A ida até a cidade onde meus parentes moravam, no interior de São Paulo, parecia nunca ter fim. Acho que o maior problema era o fato de parecer mais um comboio indo para a prisão do que de fato para diversão. Talvez fosse o fato de estarmos em dois carros que fizesse isso comigo. Não saberia dizer.
Fernanda estava dirigindo, pois ela conhecia o caminho até lá. O que fazia com que Seth, ao lado, estivesse se segurando no passageiro, com leve medo de morrer porque digamos que Fernanda corria um pouco... Minha mãe, eu e Sophia estávamos no banco de trás, já um pouco acostumadas com a morte aparente sempre que Fernanda dirigia.
No carro de trás, os guardas de Seth vinham em comboio seguindo-nos e eu engoli em seco umas cinquenta vezes pensando o que minha família poderia falar sobre isso. Não fazia ideia.
Havia muito tempo que eu não os visitava. Não sabia como estavam, como reagiriam. Sequer lembrava direito do humor de alguns. Seth então interrompeu a minha linha de pensamento enquanto falava:
— Se eu não chegar vivo lá, diga a sua família que eu gostaria muito de estar com você, mas sua amiga fez questão de me matar do coração no caminho! — Disse Seth e eu ri enquanto Fernanda retorquia:
— Hey! Eu não dirijo tão mal assim! — E Seth então gritou:
— Dá para olhar para frente? — E Fernanda deu de ombros enquanto todos nós caíamos na gargalhada. Acho que Seth realmente teria um ataque cardíaco até chegarmos lá...
*
Não demorou para que chegássemos. Iríamos visitar a vovó e depois seguiríamos para o sítio que Seth havia alugado, onde a família nos encontraria dali umas três horas para jantarmos e conversarmos, enquanto Seth conhecia um pouco da minha família. Na verdade, isso me dava um relativo medo, visto que minha família era uma incógnita até mesmo para mim e eu sequer sabia como reagiriam com Seth.
Vovó nos esperava no portão da casa dela cercada por alguns tios e primas e primos e tias. Todos ao redor dela e do vô. Eles já eram idosos, mas tinham uma energia vibrante, que transparecia no olhar deles. Sorriam muito e quando saímos do carro, Seth segurou minha mão entre as suas, o que me fez sorrir enquanto seguíamos para próximo deles.
A primeira a falar foi mamãe que começou abraçando meu avô seguido de minha vó com a qual ela continuou num abraço forte e demorado. Quando se soltou de vovó, mamãe então falou:
— Este é meu genro do coração. Ele não fala a nossa língua, mas a Agnes pode traduzir o que ele fala, mamãe. Ele vem de Omã. — Esclareceu mamãe e minha vó ficou olhando para Seth por longos segundos antes de perguntar:
— Onde fica Omã? — E eu então decidi falar:
— Fica no Oriente Médio vovó. — E vovó arregalou os olhos. Para minha surpresa, vovó deu um tapa no braço de Seth, o que me fez arregalar os olhos e a boca sem acreditar no que ela tinha feito enquanto ela falava:
— Você não é um homem bomba, não é mesmo? — E Seth riu enquanto sussurrava para mim a medida que esfregava o braço dolorido:
— Vejo de quem você herdou a brutalidade. — E eu revirei os olhos diante do comentário dele, dando um tapa no outro braço dele.
— Vai apanhar de duas mulheres se continuar engraçadinho, senhor riquinho. — Disse piscando e Seth abriu um largo sorriso para mim, mas eu me esquivei antes que eu caísse em seu charme já aproveitando para responder vovó:
— Ele não é um homem bomba vovó. Ele é filho de um Sheikh. — E ali foi um outro problema, pois precisei explicar para vovó o que era um Sheikh e no fim não deu muito certo, pois vovó deu de ombros e disse:
— Vamos todos tomar um café! — E então entramos com o intuito de tomar café.
— Você sabia que o café é originário do povo árabe? É interessante que o meu povo e o seu compartilhem algo tão bom como um cafezinho. — Disse Seth e eu fiquei a pensar no que ele falava. Não sabia disso.
— É interessante mesmo. — Respondi.
Continuamos tomando café até o momento que a conversa humilhante sobre o passado surgiu. Infelizmente, Seth entendia muito e minha família pareceu perceber isso, já que começaram a contar coisas da minha infância que eu realmente não queria que ele soubesse.
— Quando Ag era pequena ela era bem gordinha, sabe? — Disse vovó e eu revirei os olhos. Aparentemente vovó sabia que quando Seth dizia “Yes” ele queria que ela continuasse falando e ela se entusiasmava ainda mais para falar coisas humilhantes sobre a minha infância. Era só para me tirar do sério. Só pode. Porque eu estava já ficando com raiva desses comentários nada legais. — E ela quando corria era muito engraçada! Parecia um pato esganando! — Vovó ria e todos riam junto dela e só eu não achava graça. Que mal tinha em ter sido gordinha? Qual o problema com os gordinhos? Eles são gente normais também, ora!
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um Sheikh no Brasil
Maravilhoso, amei a história. Parabéns a autora, soube prender minha atenção com comedia, ação, drama e romance na medida certa....