A Babá Perfeita romance Capítulo 24

Na véspera de Natal, as coisas entre o meu pai e eu ainda não se acertaram. Para piorar, é difícil de engolir quando ele diz que a tia Rose virá cear conosco a noite.

Eu fico calada, mas o meu olhar com certeza diz tudo. De jeito nenhum vou ficar sorrindo para ela, nem em nome do espírito natalino! Meu pai sabe exatamente o que eu penso a respeito dessa mulher. É uma cobra que, em vez de apoiar a própria irmã, no seu leito de morte, só quis saber de tripudiar em cima dela. Que ódio! Só de pensar que vou ter que dividir a mesa na noite de Natal com ela... sou capaz de me trancar no quarto só para não ter esse desgosto.

Ainda pela manhã, eu recebo um telefonema da casa dos Lancaster que só me deixa mais irritada. Nervosa, Abigail conta que Evie e Maisy se uniram em uma greve de fome que já dura dois dias, desde que descobriram que minha saída da mansão foi originada por uma briga com o seu pai. Diz que as meninas estão desoladas e nem mesmo os preparativos para a ceia estão sendo capazes de animá-las.

No entanto, o troglodita imbecil do pai delas permanece irredutível. Não aceita que as meninas retomem o contato comigo. Argumenta que são crianças e que é da sua natureza fazer birra por qualquer coisa.  Que logo elas acabarão esquecendo a minha existência. Abigail acha que ele também está  preocupado, mas que não quer dar o braço a torcer.

Isso me deixa furiosa. Esse desgraçado é incapaz de pensar em qualquer coisa além do próprio umbigo. É tão difícil assim para ele colocar as filhas antes de si mesmo? Idiota cruel sem coração.

Eu peço que Abigail se acalme e prometo que, com sua ajuda, eu posso ajudar a melhorar as coisas. A princípio, ela parece desconfiada, mas eu explico tudo a ela com detalhes e peço sua quando chegar o momento certo.

Depois disso, desligo o telefone, sabendo exatamente o que devo fazer a seguir.

***

Na primeira vez em que fui a mansão Lancaster, eu não sabia no que estava me metendo. Precisava de uma vaga como babá e acabei encontrando duas crianças lindas e problemáticas, amigos confiáveis que fizeram eu me sentir em casa e um patrão sexy e atraente, mas também sórdido, capaz de me aprisionar em uma rede de intrigas e sedução.

Mas esse tempo acabou. Agora as coisas são bem diferentes. Eu conheço Max Lancaster e o inferno em que os sentimentos indesejados são capazes de envolver uma garota inexperiente. Max, com seus segredos sujos e obscuros, já não é capaz de ter nenhuma influência sobre mim. Eu já flertei com o  mistério inquietante que espreita por trás dos seus olhos abrasadores. Ousei espiar o inferno uma vez, me atrevi a encostar em suas labaredas de fogo. Como não podia deixar de ser, acabei queimada.

Renascendo das cinzas, eu retorno ao lar dos Lancaster, de cabeça erguida. Não existe nem mesmo a sombra da insegurança que me cercava naquele dia. Eu estou confiante. Sei como posso fazer para ajudar Evie e Maisy e nem mesmo Max Lancaster será capaz de me impedir. Ele que tente e eu sou capaz de destroçá-lo sem nenhuma piedade.

O novo segurança da mansão é o primeiro a me ver chegar. Seus olhos de lince não deixam mesmo passar nada. Pelo porte e pela forma como me encara de cima, rígido como uma estátua de parque, imagino que Judith estava certa ao dizer que pertenceu as forças armadas. É o tipo de trejeito que não se perde facilmente.

- Eu quero falar com o Sr Lancaster - anuncio no portão, olhando-o da mesma forma. - É urgente.

- O Sr Lancaster encontra-se ocupado - ele sorri de canto. Um sorriso que não chega aos olhos. - E você não tem mais autorização para entrar nessa casa.

- Então chame um dos empregados - não vou deixar me abater por esse babaca em seu terninho preto alinhado. - Peça que me autorizem.

- Volte outra hora. Ou melhor, agende um horário com o Sr Lancaster através da secretária dele, Srta Henderson - seu tom de voz sai impregnado de sarcasmo. - Você não tem mais acesso garantido, como eu acabei de informar. Se insistir, terei que chamar a polícia.

Surgindo ao seu lado, José, o porteiro, me olha com uma certa compaixão. É evidente que não sabe o que fazer, mas gostaria de intervir. Com o sangue fervilhando, eu respiro fundo, tentando controlar cada célula do meu corpo que me impele a gritar a esse palhaço de terninho tudo o que penso a respeito dele.

Nesse instante, o rádio no bolso esquerdo do seu paletó emite um estalido. A tensão crepita entre nós e, pelo seu olhar irritado, eu sei que ele já imagina o que vai ouvir do outro lado da linha antes mesmo de atender.

- A Srta Henderson está autorizada - a voz de Abigail soa metálica, mas clara através do aparelho. - Faça ela entrar imediatamente.

Eu abro o meu melhor sorriso, enquanto, sem questionar as ordens da governanta, o cão de aguarda faz um sinal para que Jose abra o portão.

- Com licença - eu passo a centímetros dele, com o cuidado de não esbarrá-lo e causar uma explosão, atirando músculos de pedra para todos os lados.

Juro que posso ouvi-lo grunhir, assim como posso sentir os seus olhos cravados na minha nuca, enquanto me dirijo a entrada da casa.

- Chloezita! - Judith grita, jogando os braços em volta de mim e me apertando com força - Eu não acredito que você veio. Essa casa sem você no eres nada. 

- Onde estão as meninas? - pergunto, quando ela abre espaço, me convidando para entrar.

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