A Babá Perfeita romance Capítulo 60

- Abigail?

De pé no topo da escada, segurando no corrimão de madeira, eu observo a governanta erguer os olhos. Após uma breve surpresa, ela  atravessa a porta de entrada, com algumas sacolas de compras nas mãos e um meio sorriso de quem se desculpa.

- Ah, oi, minha querida. Estava me esperando?

Eu olho de relance através da porta, antes de Abigail fechá-la. É quase noite. A julgar pelo cabelo penteado em um coque baixo e as roupas elegantes da Sra. Hayes, os assuntos pessoais que a levaram a tirar o dia inteiro de folga deveriam ser mesmo muito importantes.

- Você saiu hoje cedo, está tão arrumada. Foi ver alguém?

Abigail me olha com alguma estranheza. Sei que estou invadindo a privacidade da mulher, mas não posso evitar aquela pergunta. Seu misterioso comportamento tem me deixado com um pé atrás.

- Fui resolver alguns problemas no banco. Depois, aproveitei para comprar algumas coisinhas no supermercado - justifica. - E não é só porque sou velha que devo andar fora de ordem, não é mesmo? O que houve? Você precisou de mim?

Dou de ombros, sem engolir seus argumentos.

- Não. Só queria ter certeza de que você está bem.

- Ah, querida. Não precisa se preocupar. Eu só ando um pouco cansada, mas estou tomando algumas vitaminas e vou ficar bem, logo logo - ela solta um suspiro trêmulo. - O Sr Lancaster está aí em cima?

O que ela quer agora, com Max?

- No quarto, descansando.

- Ótimo - Abigail assente, indo na direção da cozinha. - Você se importa de pedir que ele me encontre no escritório em alguns minutos? Eu só vou guardar essas compras.

Suas palavras despertam ainda mas a minha curiosidade. No entanto, Abigail já se retirou e, mais uma vez, eu me vejo obrigada a continuar tirando as minhas próprias conclusões.

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Deitado de costas na cama, Max parece relaxado, toda a concentração voltada para o livro que tem nas mãos. 

Meus olhos vagueiam do seu torso nu, passando então pela calça do pijama, que pende na cintura com os cordões soltos. Há pouco tempo, nós estávamos rolando por essa cama como dois animais no cio. E agora ele lê sobre...

Eu me aproximo, interessada para descobrir o título do livro. Quando vejo, deixo escapar um suspiro e reviro os olhos.

- Tem alguma regra de que grandes empresários só devem ler sobre administração de empresas? Credo, é tão óbvio. Por que não experimenta um pouquinho de ficção para variar?

Ele nem tira os olhos da página, mas abre um sorriso torto.

- Quem sabe um dia, você possa me emprestar um. Eu adoraria saber o que você lê, Chloe, ou o que faz. Quando não estamos fodendo, é claro.

Eu não consigo conter um sorriso. Só de falar em foder com Max Lancaster, eu já sinto vontade de colocar as palavras em prática.

- Claro. Vamos começar sua educação literária, logo logo. Que tal Blatty? O Exorcista.

Finalmente ele desvia os olhos do livro que tem mas mãos.

- Obrigado. Não estou a fim de ter pesadelos.

Surpresa, deixo escapar uma risadinha e Max me olha, em sinal de advertência. Mas eu não estou nem aí e resolvo colocar um pouco mais o dedo na ferida.

- Quer dizer que você tem medinho?

- E o fato de você não ter deveria ser preocupante.

Eu rio ainda mais.

- Então você admite que tem medo de terror, Max Lancaster?

Ele abre um sorriso de tirar o fôlego.

- E você admite que é totalmente psicótica, Chloe Henderson?

Eu aperto os lábios sem responder, dou as costas a ele e me aproximo do guarda roupa. Abro as portas, analisando detalhadamente o conteúdo atrás de algo apropriado para minha saída com Judith. A noite das garotas não sai da minha cabeça. Depois da decepção com Mallory, ter uma amiga é como um prêmio divino. Especialmente alguém como Judith, capaz de fazer um defunto começar a dançar.

- Posso ser psicótica, mas você é uma garotinha - finjo murmurar, mas estou falando alto o suficiente para que ele escute.

Ouço um farfalhar nos lençóis e olho por cima do ombro.

- Por que você não vem aqui e deixa essa garotinha mostrar uma coisa a você?  - ele se ergueu nos cotovelos, largando o livro sobre a cama. O movimento fez seus bíceps flexionarem absurdamente. 

Eu coço a nuca, bastante tentada.

- Não posso. E você também não - digo, me lembrando de algo. - Eu quase esqueci. Abigail quer falar com você no escritório, Max

Ele me olha, confuso.

- Ela já chegou?

- Sim. Pediu que fosse encontrá-la...

Paro de falar quando percebo que Max já está enfiando a camisa pela cabeça de qualquer jeito. Ele termina, pulando para fora da cama, e se aproxima de mim. Me puxa para os seus braços e beija minha boca com entusiasmo. 

Minha nossa.

A urgência nos seus movimentos me faz sorrir.

- O que está acontecendo, afinal?

Ele sorri, esfregando o nariz no meu.

- Só não quero ter que mentir para você nunca mais.

Eu ergo a mão, acariciando devagar o seu rosto. Com os dedos, aliso a ruga entre suas sobrancelhas grossas e escuras, até vê-la desaparecer.

- Então não minta.

- Não vou. Nunca mais - ele promete, com um suspiro, encostando a testa na minha. -Eu amo você, Chloe. Mais do que pode imaginar.

- Eu amo você também - respondo, com o coração acelerado. Por que ele está dizendo essas coisas? Nos já não tivemos aquela conversa mais cedo? Sobre honestidade e tudo mais? Qual o sentido disso agora?

- Você vai sair? - ele pergunta e, só então, eu me lembro que estou segurando um cabide com um vestido nas mãos.

Eu abro um sorrisinho pretensioso.

- O que você acha? - dou um passo para trás e coloco a peça na frente do corpo, me virando de um lado para o outro, para que ele possa admirar todos os possíveis ângulos. O tecido é branco com um decote cruzado profundo e uma saia evasê.  - Foi Evie quem escolheu. Acho que ela tem um senso de moda invejável.

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