A Babá Perfeita romance Capítulo 34

Eu dou a Abigail um copo de água com açúcar e, pouco a pouco, ela parece se acalmar.

- Você quer que eu chame Jud? Javier?

Ela balança a cabeça devagar.

- Não, querida. Obrigada. Eu já estou melhor - garante com um sorriso fraco. - Pobrezinha, você deve ter ficado aterrorizada com os meus gritos. Lamento ter assustado você.

- Eu estou bem. Minha preocupação é você - afirmo, sentada ao seu lado em uma das cadeiras da sala de jantar. - O que aconteceu, Abigail? Você sabe quem estava conversando com as meninas no portão?

Ela não me olha. Aliás, parece fazer o possível para não me encarar. O tremor no seu corpo cessou, mas os dedos ainda tamborilam nervosamente sobre o tampo da mesa.

Há alguns minutos, ouvimos a porta da frente bater e eu soube que Max e as meninas tinham voltado para casa, apesar do silêncio devastador entre eles.

Eu poderia ter ido até lá. Ter subido e pedido algumas explicações. Mas preferi ficar ali mesmo com Abigail. Ela com certeza não estava em condições de ficar sozinha. E eu não iria deixá-la.

Não posso dizer que Abigail é como uma mãe para mim, mas dentro dessa casa, ela é o mais próximo que eu tenho disso. Não posso esquecer que foi ela quem me ajudou a conseguir esse emprego e também que acabou me estimulando a voltar para ele.

Ela se vira para mim com um olhar carinhoso e uma emoção indescritível e eu morro de vontade de abraçá-la por um instante.

Quando já desisti de ouvir uma resposta a minha pergunta, Abigail suspira e sua voz sai nuito baixa ao dizer:

- Por que acha que eu sei quem era?

- Porque eu acho - me inclino para perto dela e digo, também em tom de confidência: - Acho que vocês dois sabem.

Ela me olha, hesitante, o medo indisfarçado em seus olhos.

- Nós dois?

Eu solto o ar lentamente pela boca. Essa conversa não vai ser nada fácil, mas eu não costumo desistir. Sou mais de ir em frente.

- Você e o Sr Lancaster. Sei que vocês dois escondem alguma coisa. Alguma coisa no passado dessa mansão.

O olhar de Abigail faria com que eu me sentisse uma louca se, por um ínfimo segundo, eu não tivesse visto o lampejo de algo mais dentro dele.

- Ah querida Chloe - ela sorri com uma condescendência irritante. Segura minha mão sobre a mesa, o que me surpreende. Abigail não é dada a contatos íntimos.  Será que está tentando me dizer alguma coisa? Me passar uma mensagem silenciosa? - Você sempre foi tão audaciosa, tão corajosa. Desde pequena. Sua mãe admirava tanto isso em você... e eu também.

- O que isso quer dizer, Abigail?

Ela sorri, dando dois tapinhas na minha mão antes de soltá-la.

Tenho vontade de gritar com ela. E se eu acreditasse que ser desrespeitosa fosse melhorar as coisas a essa altura, provavelmente o faria.

- Onde está o Sr Lancaster? - eu pergunto, olhando para a porta da cozinha como se fosse vê-lo materializado ali.

- Deve estar com as meninas, imagino.

- Ele ficou muito preocupado- e quem não ficaria?, eu penso, relembrando o grito aterrorizante de Abigail no corredor e suas palavras que fizeram meu coração parar por um momento. Sem poder me controlar, faço mais um avanço - Isso é tudo culpa dele, não é? As meninas estão correndo algum perigo?

Ela não me responde.

- Você não vai me dizer o que está acontecendo, não é? Vai preferir morrer com esse segredo que está te consumindo por dentro.

A governanta desvia os olhos. Seu silêncio me deixa agoniada. Eu faço o possível para não sentir raiva. Misturada a um sentimento de compaixão, mas sinto. Gostaria de ajudar, mas para isso, Abigail precisaria se abrir comigo e, obviamente, ela não confia em mim o bastante. Ou isso ou...

- Você está tentando me proteger de alguma coisa?

Ela desvia os olhos para as próprias mãos de unhas bem curtas sobre a mesa. Então empurra a cadeira para trás e se levanta de repente.

- Acho que todos nós merecemos um descanso. Por que não vai se deitar? Amanhã tudo isso vai aparecer menos assustador do que realmente foi - ela passa por mim, acariciando meu cabelo muito brevemente antes de sair da cozinha. - Boa noite, Chloe.

- Boa noite, Abigail.

Eu assisto ela se afastar e espero alguns minutos antes de subir as escadas pronta para enfrentar a próxima batalha da noite.

***

- Max! - eu exlamo assim que ele sai do quarto das meninas - Que merda está acontecendo?!

Fiquei montando guarda na porta do quarto de Evie e Maisy  desde que Abigail se recolheu para tentar dormir um pouco. Ou pelo menos descansar, porque eu duvido que algum de nós vá conseguir dormir essa noite.

- Agora não, Chloe.

- Por que a Maisy... - eu insisto, mas ele me interrompe.

- Srta Henderson! Eu disse agora não.

Ele passa por mim como um raio, desce as escadas pulando o maior numero de degraus possível.

Eu bufo, contrariada. Aquele estúpido!

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