- O que aconteceu?
- Nada, por que?
Evie se aproxima com passinhos curtos e cautelosos.
Somos apenas nós duas, a manhã inteira, em seu lindo quarto de princesa, todo decorado em tons pastéis. Enquanto isso, mais um dia de inverno acontece do lado de fora das paredes.
A neve baixou e um solzinho fraco resolveu dar as caras. Evie e eu poderíamos estar nos divertindo a beça lá fora, mas a verdade é que estamos, as duas, apreensivas demais para sequer pensar nisso.
Maisy foi para uma consulta com o pai mais cedo e ainda não retornou. Uma avaliação com uma nova profissional, muito recomendada, que eles ainda não haviam procurado.
Max parecia esperançoso quando saiu com a filha, horas antes. Eu também estava. Em vez disso, agora, estou morrendo por dentro, roendo as unhas em expectativa. Fui a responsável por enfiar a bendita ideia naquela cabeça dura. Tagarelei tanto a respeito todos os dias, nas últimas semanas, até que ele finalmente concordou em tentar.
- Bem, normalmente você não consegue fechar a boca - Evie bate os cílios com uma doçura que suas palavras desmentem. Oh garotinha atrevida! - Ainda está chateada pela nossa briga?
Eu abro um sorriso lento, pensando a respeito.
Ela e eu resolvemos nossas diferenças com pipoca e cobertura de chocolate na semana anterior. Demorou mais do que eu esperava, mas finalmente, consegui amansar a fera.
- Nós não brigamos - eu defendo, sentada no chão do quarto, enquanto penteio o cabelo de uma das suas bonecas. - Vamos dizer que você defendeu o seu ponto de vista com muita... força de vontade.
Evie franze a testa, sem se dar por satisfeita.
- Bom, a minha força de vontade fez você ficar com essa cara esquisita a semana inteira, sim ou não?
- Não.
Os lábios dela se contraem.
Ok. Como eu poderia explicar?
Por mais que Evie seja esperta, e até precoce, como poderia admitir para uma criança que estou apaixonada, mas seu maldito pai não dá a mínima para isso?
- É por causa do meu pai?
- Evie! - eu me engasgo.
- Só me responde, por favor. Você está chateada por que ele usou você e depois jogou fora como um brinquedo quebrado?
- Onde você aprende essas coisas? Juro por Deus que eu não...
- Você não deveria jurar em vão - a garotinha me adverte com um olhar de repreensão. Depois sorri, amenizando a expressão no rosto. - Jud é religiosa, sabe? Quase tudo o que sei sobre Deus é por causa dela.
- E o que você sabe sobre Deus?
Evie suspira, esfregando a ponta das sapatilhas verde menta no tapete felpudo.
- Que ele não quer ver você chorando assim.
Que droga.
O que eu digo agora?
Evie pode ser uma mala às vezes, mas parece que tem o dom de enxergar o fundo da minha alma.
- É complicado - eu coço a cabeça, desviando o olhar. - Não quero que você pense sobre essas coisas. Eu estou aqui, não estou? E não vou a lugar nenhum.
- Como vou saber? Você já foi uma vez.
- Mas não agora - eu nego com veemência. Diante do seu olhar desconfiado, tiro o celular do bolso da calça, desbloqueio o visor e entrego o aparelho para ela. - Olha só, estou tentando encontrar uma forma de ajudar a Maisy.
- A Maisy? Por que? - Evie pergunta, curiosa, pegando o celular da minha mão e lendo minha pesquisa.
Eu respiro fundo. Está na hora de ser honesta com ela.
- Evie, o que você sabe sobre o acidente da sua irmã?
Ela dá de ombros, parecendo confusa com as informações da matéria que eu andei estudando mais cedo. É sobre grandes traumas físicos na infância e as consequências que podem pedurar durante toda a vida.
- Muito pouco. Só que foi culpa do meu pai.
- Do seu pai? - eu pergunto, surpresa. - Por que? O que aconteceu?
- Eu não sei - ela dá de ombros outra vez. - Eu era muito pequena.
- Quem te disse que foi culpa do seu pai?
Evie aperta os lábios um contra o outro, enquanto aguardo uma resposta.
- Ninguém -desconversa, mas de jeito nenhum está dizendo a verdade. - Eu só acho que foi.
- E foi por isso que a Evie parou de falar?
Ela pensa um pouco.
- Sim. Bom, é o que eu acho. Eu já disse que não me lembro.
- Quem estava dirigindo o carro, você sabe? - pergunto e Evie me olha como se nunca tivesse pensado a respeito antes. - Esquece. Vou dar um jeito de descobrir. E então nós vamos consertar isso.
- Consertar a Maisy? - a menina levanta as sobrancelhas, perplexa com a ideia.
Eu rio baixinho.
- Não consertar de verdade, Evie. Nós vamos ajudá-la - ela parece reticente, nem um pouco animada, e isso me surpreende bastante. - Você não gostaria de ver a sua irmã falando outra vez?
Evie me encara com a testa franzida.
- Eu não sei se eu já ouvi a Maisy falando algum dia, Chloe.
- Ah - eu não tinha pensado por esse lado. Que estúpida. Estendo a mão, que a garotinha agarra prontamente, se aproximando até estar sentada no chão ao meu lado. Ela encosta a cabeça no meu ombro e emite um longo suspiro. - Não se preocupe. Vai ficar tudo bem.
- Você promete, Chloe?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Perfeita
Amei a história! Vale a pena a leitura! Pena que não achei a continuação!...
Parabéns @RebecaSantiago! Além de um ótimo enredo, escreve muito bem e tem um português muito bom, o que torna a leitura melhor ainda. Depois deste, vou ler seus outros romances. Vc é admirável. Virei fã....
Ameiiiiiiii❤️❤️❤️❤️❤️❤️🥰...
Qual é a plataforma que está o seu livro: A ESPOSA PERFEITA??...
tirando o uso desnecessário de tantos palavrões é uma ótima historia...
Muito bom estou curtindo muito esta historia <3...