A Babá Perfeita romance Capítulo 35

Max exala um suspiro profundo quando me vê sair do quarto. Desencostando o ombro da parede, ele vem até mim.

Está usando um moletom preto de capuz e tênis de corrida. Eu abro a boca para perguntar se está tentando um novo visual, mas a urgência em seus olhos me faz optar por ficar calada.

- Eu preciso conversar com você - ele diz, segurando o meu braço e me puxando pelo corredor. - Me desculpe, não temos muito tempo.

Suas palavras, ditas em tom de confidência, acendem uma fagulha de curiosidade.

Max só me solta quando chegamos ao seu escritório. Ele tranca a porta cuidadosamente antes de se encostar nela, de olhos fechados.

Meu Deus, o que está acontecendo?

- Merda, Chloe - ele sussurra meu nome entre os dentes. Quando abre os olhos, aquele azul intenso me arrebata. - Eu não queria envolver você nisso.

Se eu não estivesse tão nervosa, com certeza riria.

Nos últimos anos, eu me meti em um número exponencial de problemas. Eu me fodi tantas vezes quanto possível. Parando para pensar, talvez eu seja como um para raios para todo tipo de merda que existe.

- Tem um homem perseguindo minhas filhas, Srta Henderson.

É engraçado como a gente mal percebe que está respirando até o ar sumir dos pulmões.

Merda.

Havia um homem conversando com as meninas no portão, eu ouço outra vez a voz chorosa de Abigail ressoar na minha mente e congelo.

O olhar de Max recai sobre mim com uma dor profunda. Ele caminha até o meio da sala, encurtando a distância entre nós. Eu já o vi sério muitas vezes antes. Até mesmo preocupado. Mas nunca assim... como se uma parte do seu corpo estivesse sendo dilacerada pouco a pouco.

Pela primeira vez, eu percebo com absoluta certeza, o quanto as filhas são importantes para ele. Elas são parte da sua carne. Parte do seu sangue. 

E Max daria a vida por elas, agora percebo isso.

- O nome dele é Emery Taylor - ele anuncia, me observando atrás de uma centelha de reconhecimento que não vem. 

Quem é Emery Taylor e por que perseguiria duas crianças pequenas? Com base em que? Por que motivo?

Eu duvido que Evie e Maisy tenham feito algum mal ou ameaçado esse homem de alguma forma. Então só sobra uma alternativa.

Max.

Ah não, o que você fez, Max?

Eu estremeço, atingida pelo pensamento nauseante de que Max pode ter se ligado as pessoas erradas. Pessoas do tipo que não fazem distinção entre a idade das suas  vítimas.

Pessoas com instinto de vingança.

O que ele diz a seguir, entretanto, soa bem diferente do que eu imaginava.

E esmaga o meu peito como um bloco de concreto.

- Talvez o conheça pelo seu apelido. Dixie.

Meus olhos dobram de tamanho. Um alarme soa perigosamente na minha cabeça, fazendo eu me encolher e querer sumir.

- Você disse Dixxie? - eu murmuro, a boca seca - Esse é o nome do...

Max balança a cabeça devagar, mostrando que já conhece a história.

- Tenho motivos para acreditar que ele seguiu você até aqui, Chloe.

Eu olha para ele, consternada. Não, não, não.  O que ele está dizendo não parece fazer sentido algum. Exceto que... 

Exceto que faz todo o sentido. Afinal, houve uma possível tentativa de invasão anteriormente e a placa do meu carro ficou nos registros da câmera. 

O carro que ficou em poder de Dixxie após o nosso breve e infeliz encontro.

Ah não, Deus. Isso só pode ser um pesadelo.

- Mas por que?  - eu pergunto em um fiapo de voz.

- Para me extorquir, provavelmente - Max solta o ar pela boca, como se não pudesse mais aguentar aquele fardo sozinho.

Ele está um caco. Arrasado, nervoso, apavorado. Posso sentir a tensão se esticando sob a sua pele como cordas invisíveis.

E tudo isso por minha culpa.

Merda. Merda. Não. 

Isso significa que, de certa forma, Max estava certo quando acreditou que eu era uma ameaça a sua família. Meu caminho torto havia me feito chegar até aqui. Tinha me trazido até a mansão Lancaster, de encontro a uma segunda chance de fazer a coisa certa. De tomar as atitudes corretas.

Mas eu não tinha vindo sozinha, é claro. Havia arrastado o meu passado problemático até aqui comigo.

Uma pontada de dor atinge o meu coração. Tanto tempo me perguntando se Max estaria colocando a vida das filhas em risco... não parei para pensar que o risco poderia ser eu mesma.

- Max, eu não sabia - ouço minha voz cheia de desgosto. - Acredite em mim.

- Eu sei.

Ele se aproxima, pousando as mãos em meus ombros. Meus olhos se enchem de lágrimas e, sem hesitar, Max me puxa para os seus braços. Com a cabeça encostada em seu peito, sou capaz de ouvir as batidas irregulares do seu coração. 

Seu corpo é quente e reconfortante. Quero ficar ali para sempre, sem dizer nenhuma palavra. Mas não posso. Muitas coisas precisam e devem ser ditas agora.

- Eu sinto muito - balbucio, com raiva de mim mesma por ter criado aquela confusão toda. - Sei que nem todo pedido de desculpa do mundo vai ser suficiente para você me perdoar. Mesmo assim, me desculpe por favor. Eu não queria causar nenhum mal às meninas.

Max acaricia a minha nuca com as pontas dos dedos. Eu faço todo o possível para me manter firme, mas estou desmoronando por dentro. Meu pai sempre me disse que, algum dia, as consequências dos meus atos iriam acabar me alcançando. Ele estava certo. 

O que eu não esperava é levar Evie e Maisy para baixo comigo.

 - Eu não culpo você - ele sussurra com os lábios no topo da minha cabeça, a voz cheia de carinho. - Não culpo você mesmo. Mas quero que me leve até ele, Chloe. Agora.

O que?!

Eu me afasto de Max para olhar em seus olhos. Suas mãos continuam em mim, ao redor da minha cintura. Ele não quer me largar. Eu não quero que ele me largue.

A conexão entre nós dois é inquebrável. 

Mas seus olhos estão cravados em mim com uma súplica silenciosa. Para o meu desespero, eu percebo que não há mais qualquer hesitação neles.

Apenas uma convicção voraz.

- O que? Não! Isso é loucura. Ele é perigoso.

- Não importa - Max diz, segurando o meu queixo. - Só me leve até ele. Por favor.

- Não, Max!

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