- Ei, acorda, sua lerda. Eu já cheguei.
Abro os olhos e me deparo com a cara ansiosa de Mallory ao meu lado. Seus cabelos louros estão soltos e bem escovados, emoldurando os olhos enormes cobertos por uma maquiagem escura.
Ela está usando um cropped preto que deixa a mostra o piercing no umbigo, e uma saia jeans curta de cintura baixa.
- Você está sujando o chão todo - eu reclamo, enquanto me levanto, sonolenta, me referindo as manchas no piso vinílico deixadas pelas suas botas pretas de cano alto. - Você não conhece limites.
Ela sorri de canto, a imagem descarada do deboche.
- Não mesmo. Limites são para os fracos.
Eu respiro fundo, tentando reprimir as pontadas fortes na cabeça. Ainda estou de enxaqueca desde a bebedeira da noite anterior. Mesmo assim, de alguma forma, Mallory conseguiu me convencer a sair hoje com ela novamente. Vai haver uma festa a algumas quadras daqui, com cerveja e uma corrida idiota de carros.
- Vamos logo. Estamos perdendo tempo. Se veste - ela diz, apressada, abrindo e vasculhando o meu guarda roupa. - Quanta porcaria, Chloe! Eu não acredito que você usou mesmo essas coisas.
Eu reviro os olhos.
- Nem eu - digo com rancor, desviando o os olhos assim que vejo as roupas compradas com Evie e Judith. Um aperto esmaga o meu coração. Nem parece, mas já se passaram duas semanas desde a tarde no shopping. Nos primeiros dias, acreditei que
- Que tal isso? - Mallory ergue uma calça jeans e um body cereja em tule, parecendo satisfeita com a escolha. Ele tem apliques bordados e um forro cobrindo apenas os seios, o que garante que todo o resto da pele da cintura para cima esteja a mostra. - É sexy.
Eu sorrio.
- Foi você que me deu de aniversário.
- Eu sei - ela dá de ombros, jogando as roupas sobre mim na cama. - Esse bom gosto nunca teria partido de você.
Eu me levanto e começo a me vestir, ainda empenhada em ignorar a ressaca mais longa da história. Mallory se senta ao pé da cama e me acompanha com os olhos. Ela não se cansa de dizer o quanto minhas curvas são lindas e como eu deveria exibi-las mais. Minha amiga é do tipo magrinha, com seios pequenos e um rosto delicado que faz questão de encobrir com o máximo possível de maquiagem. Uma bad girl de respeito.
- Duas festas em um único fim de semana - eu suspiro, preocupada. - Prometi ao meu pai que, mesmo depois de sair da mansão, eu manteria nosso acordo, Mallory.
Ela atira a cabeça para trás, impaciente.
- Você NÃO vai dar para trás agora, ouviu? É só uma festinha. E o seu pai nem vai saber - garante com um olhar raivoso. - Além disso, quem mandou ele me proibir de vir aqui? Se sua mãe fosse viva, isso nunca teria acontecido.
- Minha mãe amava você.
- Acho que ela só tinha pena de mim.
Abro a boca para contestar, mas diante do seu olhar duro, eu me calo. Sei que minha mãe morria de pena de Mallory, era verdade. Mas acho que a amava também, contudo...
- Ela dizia que eu deveria ter cuidado com você.
Mallory franze a testa, surpresa.
- Ela disse isso mesmo? Pois eu não entendi. Eu nunca faria nada para prejudicar você, Chloe.
- Eu sei.
- Eu amo você - ela enfatiza com os olhos cravados em mim, enquanto se levanta da cama com uma espécie de sobressalto. - Foi a única amiga que ficou depois que a minha mãe me deixou. Você é como uma irmã para mim.
- Eu sei disso - repito, indo até ela e enlaçando-a em um abraço apertado. - Você é minha melhor amiga e eu também amo você. Apesar de, na maior parte das vezes, não concordar com suas atitudes.
Mallory suspira, afastando-se para me olhar com uma crítica explícita nos olhos.
- Você não é perfeita, Chloe. Nenhuma de nós duas é. Então para de me criticar, tá legal?
- Ok, certo, não está mais aqui quem falou - prometo, erguendo as mãos em sinal de paz. - Você ainda vai me ajudar a me maquiar?
Ela me observa por um longo instante até que, pouco a pouco, a irritação vai sumindo dos seus olhos.
Mallory dá de ombros.
- Que opção eu tenho? De jeito nenhum eu vou ser vista ao seu lado dessa forma.
Eu rio, empurrando ela pelo ombro.
- Sua babaca.
- Certo, vamos começar a Operação Milagre - ela sorri, cáustica, mostrando que sabe exatamente onde está cada coisa no meu quarto, ao caminhar até a penteadeira e tirar da segunda gaveta um estojo de maquiagem. - Quando eu terminar com você, nem Jesus vai te reconhecer.
- Ok, eu estou oficialmente apavorada - brinco, com uma risada nervosa. - Você pode não pegar muito pesado, por favor?
Mallory abre um sorriso largo e muito assustador, que declara suas verdadeiras intenções.
- Veremos.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Perfeita
Amei a história! Vale a pena a leitura! Pena que não achei a continuação!...
Parabéns @RebecaSantiago! Além de um ótimo enredo, escreve muito bem e tem um português muito bom, o que torna a leitura melhor ainda. Depois deste, vou ler seus outros romances. Vc é admirável. Virei fã....
Ameiiiiiiii❤️❤️❤️❤️❤️❤️🥰...
Qual é a plataforma que está o seu livro: A ESPOSA PERFEITA??...
tirando o uso desnecessário de tantos palavrões é uma ótima historia...
Muito bom estou curtindo muito esta historia <3...