Eu dou a Abigail um copo de água com açúcar e, pouco a pouco, ela parece se acalmar.
- Você quer que eu chame Jud? Javier?
Ela balança a cabeça devagar.
- Não, querida. Obrigada. Eu já estou melhor - garante com um sorriso fraco. - Pobrezinha, você deve ter ficado aterrorizada com os meus gritos. Lamento ter assustado você.
- Eu estou bem. Minha preocupação é você - afirmo, sentada ao seu lado em uma das cadeiras da sala de jantar. - O que aconteceu, Abigail? Você sabe quem estava conversando com as meninas no portão?
Ela não me olha. Aliás, parece fazer o possível para não me encarar. O tremor no seu corpo cessou, mas os dedos ainda tamborilam nervosamente sobre o tampo da mesa.
Há alguns minutos, ouvimos a porta da frente bater e eu soube que Max e as meninas tinham voltado para casa, apesar do silêncio devastador entre eles.
Eu poderia ter ido até lá. Ter subido e pedido algumas explicações. Mas preferi ficar ali mesmo com Abigail. Ela com certeza não estava em condições de ficar sozinha. E eu não iria deixá-la.
Não posso dizer que Abigail é como uma mãe para mim, mas dentro dessa casa, ela é o mais próximo que eu tenho disso. Não posso esquecer que foi ela quem me ajudou a conseguir esse emprego e também que acabou me estimulando a voltar para ele.
Ela se vira para mim com um olhar carinhoso e uma emoção indescritível e eu morro de vontade de abraçá-la por um instante.
Quando já desisti de ouvir uma resposta a minha pergunta, Abigail suspira e sua voz sai nuito baixa ao dizer:
- Por que acha que eu sei quem era?
- Porque eu acho - me inclino para perto dela e digo, também em tom de confidência: - Acho que vocês dois sabem.
Ela me olha, hesitante, o medo indisfarçado em seus olhos.
- Nós dois?
Eu solto o ar lentamente pela boca. Essa conversa não vai ser nada fácil, mas eu não costumo desistir. Sou mais de ir em frente.
- Você e o Sr Lancaster. Sei que vocês dois escondem alguma coisa. Alguma coisa no passado dessa mansão.
O olhar de Abigail faria com que eu me sentisse uma louca se, por um ínfimo segundo, eu não tivesse visto o lampejo de algo mais dentro dele.
- Ah querida Chloe - ela sorri com uma condescendência irritante. Segura minha mão sobre a mesa, o que me surpreende. Abigail não é dada a contatos íntimos. Será que está tentando me dizer alguma coisa? Me passar uma mensagem silenciosa? - Você sempre foi tão audaciosa, tão corajosa. Desde pequena. Sua mãe admirava tanto isso em você... e eu também.
- O que isso quer dizer, Abigail?
Ela sorri, dando dois tapinhas na minha mão antes de soltá-la.
Tenho vontade de gritar com ela. E se eu acreditasse que ser desrespeitosa fosse melhorar as coisas a essa altura, provavelmente o faria.
- Onde está o Sr Lancaster? - eu pergunto, olhando para a porta da cozinha como se fosse vê-lo materializado ali.
- Deve estar com as meninas, imagino.
- Ele ficou muito preocupado- e quem não ficaria?, eu penso, relembrando o grito aterrorizante de Abigail no corredor e suas palavras que fizeram meu coração parar por um momento. Sem poder me controlar, faço mais um avanço - Isso é tudo culpa dele, não é? As meninas estão correndo algum perigo?
Ela não me responde.
- Você não vai me dizer o que está acontecendo, não é? Vai preferir morrer com esse segredo que está te consumindo por dentro.
A governanta desvia os olhos. Seu silêncio me deixa agoniada. Eu faço o possível para não sentir raiva. Misturada a um sentimento de compaixão, mas sinto. Gostaria de ajudar, mas para isso, Abigail precisaria se abrir comigo e, obviamente, ela não confia em mim o bastante. Ou isso ou...
- Você está tentando me proteger de alguma coisa?
Ela desvia os olhos para as próprias mãos de unhas bem curtas sobre a mesa. Então empurra a cadeira para trás e se levanta de repente.
- Acho que todos nós merecemos um descanso. Por que não vai se deitar? Amanhã tudo isso vai aparecer menos assustador do que realmente foi - ela passa por mim, acariciando meu cabelo muito brevemente antes de sair da cozinha. - Boa noite, Chloe.
- Boa noite, Abigail.
Eu assisto ela se afastar e espero alguns minutos antes de subir as escadas pronta para enfrentar a próxima batalha da noite.
***
- Max! - eu exlamo assim que ele sai do quarto das meninas - Que merda está acontecendo?!
Fiquei montando guarda na porta do quarto de Evie e Maisy desde que Abigail se recolheu para tentar dormir um pouco. Ou pelo menos descansar, porque eu duvido que algum de nós vá conseguir dormir essa noite.
- Agora não, Chloe.
- Por que a Maisy... - eu insisto, mas ele me interrompe.
- Srta Henderson! Eu disse agora não.
Ele passa por mim como um raio, desce as escadas pulando o maior numero de degraus possível.
Eu bufo, contrariada. Aquele estúpido!
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Perfeita
Amei a história! Vale a pena a leitura! Pena que não achei a continuação!...
Parabéns @RebecaSantiago! Além de um ótimo enredo, escreve muito bem e tem um português muito bom, o que torna a leitura melhor ainda. Depois deste, vou ler seus outros romances. Vc é admirável. Virei fã....
Ameiiiiiiii❤️❤️❤️❤️❤️❤️🥰...
Qual é a plataforma que está o seu livro: A ESPOSA PERFEITA??...
tirando o uso desnecessário de tantos palavrões é uma ótima historia...
Muito bom estou curtindo muito esta historia <3...