A Babá Perfeita romance Capítulo 29

A curiosidade não é um pecado de verdade. Não um dos grandes.

Eu entro sorrateiramente no escritório de Max Lancaster, deslizando pela porta antes de fechá-la atrás de mim, como se estivesse me escondendo do próprio diabo. Para o meu espanto, existe uma chave pendurada do lado de dentro, que eu uso para trancar a fechadura. Posso sentir o impacto do meu coração contra as costelas. Caramba, mal posso acreditar na minha sorte! 

De onde estou, encostada contra a porta, corro os olhos pelo cômodo, percebendo que o breu total será um problema. Mas o que eu posso fazer? Não posso cometer nenhum vacilo essa noite. 

A cadeira, por trás da sua mesa, a mesma onde ele fica sentado o dia quase todo, me faz congelar. Nas sombras, acredito ver sua silhueta me encarando em silêncio do escuro. Credo. Um arrepio levanta os pelos da minha nuca. Então ligo a lanterna do celular, clareando apenas o suficiente para afastar os fantasmas.

Quem diria que, depois de flertar tanto com o crime, eu fosse me tornar mesmo uma criminosa? Passo para o outro lado, atenta ao menor ruído que seja. É como se a presença de Max me perseguisse, me dizendo que o que eu estou fazendo é perigoso e errado. Ok, eu não preciso que você me diga isso. Cale a boca e fique quieto. O espectro Lancaster se afasta, mas continua me observando de um canto do cômodo, com ar de reprovação.

Nem sei por onde começar. Eu bufo e reviro os olhos, odiando os papéis perfeitamente organizados, que só comprovam aquilo que eu já sabia. O cara é um maníaco! Não é de se estranhar já que ele passa mais tempo aqui dentro do que em qualquer outro lugar no mundo. Especialmente agora que não tem ido a empresa. Abigail disse que é o primeiro recesso que ele faz em muito tempo. Até ela achou isso estranho.

- Recesso coisa nenhuma - eu balanço a cabeça, resmungando em voz alta. Qual o sentido de um recesso se você vai levar o trabalho para dentro de casa?

Lembro que, semanas antes, a falta dos porta retratos em sua mesa chamou minha atenção. Mas isso é só um borrão na minha mente agora, enquanto abro suas gavetas. Uma por uma, vou olhando os documentos, comprovantes, notas fiscais e tudo mais, com atenção para não tirar nada da ordem. Sei muito bem como os maníacos por organização são. Eles decoram a ordem de tudo e qualquer papel fora do lugar pode levar ao minha sentença de morte.

Sei que o que estou fazendo é loucura. Tudo bem, é mais do que loucura... é completamente ilegal! Mas situações drásticas exigem medidas desesperadas. E se alguém entende bem de desespero esse alguém sou eu. Faz duas horas que eu me deitei na cama e, depois de rolar de um lado para o outro até minha cabeça quase estourar, decidi que o meu sono está condicionado a descobrir o que o Sr Lancaster esconde por trás daquela fachada de músculos, poder e auto confiança. Existe uma resposta para o seu comportamento em relação a mim. 

De jeito nenhum, Max está me contando tudo. Então chegou a hora de eu descobrir por mim mesma.

Continuo a busca frenética e já estou quase desistindo, quando me deparo com uma gaveta trancada na parte de baixo. Fico paralisada porque, de alguma forma, eu entendo que é exatamente ali que se encontra o que quer que seja que eu estou procurando. Meus dedos estão formigando de ansiedade. Acho que posso tentar abrir com um grampo de cabelo, como nos filmes. Exceto que... eu não tenho um grampo de cabelo. E isso não é um filme, meu cérebro idiota debocha, com uma risadinha irônica. 

Certo. O que pode ter a mesma serventia do grampo de cabelo? Meus olhos percorrem a sua mesa de arrumação metódica, quando vejo um porta canetas cheio de pequenos clipes. Sorrio, triunfante. Chloe, você é genial. Encaro a fechadura reluzente, sabendo que hoje, finalmente, conhecerei os segredos de Max Lancaster, o mistério perturbador que assola essa casa, quando a luz do corredor é acesa e o meu coração entala na garganta. 

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