NICK
Já se passara um mês desde o incidente com Samuel, e eu continuava tentando marcar algo com a doutora, porém ela se mostrava cada vez mais esquiva. Cansado dos joguinhos, avisei que, se não tivesse a menor intenção de ficar comigo, dissesse logo, para que eu parasse de insistir.
A boa doutora, percebendo que eu não entraria na dança, alegou ter a agenda abarrotada por causa do trabalho. Eu não podia me importar menos. Éramos dois adultos; o mínimo que poderíamos fazer era agir como tais.
Se alguém não gosta de uma pessoa ou de alguma situação, basta falar em vez de fazer o outro perder tempo. Naquele momento, eu permanecia sentado em um restaurante italiano aguardando por ela. Segundo a pesquisa que Owen realizara, a doutora apreciava comida italiana, então ele reservara o local para nós.
Preciso admitir: o salão era bonito, com ar sofisticado. Uma música clássica suave preenchia o ambiente, sem que se descobrisse de onde vinha, conferindo serenidade e tranquilidade aos clientes. Eu mesmo me sentia calmo, apesar de ter chegado irritado pela enrolação dela.
Não pretendia continuar correndo atrás da doutora, porque não a amava. Apenas gostava dela e das afinidades que compartilhávamos sobre relacionamentos. Também desejava prová-la de novo, já que tudo naquela noite permanecia um borrão. Talvez fosse melhor assim.
— Senhor, gostaria de beber algo enquanto espera? — Perguntou a garçonete com um sorriso gentil. Parecia jovem, talvez estudante em busca de renda extra. Os olhos dela brilhavam, transbordando inocência. Que o mundo lhe fosse bondoso, pequena, que jamais provasse as dores e crueldades que ele oferece.
Que fosse protegida por toda a vida, preservando a própria inocência.
— Senhor? — Saí do transe e notei que ainda a encarava; agora ela parecia desconfortável. Pobrezinha, melhor acostumar-se ao incômodo, porque o mundo é um lugar bem áspero.
— Traga uma garrafa do seu melhor vinho tinto, por favor. — Ofereci-lhe um sorriso. Ela retribuiu, desta vez de modo nervoso, e se afastou apressada. Pobre garota, eu era o menor dos seus problemas, mas que ficasse atenta a outros predadores como eu.
Peguei o copo d’água e bebi um gole. Quando ergui a cabeça, vi a doutora. Usava um vestido preto longo, ombro a ombro; os cabelos, presos em um coque impecável; os lábios, pintados de vermelho. Parecia uma tentadora enviada para me provocar.
Os lábios dela se entreabriram ao notar minha presença, e um sorriso surgiu. Assenti, e ela veio até mim, balançando os quadris. A fenda do vestido, que eu não notara antes, se abria a cada passo, revelando parte da coxa e fazendo-me engolir em seco.
Provocava-me, exibindo o que eu poderia ter naquela noite se jogasse bem minhas cartas. Quando se aproximou, levantei-me como cavalheiro. Cumprimentei-a e puxei-lhe a cadeira. O sorriso dela se alargou ao sentar-se, sentindo-se valorizada. Ótimo, começávamos bem.
No instante em que se acomodou, o perfume dela tomou o ar, e eu inspirei fundo. Dei a volta na mesa e me sentei, justamente quando a jovem inocente trouxe o vinho. Serviu-nos duas taças.
— Desejam pedir agora ou preferem um momento para o cardápio? — Para não a deixar desconfortável, mantive o olhar na doutora.
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