A Babá Perfeita romance Capítulo 19

- Então você vai mesmo seguir com a ideia de uma festa para Maisy? - Judith me olha, como se eu tivesse enlouquecido.

Sentadas na cozinha, enrolando brigadeiros, eu sorrio para ela demonstrando mais tranquilidade do que estou sentindo de verdade. Não tenho por que esconder os meus planos de Jud. De todos os adultos na casa, ela é a pessoa com quem sinto mais liberdade para conversar. Por isso conto logo minha ideia para ela, que me encara com perplexidade por um longo momento, antes de cair na gargalhada.

- Você é louca, louquinha, chica...

- Claro que não - digo com naturalidade, dando de ombros. - Eu ainda acredito que não exista uma maneira melhor de comemorar um aniversário na infância do que fazendo uma boa festa.

- Ah, eu preciso discordar. Sabe que eu nunca tive uma festa de aniversário?

Olho para ela sem esconder a surpresa.

- Nunca?

- Nunca - Jud afirma. - Meus pais não tinham dinheiro para me dar uma. E depois que meu pai morreu, mi mamá precisou encontrar um segundo emprego para pôr a comida na mesa.

As palavras dela me atingem dolorosamente. Meu coração afunda no peito.

- Sinto muito, Jud.

- Tudo bem, Chloezita. Isso ficou no passado - ela garante com um meio sorriso. - Mas o que eu queria dizer é que festas de aniversário não são o mais importante. O que importa mesmo é ter amigos que se preocupam com a gente, como você vem fazendo com essas meninas - o sorriso se amplia no seu rosto e ela empurra meu ombro de leve com o seu, voltando a trabalhar nos docinhos. - Você tem mesmo um bom coração, chica.

Eu sorrio, amargamente, balançando a cabeça em uma negativa.

- Ah, eu não sou essa pessoa que você está imaginando, Jud. Eu já fodi com tudo tantas vezes que perdi as contas - admito com um revirar de olhos. - Sou uma pessoa tóxica. E não sei se estou realmente fazendo bem a essas crianças - hesito por um instante, antes de dizer as palavras a seguir. -  O mais provável é que esteja me aproveitando delas para tentar me curar.

Penso em meu pai, em Mallory e em todo o resto. Sem poder evitar, encolho os ombros, com um nó entalado na garganta. Desde que minha mãe morreu, a situação foi se complicando até eu perder totalmente o controle, sair fora dos trilhos. Meu pai esteve ao meu lado em cada momento, estendendo sua mão e me emprestando o seu ombro. E, mesmo assim, eu surtei a cada problema que encontrava no caminho.

Que tipo de pessoa eu sou?  O que sou capaz de ensinar a duas crianças tão especiais quanto Evie e Maisy?

Judith me encara com seriedade. Seus olhos escuros reluzem na pele morena. Ela é bonita, com seus cabelos negros sempre bem presos em um coque, e parece sempre radiante a despeito de ter uma história triste no passado. Além disso, tem uma personalidade incrível e sempre um bom conselho para dar.

O que fazem as pessoas serem tão diferentes? Reagirem as coisas de maneira própria e não como se espera delas, muitas vezes?

- E quem nunca estragou as coisas? - ela pergunta. - O importante é que você aprendeu com os seus erros, não?

Eu olho para Jud, confusa.

- Será que aprendi?

Ela sorri com carinho, deitando a cabeça em meu ombro.

- Tenho certeza que aprendeu. Porque tenho aqui, diante de mim, uma menina linda enrolando docinhos para comer com duas crianças em seu dia de folga. Que outra prova eu posso querer?

***

Perto das quatro da tarde, eu sorrio, satisfeita, ao ver que está tudo pronto e, pasmem, saindo melhor do que o planejamento inicial!

As crianças ficaram brincando no quarto com Abigail durante a tarde e, por isso, não fazem ideia do que irão encontrar quando descerem as escadas. 

Com uma pontinha de orgulho, eu vou atrás de Max. Dessa vez, para minha surpresa, ele não está no escritório, que está vazio e com a porta aberta. Sigo mais alguns metros pelo corredor até chegar a porta fechada do seu quarto. Bato, controlando a súbita explosão de ansiedade. 

Espero um pouco e, quando a porta se abre, ele me olha, surpreso.

- Precisa de alguma coisa, Chloe? 

Inferno.

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