Marina sai de sua casa segurando a caixa dos sapatos que Victor havia lhe presenteado durante a viagem ao Rio. Seus passos lentos e a cabeça baixa mostram claramente o quanto está desconcertada com o que está prestes a fazer.
Quando se aproxima do carro, Victor a observa atentamente, desligando as chaves e se acomodando no banco, preparando-se para o que quer que estivesse por vir.
— Me desculpa por te ligar assim, de repente — diz Marina, com a voz trêmula, ao se aproximar da janela do passageiro. Ela segura a caixa com firmeza, mas evita o olhar de Victor. — Eu só preciso te devolver isso — continua, estendendo a caixa em sua direção.
Victor a observa por um segundo, confuso e impaciente. Seus olhos se estreitam levemente enquanto avalia seu gesto.
— E por que está devolvendo? — pergunta, com a voz mais fria do que o normal, escondendo a preocupação que começa a se formar em sua mente.
Marina inspira, antes de responder, sentindo o peso de suas próprias palavras.
— Não posso ficar com eles — diz, quase num sussurro. Sua mão trêmula vai até o bolso do moletom que usa e, de lá, retira um envelope. — E... também não posso aceitar isso — diz, mostrando o cheque que ele havia lhe dado.
O desconforto no rosto de Victor rapidamente se transforma em frustração. Com um movimento brusco, ele b**e no volante, expressando sua impaciência.
— O que está acontecendo, Marina? — Sua voz sai grave, carregada de autoridade e irritação. Mesmo tentando manter a compostura, fica evidente que o gesto dela o incomoda profundamente.
Por dentro, Marina sente-se devastada. Tudo dentro dela está um turbilhão de tristeza e confusão. Ainda não consegue acreditar no que sua mãe havia feito, transformando o presente em um motivo para desconfiança e levando seu pai a tomar uma atitude radical. Mesmo após tantos protestos e explicações, seus pais se recusaram a ouvir sua versão dos fatos. Para eles, era simples: ela precisava sair daquele emprego. Não importava o quanto tentasse argumentar, suas palavras pareciam cair em ouvidos surdos. A sensação de injustiça cresce dentro dela, mas, ao mesmo tempo, o sentimento de impotência a domina. Ela lutou o quanto pôde, mas, no fim, a pressão dentro de sua própria casa se tornou insuportável. Sem outra saída, decidiu ceder, mesmo sabendo que aquilo rasgava seu coração.
— Estou me demitindo, Victor — declara, desta vez com a voz firme, como se estivesse se obrigando a aceitar a situação.
Victor a encara em silêncio por um momento, processando as palavras que acabava de ouvir. Ele não pode evitar o nó que se forma em seu peito. Essa não é a resposta que esperava, e certamente não estava disposto a aceitar facilmente. Visivelmente inquieto, passa a mão pela barba rala num gesto nervoso, como se tentasse acalmar a turbulência de pensamentos que o consome.
— Se demitindo? — repete, como se a palavra tivesse um gosto amargo. — E por quê?
Marina morde o lábio inferior, sentindo a pressão das lágrimas se formando em seus olhos, mas recusa-se a deixar que elas caiam.
— Meus pais… Eles acham que… — Ela pausa, sentindo a garganta apertar. — Eles acham que tem algo errado entre nós. Que não é só trabalho. Eu tentei explicar, mas nada do que eu disse foi relevante.
Victor solta um suspiro pesado, inclinando-se ligeiramente no banco. Ele fecha os olhos por um momento, tentando controlar a raiva que começa a crescer dentro dele, não contra Marina, mas contra a situação que ela está enfrentando.
— Isso é ridículo — murmura, cheio de indignação contida. — Entra no carro! — ordena.
— O quê? — Marina questiona, confusa.
— Entra agora! — Victor ordena, com um tom firme.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...