A Babá Perfeita romance Capítulo 7

Durante a aula, Evie se mostra uma aluna bastante dedicada e compenetrada. De olhos fechados, dedilha as cordas do violino com inexperiência, mas sensibilidade. A professora, Srta Brown, balança a cabeça positivamente e, quando necessário, vai até Evie corrigir uma ou outra falha até que, ao término da aula, as duas vem até mim cheias de sorrisos.

- Você foi o máximo! Estou tão orgulhosa- eu vibro, batendo palmas toda animada, enquanto Evie se encolhe, timidamente, ao lado da mestra.

- Obrigada... eu acho - ela diz, baixinho, mexendo na longa trança castanha que eu mesma fiz antes de sairmos da mansão. Seu cabelo é lindo, sedoso, naturalmente ondulado nas pontas. Evie simplesmente o adora, assim como todo mundo na mansão, que não se cansa de elogiá-lo.

- É verdade - a mulher incentiva, acariciando as costas dela. - Foi muito bom para um primeiro dia, Evie. Será um prazer ter sua filha aqui conosco, Sra Lancaster.

Eu olho de Evie para a Srta Brown, confusa. Abro a boca para desfazer o engano... Oh oh. Os olhos azuis irritados de Evie me alertam para o tipo de tempestade que virá a seguir.

- Ela não é minha mãe - a menina explode, assustando a Srta Brown com o seu rompante de fúria, mas não a mim. Evie marcha até Maisy, sentada nos bancos de madeira do estúdio de música, alheia a tudo com seus fones da Hello Kitty. Ela puxa a irmã pela mão na direção das portas duplas de vidro da sala de aula. - Vamos, Maisy. Hora de voltar para casa.

As duas saem pelas portas, enquanto eu fico para me desculpar com a Srta Brown pelo comportamento de Evie. Ela diz que não há nenhum problema, que conhece bem as crianças e desculpa-se também pelo erro cometido. Não sabia que as meninas eram órfãs, esse tipo de informação não consta na ficha dos alunos, obviamente. Eu garanto a ela que está tudo bem e que estaremos de volta para a próxima aula.

Quando saio da sala, olho para o enorme corredor a minha frente e não vejo nenhuma das duas crianças. Eu pisco com a sensação crescente de quem acaba de cometer o maior erro de toda a sua vida. Quem é que deixa, afinal, duas crianças saírem sozinhas de uma sala de aula, quando a mais velha tem apenas nove anos e está nitidamente zangada demais a ponto de ter um mínimo de raciocínio lógico.

O medo sobe até a minha boca, com um gosto amargo, enquanto percorro o corredor da melhor maneira que minha estúpida perna quebrada permite. Manco através do chão de madeira lisa e polida, ouvindo o som da bota ortopédica no assoalho e as batidas do meu próprio coração dentro do peito, cada vez mais aceleradas. Corro os olhos pelas portas envidraçadas onde alunos de todas as classes de instrumento possíveis têm suas aulas, e abro portas feitas em madeira para vasculhar o seu interior. Mas não as encontro. Meu Deus, onde elas estão?

Desesperada, percebo que acabei de perder as meninas. Perdi as meninas e não faço ideia de onde elas possam ter ido parar. 

Eu me encaminho para a recepção do estúdio, logo na entrada, tentando colocar minhas emoções em ordem, mas minhas mãos tremem e suam. A recepcionista, uma jovem negra e muito bonita, me encara em expressão de alerta quando me vê. Parece que acabou de ver um fantasma.

- Tudo bem com a senhora? Deseja um copo d'água...?

- Me desculpe - digo, esbaforida. -  Estou procurando por duas...

Antes de completar a frase, vejo Evie e Maisy sentadas nas poltronas de espera. Elas me olham com as carinhas mais inocentes do mundo. Evie se levanta tranquilamente, toma a mão de Maisy na sua e a puxa na minha direção.

- Vem, Maisy. A tonta finalmente chegou - resmunga, passando direto por mim a caminho da saída.

Meu rosto pega fogo. Quem ela pensa que é? Eu trinco o maxilar e seguro seu braço, impedindo-a de sair pelas portas de vidro da entrada.

Ela me encara como se eu fosse uma louca, mas eu não dou a mínima.

- Você não se separa mais de mim, mocinha. Nunca mais - advirto, seriamente, segurando a mão das duas antes de ir ao encontro de Javier, que já nos aguarda no carro.

***

No caminho até a mansão, que dura cerca de quinze minutos, Evie e eu não dizemos nada uma a outra. De braços cruzados, uma em cada ponta do banco traseiro do carro, tendo Maisy no meio, nós nos ignoramos mutuamente com sucesso.

Sei que minha atitude é infantil, imatura, mas não posso evitar. Ainda estou muito brava pelo que ela aprontou no estúdio de música. Não caio no seu golpe de que estava, todo o tempo, me aguardando na recepção. Ela fez aquilo intencionalmente. E o pior, para me castigar por algo que não estava sob meu controle.

Chegamos a sua casa e ela sobe direto para o quarto, pulando os degraus de dois em dois, exatamente como o seu pai dias antes. Talvez os belos olhos azuis não tenham sido a única coisa herdada dele.

Eu subo atrás dela e, apesar da perna, não sei como, consigo chegar a tempo de impedi-la de trancar a porta com uma chave que descobriu não sei onde.

- Onde conseguiu essa chave?

- Não é da sua conta - ela grita, tentando fechar a porta na minha cara, mas eu ganho a força bruta e entro no quarto. - Você não é minha mãe!

Sua reação me deixa sem palavras. Eu paraliso. Tento encontrar as palavras mais adequadas para contornar a briga e dou um passo em sua direção, mas ela recua, cruzando os braços na frente do corpo.

- Sei que não sou sua mãe. Longe disso, Evie, eu sou apenas sua babá - admito com franqueza. - Mas achei, de verdade, que também pudéssemos ser amigas.

Ela franze a testa, direcionando seu ódio a mim com tanta força que me assusta.

- Eu tenho amigas. Não preciso de nenhuma nova amiga.

Eu balanço a cabeça, mostrando que entendi.

- Certo, então. Eu preciso - digo, recebendo um olhar desconfiado como prêmio. - Acho que me precipitei por pensar que você também precisasse, é uma pena. Você tem tantas coisas bonitas. Tantas bonecas, brinquedos e coisas incríveis. Mas sabe, por mais que eu olhe, não vejo ninguém para brincar com você, exceto sua irmã - engulo em seco, arrependida pelas minhas palavras assim que elas escapam da minha boca.

Evie vira as costas, mas não antes que eu veja as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

- Evie, eu...

- Por que não vai embora daqui, sua enxerida? - ela berra, enquanto tenta controlar o choro. - Vá embora daqui e não volte nunca mais!

Eu me encolho, atingida pelas suas palavras.

- Certo, é isso o que eu vou fazer - prometo, saindo do quarto enquanto a ouço fungar atrás de mim.

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