A Babá Perfeita romance Capítulo 47

O restante da semana foi como entrar no olho de um tornado. Mas de um jeito bom. 

Max e eu passamos os próximos dias nos escondendo pelos cantos da casa, entre beijos, passadas de mão e olhares furtivos. Quando isso não era o bastante, ele me arrastava para algum canto discreto e me fazia gritar contra a palma da sua mão em concha sobre a minha boca, enquanto me fodia contra a parede ou sobre uma bancada. 

Estava realmente convicto de que eu merecia mais do que as recordações de uma primeira vez dolorosa, sem todo o glamour que ele julgava imprescindível. Eu já não estava tão certa assim. Honestamente, quase não me lembrava mas da dor. Ela parecia ter sido empurrada par o fundo da minha memória, ofuscada por lembranças muito mais interessantes.

Perto do fim da semana, Max me levou a avaliação com o fisioterapeuta, o Dr Jackson. Ele é um gato. Não tanto quanto Max, é claro, mas ainda assim, o bastante para chamar a atenção das pacientes e maioria das funcionárias da clínica.

- Isso dói? - o médico pergunta ao levantar a minha perna até o limite e eu faço que sim, rapidamente, balançando a cabeça.

- Dói muito - Max intervém, fazendo o homem, ajoelhado no chão a minha frente, erguer os olhos para ele com curiosidade. São olhos verdes e repuxados nos cantos como os olhos de um gato. Certo, tudo bem. Ele é mesmo um gostoso. - É por isso que estamos preocupados.

O Dr Jackson assente uma vez antes de dobrar minha perna para baixo novamente. Desta vez não sinto nada, exceto alívio. Graças a Deus.

- Ok, vamos começar com alguns exercícios de mobilidade e ver até onde você pode ir - ele sorri, girando meu tornozelo, enquanto me observa atentamente. - Nada?

- Nada.

- Isso é ótimo. Talvez não seja preciso imobilizar novamente, Chloe.

Empolgada, eu viro a cabeça para Max, em pé ao meu lado, mas me deparo com seus olhos azuis penetrantes. Há um pequeno vinco entre as suas sobrancelhas que eu não entendo.

- Você ouviu isso? Acho que pode não ser tão ruim quanto parece.

Ele força um meio sorriso, mas não diz nada. O celular no seu bolso toca, roubando sua atenção por um momento. É uma canção do Ramones, que reverbera pelas paredes do consultório. Chama atenção até mesmo da recepcionista que nos olha lá de fora, com um ar de irritação, através das janelas de vidro.

O meu corpo estremece com uma risada. Nunca pensei em qual seria o gosto musical de Max. Talvez porque estava ocupada demais tendo uma quedinha por ele. Mas agora, com essa pequena amostra, acho que Ramones parece ser uma escolha adequada. 

Forte, intenso e rebelde até a última gota.

O olhar de Max balança entre o Dr Jackson e eu.

- Não vai atender o telefone? - o médico pergunta, estirando minha perna outra vez, enquanto eu me contraio com uma dor cruel e aguda na altura da torsão. Gotas de suor minúsculas devem estar se acumulando entre a minha testa e a raiz do cabelo bem agora. Acho que posse senti-las.

Deus, isso só pode ser algum tipo de castigo!

- Vai - eu digo, quando Max olha para mim, parecendo angustiado.

Então ele respira fundo, segura meu queixo em sua mão, voltando o meu rosto para cima antes de depositar um beijo demorado na minha boca. 

Porra.

Minha respiração é curta e atrapalhada, quando sua boca desgruda da minha. Max sorri pela primeira vez em vários minutos, um sorriso lindo e atrevido, e o Dr Jackson nos observa com as sobrancelhas erguidas.

Então Max dá meia volta, colocando o aparelho contra a orelha enquanto sai do pequeno consultório, fechando a potra atrás dele.

- Dói tanto assim? - o Dr Olhos de Gato examina minha expressão com cuidado e eu faço que sim.

Sei que estou torcendo o rosto em uma careta, mas não posso evitar. É terrível.

- Como se isso fosse o inferno e você, o diabo.

- Minha nossa - a risada dele escapa rouca e grave, e o sorriso ilumina a sua pele em um tom que é quase jambo.  - Já me chamaram de muitas coisas, mas essa foi a mais criativa.

- Eu só disse a verdade - sorrio, fazendo um esforço sobrenatural para não chorar. - Será que dá para consertar?

- Vamos lutar por isso - ele me promete, continuando sua tortura disfarçada de procedimento médico.

Max retorna nesse instante. Não deve ter ficado fora mais do que alguns segundos, na verdade. Ele devolve o celular para o bolso da calça, sem nem realmente tentar disfarçar sua expressão de desagrado. Que merda aconteceu?

É estranho estar na presença de dois caras tão bonitos ao mesmo tempo. Eu meio que não sei para qual lado olhar primeiro. Se para Jackson, com seu colete branco feito para salvar vidas, ou para Max, de terno, gravata e ar de mandão.

Aperto os lábios com vontade de rir.

- Estamos prontos para ir embora? - Max pergunta, ríspido.

Eu pisco algumas vezes, olhando para ele em busca de explicações, mas tudo o que recebo é um olhar de indiferença. 

- Na verdade, sim - é o fisioterapeuta que responde. - Vou marcar a primeira sessão para daqui a três dias. O que acham?

- Tão cedo? - o nariz de Max se torce ligeiramente.

- Acho que seria melhor começarmos o quanto antes - o Dr Jackson opina, se erguendo do chão e estendendo a mão para me ajudar a levantar do banco baixo onde estou sentada para a  avaliação. 

Eu aceito sua mão, o que faz Max coçar a sobrancelha esquerda e revirar os olhos com um mau humor evidente.

É sério isso? Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Porque os últimos vinte minutos desde que cheguei aqui não fizeram o menor sentido.

- Vou voltar em três dias. Obrigada, Dr Jackson - agora sou eu que estendo a mão, que ele aperta rapidamente.

Max não diz mais nada, apenas grunhe qualquer coisa para o médico, como se aquilo fosse algum tipo de cumprimento aceitável no planeta de onde veio.

Para a minha surpresa, dessa vez, o Dr Jackson não deixa passar. Com um desprezo nítido, ele solta o ar pelo nariz e sorri de canto com sarcasmo.

O que foi isso? 

Os olhos de Max estão cravados nele como duas adagas afiadas. Eu me coloco entre os dois antes que comece o segundo round.

- Ótimo, estamos indo. Obrigada, doutor, e até logo.

Max recua alguns passos sem tirar os olhos do fisioterapeuta. Mais um pouco e acho que ele vai desembainhar sua espada ali mesmo e dar início a um duelo.

Saímos da clínica a passos apressados e eu mal tenho tempo de registrar meu nome na recepção, marcando minhas primeiras sessões.

- O que foi aquilo? - eu cobro, já dentro do carro, enquanto coloco o cinto de segurança.

Max acelera, manobrando o veículo para deixar o estacionamento lotado.

- Não foi nada.

- Nada? - eu gaguejo, perplexa. 

Não acredito que ele vai fingir que não aconteceu nada.

- Deixa para lá.

- Não, não vou deixar - eu contesto, irritada.

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