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Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira) romance Capítulo 76

Marina sai de sua casa segurando a caixa dos sapatos que Victor havia lhe presenteado durante a viagem ao Rio. Seus passos lentos e a cabeça baixa mostram claramente o quanto está desconcertada com o que está prestes a fazer.

Quando se aproxima do carro, Victor a observa atentamente, desligando as chaves e se acomodando no banco, preparando-se para o que quer que estivesse por vir.

— Me desculpa por te ligar assim, de repente — diz Marina, com a voz trêmula, ao se aproximar da janela do passageiro. Ela segura a caixa com firmeza, mas evita o olhar de Victor. — Eu só preciso te devolver isso — continua, estendendo a caixa em sua direção.

Victor a observa por um segundo, confuso e impaciente. Seus olhos se estreitam levemente enquanto avalia seu gesto.

— E por que está devolvendo? — pergunta, com a voz mais fria do que o normal, escondendo a preocupação que começa a se formar em sua mente.

Marina inspira, antes de responder, sentindo o peso de suas próprias palavras.

— Não posso ficar com eles — diz, quase num sussurro. Sua mão trêmula vai até o bolso do moletom que usa e, de lá, retira um envelope. — E... também não posso aceitar isso — diz, mostrando o cheque que ele havia lhe dado.

O desconforto no rosto de Victor rapidamente se transforma em frustração. Com um movimento brusco, ele b**e no volante, expressando sua impaciência.

— O que está acontecendo, Marina? — Sua voz sai grave, carregada de autoridade e irritação. Mesmo tentando manter a compostura, fica evidente que o gesto dela o incomoda profundamente.

Por dentro, Marina sente-se devastada. Tudo dentro dela está um turbilhão de tristeza e confusão. Ainda não consegue acreditar no que sua mãe havia feito, transformando o presente em um motivo para desconfiança e levando seu pai a tomar uma atitude radical. Mesmo após tantos protestos e explicações, seus pais se recusaram a ouvir sua versão dos fatos. Para eles, era simples: ela precisava sair daquele emprego. Não importava o quanto tentasse argumentar, suas palavras pareciam cair em ouvidos surdos. A sensação de injustiça cresce dentro dela, mas, ao mesmo tempo, o sentimento de impotência a domina. Ela lutou o quanto pôde, mas, no fim, a pressão dentro de sua própria casa se tornou insuportável. Sem outra saída, decidiu ceder, mesmo sabendo que aquilo rasgava seu coração.

— Estou me demitindo, Victor — declara, desta vez com a voz firme, como se estivesse se obrigando a aceitar a situação.

Victor a encara em silêncio por um momento, processando as palavras que acabava de ouvir. Ele não pode evitar o nó que se forma em seu peito. Essa não é a resposta que esperava, e certamente não estava disposto a aceitar facilmente. Visivelmente inquieto, passa a mão pela barba rala num gesto nervoso, como se tentasse acalmar a turbulência de pensamentos que o consome.

— Se demitindo? — repete, como se a palavra tivesse um gosto amargo. — E por quê?

Marina morde o lábio inferior, sentindo a pressão das lágrimas se formando em seus olhos, mas recusa-se a deixar que elas caiam.

— Meus pais… Eles acham que… — Ela pausa, sentindo a garganta apertar. — Eles acham que tem algo errado entre nós. Que não é só trabalho. Eu tentei explicar, mas nada do que eu disse foi relevante.

Victor solta um suspiro pesado, inclinando-se ligeiramente no banco. Ele fecha os olhos por um momento, tentando controlar a raiva que começa a crescer dentro dele, não contra Marina, mas contra a situação que ela está enfrentando.

— Isso é ridículo — murmura, cheio de indignação contida. — Entra no carro! — ordena.

— O quê? — Marina questiona, confusa.

— Entra agora! — Victor ordena, com um tom firme.

— Eu não quero — confessa, com a voz trêmula. — Mas não posso fazer nada — desvia o olhar, sentindo o peso de sua própria confissão.

— A única coisa que me importa é a sua decisão, se não quer, não irá sair. Ouça… — começa, lutando para manter o controle. — Não deixe que outros tomem decisões por você. Você merece muito mais do que isso. Não deixe que te façam desistir dos seus sonhos devido a suspeitas tolas.

Marina balança a cabeça e o conflito interno estampa seu rosto.

— Eu sei, Victor. Sei que é injusto, mas preciso manter a paz em casa. E, agora, isso significa desistir do trabalho.

Ela abaixa o olhar, segurando a caixa e o cheque com força, como se aqueles objetos pudessem ancorá-la em meio à tempestade que sente dentro de si. Seus dedos apertam os itens com tal firmeza que os nós de seus dedos ficam brancos.

Victor observa suas mãos trêmulas e percebe o quanto aquela situação a afeta. Lentamente, estica a mão e a toca com um gesto suave. Seus dedos roçam levemente a pele fria e macia das mãos de Marina. O toque é delicado, mas carrega uma firmeza que transmite segurança, e isso provoca um arrepio que percorre o corpo de ambos.

Marina sente o calor da mão dele contra a sua e, por um momento, o medo e a incerteza parecem diminuir.

— Resolverei isso, não se preocupe — diz Victor, quase num sussurro, porém cheio de convicção, enquanto se inclina um pouco mais para perto dela. — Não quero e nem posso ficar longe de você — confessa, deixando a sua voz soar quase como uma súplica.

Ele se aproxima mais e seu olhar fixa nos lábios de Marina, que se entreabrem, ansiosos. O tempo parece desacelerar enquanto seus rostos se aproximam. E quando finalmente seus lábios se tocam, é como se todas as dúvidas e medos fossem suspensos por um instante. O beijo é profundo, carregado de uma mistura de urgência e alívio, como se ambos estivessem esperando por aquele momento. Marina não hesita. Ela corresponde ao beijo, deixando-se envolver pelo calor e pela intensidade de Victor, esquecendo, por um breve instante, do caos que a cercava.

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