A Babá Perfeita romance Capítulo 36

O endereço de Dixxie, no Harlem, fica no primeiro andar de um edifício caindo aos pedaços. Mas para ser honesta, todo o trajeto até ali foi um verdadeiro show de horrores.

Durante o caminho, Max e eu trocamos olhares significativos, enquanto o carro trepidava entre buracos e quebra-molas. 

Os meus, arregalados, diziam "puta que pariu, caralho!". Os dele, com uma sabedoria petulante: "Eu tentei te avisar, mas você é teimosa e quis vir mesmo assim".

Bêbados caminhavam em ziguezague pelas calçadas. Pareciam disputar com a lei da gravidade. E para aumentar a comicidade da situação, um grupo de prostitutas gritou, animado, assim que o carro virou a esquina entre as ruas. 

Nada disso deveria me surpreender, no entanto. Vindo de um lixo como Dixxie, eu não poderia esperar coisa melhor.

- Que merda de lugar... - eu faço uma careta, ao mesmo tempo em que o carro para com o ronco suave do motor silenciando. 

A fachada está coberta de palavrões em uma caligrafia elaborada com tinta colorida. Fuligem escura sobe pelas paredes em manchas permanentes. O lugar pegou fogo em algum momento e, acredite quando eu digo, acho difícil que volte a sua melhor forma algum dia. 

- É sério, Max. Como você acha que vai conseguir falar com Dixxie? - eu sussurro entre os dentes com medo de que as sombras me escutem. - Acha que ele vai recebê-lo assim de braços abertos? Se o cara está atrás das suas filhas, no mínimo, vai querer manter distância de você.

- Não se ele quiser o meu dinheiro. O que é óbvio que ele quer.

Eu me viro para Max pronta para contestá-lo outra vez, mas ele está de olho nas escadas de ferro enferrujadas que levam aos andares superiores. Elas sobem através de pequenas sacadas pelo lado de fora.

- Última chance. Eu dou meia volta e te deixo em um táxi - ele avisa com um suspiro. 

Estou pronto para mandá-lo a merda, mas a expressão nos seus olhos me faz voltar atrás. Há uma ruga entre as suas sobrancelhas. Pequena, mas perceptível.

 Max Lancaster está preocupado comigo.

Um sorriso besta se espalha pelo meu rosto. Não creio que eu vivi para testemunhar isso.

Mesmo assim, tenho outros planos que não incluem ficar de fora da conversa entre Max e Dixxie, que tem tudo para ser o embate mais interessante que eu já vi em toda a minha vida.

- E perder toda a diversão? - minha língua dispara.

- Chloe, por favor. Sem brincadeiras - ele torce o nariz perfeito, jogando o capuz sobre a cabeça. Se inclina sobre mim e roça os lábios de leve no canto da minha boca.

Meu coração acelera. Na tentativa de segurar um suspiro, ele sai como um gemido.

- Você é um cuzão - reviro os olhos, envergonhada.

Ele se afasta e me encara, entre curioso e divertido.

- Por que? Eu posso saber?

- Eu conheço a sua jogada. É carinhoso quando quer algo em troca.

Seus olhos brilham intensamente.

- E o que eu quero?

Eu semicerro os olhos, cravando nele, desafiando-o a negar.

- Que eu saia do seu caminho. Que me afaste e desista.

Max me encara por um tempo longo. Quando percebo, sua boca está sobre a minha, os dedos entrelaçados nos meus cabelos. Meu coração martela loucamente. Abro a boca em busca de ar, mss sua língua me invade, envolvendo a minha em um ritmo lento e sensual.

Quando o beijo termina, estou desnorteada e ofegante.

- Acertou quando disse que eu quero algo em troca - ele abre um sorriso travesso, os lábios vermelhos e inchados. - Errou todo o resto.

Max desce do carro e eu fico ali, sentada, tentando controlar a minha pulsação.

Quando ele surge ao meu lado com aquele olhar hipnótico, eu deixo que abra a porta e aceito a mão que ele estende para me ajudar a descer.

Não sei o que dizer, então simplesmente  não digo nada. Não faço ideia de como enfrentar aquilo que eu sinto.

Max também parece não ter encontrado um meio termo entre a irritação que eu desesperto nele e o desejo que sente por mim.

Como poderíamos viver com isso? Somos água e óleo.

E no momento existem coisas mais urgentes com as quais nos preocupar.

Quatro sujeitos, sentados nos degraus da frente do prédio de Dixxie, nos encaram dos pés a cabeça assim que descemos do carro.

Eu olho para Max, surpresa. Eles só podem ter se materializado ali, porque eu não os tinha visto antes.

Em silêncio, sigo Max quando ele se aproxima do grupo mau encarado que parece nem um pouco feliz com a nossa presença.

Três dos caras são tão grandes que poderiam nos esmagar com um soco. 

Tento não pensar naquilo. Sempre fui boa em passar por situações de perigo sem perder o rebolado. Não posso estar perdendo o jeito agora. 

Deixo a respiração sair devagar pelo nariz como forma de me acalmar.

- Algum deles é o Dixxie? - Max pergunta, enfiando as mãos nos bolsos da calça e disfarçando.

Eu ando ao seu lado com o olhar atento.

- Não.

- Merda - ele resmunga, se aproximando dos homens. Os músculos dos quatro se retesam assim que percebem que têm companhia  - O Dixxie está aí?

- É o que? - um cara branco, acima do peso, com tatuagens na cabeça raspada  pergunta. - Quem é você, otário?

- Eu trabalho com o Falcon .

O sorriso no rosto do sujeito some imediatamente.

Falcon? Quem é o Falcon?

Com raiva, percebo que não sei absolutamente nada do plano. Puta merda. Fizemos o percurso até ali praticamente em silêncio. A verdade é que eu estava agoniada demais prestando atenção nas pequenas ameaças do caminho para me preocupar com as ameaças reais.

Como aqueles quatro.

Chloe, sua idiota.

- E por que o Falcon mandou você até aqui? - um garoto negro e esquálido, pouco mais velho do que eu, franze a testa com um misto de surpresa e descrença.

Max olha para ele, contrariado.

Não, Max. Por favor, não faça nenhuma merda. 

Tenho vontade de puxá-lo pela manga do casaco e implorar para darmos o fora dali. Obviamente ele não está preparado para negociar. Max Lancaster não negocia. Ele encurrala as pessoas na parede e espera que elas façam o resto para o bem delas. Eu sei muito bem disso.

- Isso é com o Dixxie, irmão.

- Não sou seu irmão - o garoto cospe no chão, levantando a barra da camisa, casualmente, e revelando o brilho metálico da sua arma. - Não sou irmão de nenhum branquelo filho da puta. Você é irmão desse cara, Oslo?

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