A Babá Perfeita romance Capítulo 57

- Quem são essas crianças? As Kardashian? Meu Deus! - Mia exclama, no banco de trás, assim que o carro de Jeremy se aproxima do portão de entrada da mansão.

Eu rio alto, fazendo sinal a Jose que nos cumprimenta, liberando a entrada. O antigo segurança, metido e arrogante, foi demitido há várias semanas e, em seu lugar, há um novo. Carter Mason. Com seu cabelo curto, ombros largos e nariz quebrado, Carter é a síntese do bad boy regenerado. Ele parece saído de um filme de ação, onde o ex criminoso abandona o passado sombrio para ajudar a polícia a resolver um caso.

Judith diz que ele é "guapo pero aterrador" (bonito, mas assustador). Desde que Carter chegou, eu não tenho pensado muito sobre ele. Mas agora, olhando sua figura musculosa do lado de dentro do portão, preciso concordar com Jud. O cara mete medo.

Jeremy para o carro, enquanto Mia continua comentando cada coisa que vê com entusiasmo, do jardim de bétulas aos carrões estacionados no pátio. Absolutamente tudo parece ser motivo para ela surtar.

- É quase como estar na casa de um famoso- suspira, arregalando os olhos. - Espera aí, seu patrão não é famoso, é?

- Só por ser babaca.

Jeremy desliga o carro, se vira para mim e sorri.

- Entregue sem nenhum arranhão. Vem cá, quando eu vou te ver de novo?

Mia solta uma risadinha no banco de trás. Merda. Ele está mesmo me paquerando e ela está sendo conivente com tudo. Que beleza.

O meu rosto esquenta. Jeremy é mesmo um amorzinho, mas não posso deixar as coisas irem longe demais.

- Tenho certeza que Mia vai marcar outras compras em breve, não é? - eu peço socorro para ela, cuja única reação é olhar para fora através da janela, assobiando. - Certo, obrigada pela carona, vocês dois.

- O prazer foi meu, Chloe - Jeremy assente com a cabeça. - Podemos fazer de novo. Quando você quiser.

Eu penso em uma resposta simpática, mas convincente, para alertar a Jeremy de que não estou interessada. Mas em uma fração de segundos, um furacão surge bem ao meu lado... Max. Com as mãos apoiadas na janela aberta do carro, ele encara Jeremy, os olhos sombrios e as narinas infladas como um touro furioso.

- Fazer o que de novo, eu posso saber?

Surpresa, eu me engasgo com meu próprio grito. Levo as mãos ao peito, sentindo as marteladas. Que inferno! Max quase me mata do coração.

- Então foi com essa amiga que foi tomar sorvete? - ele aponta o dedo para Jeremy. Olha para ele como se fosse capaz de trucidá-lo com as mãos. - Quem é esse sujeito?

Fecho os olhos por um instante e respiro bem fundo. Tento me recompor, ainda que minha vontade seja descer do carro e arrastar Max pela gola da camisa para dentro de casa, exatamente como faria com um moleque brigão.

- Sr Lancaster, esse é o Jeremy, e aquela no banco de trás é a irmã dele, Mia. Mia é minha amiga - digo com toda a calma possível, mesmo que meus olhos acusem um sentimento contrário. - Jeremy e Mia passaram a tarde comigo fazendo compras no Rockfeller Center e, depois, fizeram a gentileza de me trazer em casa. Ficou claro para o senhor agora?

Pelo retrovisor, eu vejo Mia dar um pequeno aceno para Max. Acho que só então ele se dá conta da presença dela. 

Nós todos mergulhamos em um silêncio constrangedor. 

O que foi que Max acabou de fazer? Que espetáculo foi esse, afinal? Eu nunca o tinha visto agir de uma forma tão irracional. Nem mesmo no dia da minha consulta com o fisioterapeuta. Naquele dia eu conheci o seu lado ciumento, mas nunca imaginei que o veria bater no peito e berrar como o king kong desse jeito.

Um a onda de perplexidade atinge os olhos dele. Eu percebo o exato momento em que cai em si e descobre o erro que cometeu. A maneira como se portou deve aterrorizá-lo, porque ele abre a boca e fecha sem dizer nada. Pouco a pouco, o rosto vermelho vai assumindo o tom normal. 

Max pigarreia.

- Muito obrigada por trazerem a Chloe para a casa.

Eu reviro os olhos. É só isso? Nada de um pedido de desculpas? Típico.

Jeremy assente devagar.

- Não foi um problema - e olhando para mim, desconfiado: - Está tudo bem, Chloe?

- Tudo ótimo - digo entre os dentes, me soltando do cinto de segurança. - O Sr Lancaster fica muito preocupado quando eu demoro. Não é mesmo, Sr Lancaster?

Max não responde nada. Está paralisado. Custa a digerir o que acabou de acontecer. Problema dele, eu estou farta.

- Se o meu patrão se preocupasse assim comigo... - Mia murmura e eu olho para ela com uma advertência clara. - Certo, não está mais aqui quem falou.

- Obrigada pelo dia incrível. Vocês são o máximo - eu salto do carro, passando por Max como um tornado a caminho da porta da casa.

Faço o possível para não olhar para ele. Meu sangue está fervendo, o coração disparado. Que imbecil! Max sendo Max, para variar. Não sei como o rei da babaquice ainda consegue me deixar de queixo caído.

A ceninha de ciúmes acabou rendendo mais do que eu esperava. Como eu iria saber que ele faria um papel de bobo daquele na frente dos meus amigos? Para alguém que se acha tão maduro...

Quando Max entra em casa, eu vejo tudo vermelho.

- Eu posso saber o que deu na sua cabeça lá fora?

- Eu...

- Me envergonhar daquele jeito diante dos meus amigos? Que merda, Max!

- Chloe...

- Você passou de TODOS os limites!

- Eu sei, meu amor...

- Meu amor? Você enlouqueceu?! 

- Por favor, me deixa falar - ele passa as mãos pelo rosto. - Eu perdi a cabeça. Você demorou tanto... não sei o que deu em mim. Eu nunca fiz nada parecido com isso.  E ainda apareceu em um carro com outro cara. Me desculpe... estou me sentindo um idiota. Eu não sou assim, Chloe.

Tudo o que ele diz, em vez de me acalmar, só me enche mais ainda de raiva.

- Você foi mesmo um idiota..

- Eu sei.

- Não agora. Antes.

Ele me olha, confuso.

- Como assim?

- Você foi um idiota quando escolheu mentir para mim, me esconder coisas - aponto o dedo para ele, transtornada. - Mas foi especialmente idiota quando me chamou de infantil e imatura, e isso eu não vou aceitar, Max. O seu desrespeito. Você pode pegar ele e enfiar no seu...

Respiro fundo, engolindo aquela fúria assassina. Minha nossa, estou tremendo mais do que um pinscher. Odeio ficar nervosa assim.  É nisso o que dá me envolver com alguém controlador e egocêntrico! A culpa por isso é toda minha e de mais ninguém.

Max parece arrependido.

- Eu estava errado sobre aquilo também. Me perdoa?

- Não.

Eu posso ter me silenciado, mas minha raiva ainda não aplacou.

Max me encara, impaciente.

- Não?

- Isso mesmo - digo, determinada. - Sabe qual é o problema, Max? Você está acostumado a levar a vida do seu jeito, ter o que quer a hora que deseja. E isso está afetando a vida de todo mundo a sua volta. Será que não percebe?

- Isso não é verdade.

Como é cabeça dura! Minha frustração é tanta que eu grito por dentro.

- Não? Veja Evie e Maisy... as suas filhas. 

- O que tem elas?

- Como assim o que tem? Elas passaram os últimos anos esperando pelas migalhas do seu tempo. Como você pode não enxergar isso? É tudo no seu tempo e nunca no tempo dos outros, Max! Está na hora de mudar. Isso se você não quiser perder as pessoas que você tanto diz que ama.

Ele balança a cabeça de um lado para o outro. Me encara como um animal ferido.

- Você está sendo injusta comigo, Chloe. Não diga esse tipo de coisa, por favor. Você não sabe da metade do que eu passei até aqui...

- Eu cansei, Max - suspiro, jogando as mãos para o alto. - Cansei de tentar fazer você ver as coisas como elas realmente são. Esses seus segredinhos, seus jogos e mentiras... nada disso é para mim. Isso já deu. Eu sinto muito - e lhe dou as costas, subindo as escadas acelerada.

Não percebo que ele me segue até tentar bater a porta do quarto e prender o seu pé no vão. 

Max grita mais pelo susto do que de dor.

- O que você quis dizer com isso? Vai me deixar outra vez, Chloe?

- Não - eu o meço de cima a baixo com frieza. - Da outra vez eu não estava deixando você. Eu tinha sido demitida, você esqueceu? Agora sim estou deixando você, Max. E não volto nunca mais.

Abro o guarda roupa e começo a atirar minhas coisas na cama, enquanto ele assiste tudo, andando de um lado para o outro do quarto. Não diz uma palavra, apenas bufa e alisa os cabelos, parece a ponto de arrancá-los. Lembra um tigre enjaulado, mas não há nada que eu possa fazer por ele, nem por nenhum de nós, a não ser sentir muito. É o fim.

Nervosa e irritada, sinto as lágrimas se acumularem atrás dos meus olhos. Nem estou mais chateada com a crise de ciúme que ele teve a pouco. Estou mais frustrada por ver que o comportamento dele, suas atitudes, nunca irão mudar. Max é uma porta e falar com uma porta é perda de tempo. O mais triste de tudo, talvez, é saber que nunca terei tempo para me acertar com Evie ou ver Maisy dizer suas primeiras palavras. Essa tristeza me machuca por dentro. Me consome.

De repente, sinto seu corpo quente atrás de mim. Ele me aconchega em seus braços, me aperta contra o peito. Tenho vontade de pender a cabeça para trás e esquecer de tudo. Os problemas, toda a dor e o medo de ser feita de boba a vida inteira. Mas não posso. Tenho que ser forte e mostrar a ele que está errado. Eu não sou uma criança e não posso aceitar ser tratada como uma.

- Não, Max. Chega. Acabou.

- Não acabou, pequena... - ele sussurra no meu ouvido.

- Acabou sim. Você não tem jeito. Nunca vai mudar - eu confesso meu receio, seco as lágrimas com as costas das mãos. - Eu queria que as coisas fossem diferentes, mas chegou a hora de desistir, deixar tudo isso para trás. Somos como água e vinho, Max.

- Por favor, Chloe. Não diga isso. Nossa história não vai acabar aqui... não vai acabar nunca - ele afunda o nariz no meu pescoço. Está tentando me dissuadir e eu seu disso. Está fazendo o que pode e da forma mais vil. Eu o odeio por isso e, ainda assim, o amo desmedidamente.  - As duas últimas noites foram as piores da minha vida. Eu passei cada segundo delas acordado, pensando em você, em como seria tê-la em meus braços... eu preciso de você.

Suas palavras me tocam fundo. Eu lembro que, eu mesma, passei horas me revirando na cama, ansiosa pela sua presença, pelo seu toque, seus carinhos.

- Não importa...

- Importa sim - desliza os lábios pelo meu pescoço em direção a orelha. Estremeço, incapaz de resistir. Meu corpo é fraco e traidor, eu me vejo impotente diante das suas carícias. É como se ele soubesse exatamente onde e como me tocar. Filho da mãe. - Porque eu sei que você também pensou em mim. Sei que você me ama, como eu amo você.

Eu me controlo para não explodir em lágrimas.

- Amor não é o suficiente. Não quando não existe respeito.

- Eu te respeito, Chloe - vira o rosto para o lado e bufa, impaciente. - Eu te respeito demais para deixar você se envolver em merdas que não são suas.

- Isso não deveria ser uma escolha só sua, não é?

- Não quero prejudicar você, nem arriscá-la. Não vou deixar que se machuque.

- Sinto muito então. Voltamos a estaca zero.

Suspiro e me desvencilho dos seus braços. O que ele chama de proteção, eu chamo de mentira.  Max apenas olha, perplexo, diante da minha determinação. Pode me tocar o quanto quiser, pode me beijar e apelar da forma que achar melhor, não vou mudar de ideia. 

Vou  de novo até o guarda roupa, onde pego a minha mala, que coloco aberta sobre a cama.

Ele assiste tudo, impotente, os braços caídos ao lado do corpo, os olhos se movendo de um lado para o outro como se tudo aquilo fosse um pesadelo.

- Vai mesmo continuar com isso? Vai mesmo de deixar?

- Não, Max. É você quem está me deixando - balanço a cabeça, magoada. - Está me deixando partir sem ter me deixado lutar ao seu lado. Você entende? Se pelo menos confiasse em mim...

- Eu confio em você - ele morde o punho fechado, fora de si. Então sua voz vai ficando embargada: - Pelo amor de Deus, você não está entendendo! Não é falta de confiança. Eu estou protegendo você, inferno!

- Me protegendo de que?

Max encara minha mala aberta sobre a cama. Ainda está alterado, mas tenta se acalmar e manter um raciocínio lógico. Posso ver as engrenagens na sua mente girando bem agora. É o homem de negócios assumindo o lugar do amante passional.

- Guarda essas coisas e vamos conversar, Chloe.

- Por que nós não conversamos e então, depois, eu guardo as minhas coisas? - proponho, encarando ele com firmeza. - Se for uma conversa franca, é claro. Do contrário, eu prefiro que você não me faça perder mais o meu tempo.

Ele fica mudo. O clima entre nós é tenso, tão pesado que eu respiro com dificuldade.

Max abaixa a cabeça, encarando apenas os próprios pés ao responder:

- Ok, você venceu, Chloe. Vamos conversar.

Meu coração erra a batida. Ele disse mesmo o que eu acabei de ouvir.

Eu olho para ele, desconfiada.

- Max, você está mentindo para mim?

- Não.

- Vai me dizer mesmo toda a verdade?

Ele hesita.

- Se é isso o que você quer.

Eu me sento na cama e aguardo em silêncio, enquanto Max toma fôlego para a conversa que parece ser a mais decisiva das nossas vidas.

Só espero não me arrepender da escolha que acabei de fazer.

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