, como se tivesse uma surpresa positiva para compartilhar. — A Valentina conseguiu convencer o Rodrigo a demitir aquela assistente insolente!
Os olhos de Victor encontram automaticamente os do pai, buscando algum sinal de reação, mas Xavier mantém uma expressão neutra, observando o desenrolar da conversa em silêncio. Victor respira fundo antes de responder, já sabendo que sua revelação causaria surpresa.
— Sim, eu já sei. Agora, a Marina está trabalhando para mim — revela, num tom calmo.
Imediatamente, os rostos de Joana e Xavier mudam. A surpresa estampa-se no rosto de ambos, como se aquela notícia fosse a última coisa que esperavam ouvir.
— Como é? — Joana solta, confusa. — Pensei que você também a quisesse fora da empresa! Você mesmo disse que ela era petulante!
Victor balança a cabeça ligeiramente, lembrando-se das primeiras impressões que teve de Marina e de como tudo parecia ter mudado tão rapidamente. Ele suspira, preparando-se para a conversa inevitável.
— Sim, eu disse isso… mas foi no passado. — Sua voz é firme. — A Marina se mostrou muito competente durante nosso tempo no Rio de Janeiro. E por isso, decidi que vou deixá-la trabalhar ao meu lado.
Joana o olha com uma mistura de descrença e preocupação. Sua mente parece estar correndo para as piores conclusões possíveis, e ela não consegue esconder a inquietação.
— Competente? Como assim competente? — questiona, com voz levemente trêmula, o medo do pior se enraíza em sua mente. — Não me diga que ela está se insinuando…
Victor a interrompe, sem paciência para as insinuações.
— Preciso mesmo explicar para a senhora o que significa ser competente? — dispara, impaciente, seu olhar é sério e penetrante. — Estou falando de trabalho. Deixe as suposições de lado.
Sem esperar mais nenhuma pergunta ou provocação, ele passa pelos pais e sobe as escadas em direção ao seu quarto, ignorando os olhares incrédulos e confusos que eles trocam.
No quarto, Victor tira o paletó com um movimento brusco, sua mente continua tumultuada pela cena que não consegue esquecer: Marina beijando outro homem.
O banheiro o recebe com o silêncio e a promessa de algum alívio. Ele liga o chuveiro, permitindo que a água quente escorra por seu corpo tenso. Fecha os olhos, tentando afastar o peso do dia, mas tudo o que consegue ver é Marina nos braços de Sávio, seus lábios se tocando em um beijo que o deixou inexplicavelmente perturbado.
O que está acontecendo comigo? Por que essa imagem me afeta tanto? — pensa, enquanto a água cai sobre seu rosto, sem conseguir aliviar a pressão em seus ombros. Nunca permitiu que algo, ou alguém, mexesse com ele dessa forma, mas com Marina… parece impossível manter o controle.
— Eu não posso deixar que isso continue assim — murmura para si, quase como uma promessa.
Seu orgulho ferido e o sentimento crescente de posse o irritam profundamente. Ele, um homem acostumado a controlar tudo ao seu redor, se vê vulnerável a algo que foge completamente ao seu controle.
Victor, pego de surpresa, imediatamente sente uma pressão no peito. Algo na voz de Marina o faz acreditar que aquilo não é uma simples solicitação. Ele aperta o volante com um pouco mais de força. Por mais que tenha prometido a si não se deixar envolver, sabe que não pode ignorar esse pedido.
— Tudo bem — responde, sem hesitar. Sua voz está calma, mas por dentro, um redemoinho de emoções começa a se formar. — Vou mudar o caminho.
— Vou te esperar em frente à minha casa — ela diz.
— Chego aí em dez minutos — promete, desligando a chamada em seguida.
O silêncio instalado no carro é pesado. Victor solta um suspiro longo e pisca, como se tentasse organizar seus pensamentos. Ele havia combinado de encontrar Katrina, mas a simples menção de Marina mudou completamente seu foco. Não consegue evitar o turbilhão de pensamentos que agora o domina. O que teria acontecido para ela ligar assim? Marina não é o tipo de pessoa que demonstra fraqueza com facilidade, e isso só torna o pedido dela ainda mais intrigante.
Com o coração acelerado, pisa um pouco mais fundo no acelerador, cortando as ruas com mais agilidade. A cada quilômetro percorrido, seu peito se aperta um pouco mais. Há algo de errado, ele sente. Como se estivesse prestes a enfrentar uma tempestade emocional, uma que talvez nem esteja preparado para lidar.
Enquanto os minutos passam, sua mente corre para todas as interações recentes com Marina. O ciúme que sentiu ao ver as flores, a provocação no elevador, o incômodo que ela provoca em sua vida. Apesar de todo o desconforto que Marina trouxe, se vê incapaz de afastá-la de seus pensamentos. E agora, a urgência em sua voz só reforça o nó que se forma em seu estômago.
Ele estaciona o carro em frente à casa de Marina, com o coração batendo descompassado. O que está acontecendo com ele? Por que aquele telefonema o afetou tanto?
Enquanto espera por ela, tenta se recompor, tentando convencer a si de que está preparado para qualquer coisa. Mas, no fundo, sabe que Marina sempre consegue deixá-lo fora de equilíbrio, e isso o assusta mais do que qualquer outra coisa.
O portão da casa dela se abre e quando seus olhos se encontram, Victor sente que aquela conversa não será nada agradável.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...