MELISSA
.
.
Eu pensei muito, e até não consegui dormir desde quando fui visitar o Rodrigo na prisão, eu tive que fazer um verdadeiro balanço de tudo, desde o início, nos mínimos detalhes, e tentei puxar na memória o tipo de cara que o Rodrigo foi pra mim.
Eu sou filha de psicóloga, então entender o comportamento humano é algo que ela domina, e por mais que eu tenha passado a minha infância e adolescência vendo ela analisar tudo, eu não me tornei tão boa nisso e eu tive que recorrer a ela pra tomar a decisão de fazer o que eu estava pensando em fazer.
Eu não odiava o Rodrigo, nunca odiei, eu odiava as coisas que ele fez, e a pessoa que ele se tornou depois disso.
"O que leva alguém como ele a fazer tudo o que ele fez?"... Pensei.
Mãe: Oi filhaaa? Que milagre você me ligar, você pensa que eu não percebi que você anda fugindo de mim depois que largou a faculdade?
— Bom dia pra você também mãe, eu não larguei a faculdade, eu tranquei e volto no próximo semestre, e isso você já sabe porquê o papai já contou pra você.
Mãe: Eu sei filha, eu estou brincando com você, cadê o seu senso de humor? Mas me fala, quando você vai trazer o Diego aqui? Queremos conhecê-lo.
Em breve mamãe, mas não foi pra falar do Diego que eu estou ligando pra você.
Mãe: Então fale minha filha, está precisando de algo?
— Sim, estou precisando tirar umas dúvidas, e antes que você me pergunte, eu tenho bons motivos pra entrar nesse assunto.
Mãe: Ah, já sei que esse assunto é sobre o Rodrigo.
— Sim, é sobre ele...
Eu sei que cada pessoa reage aos problemas de um jeito diferente, e cada um tem uma realidade diferente. Mas, eu gostaria da sua ajuda pra analisar o comportamento do Rodrigo e definir quem realmente ele é de verdade.
Mãe: Ainda não entendi qual é a sua dúvida.
— Eu quero saber como alguém doce, amável, amigo, companheiro e fiel como o Rodrigo, de uma hora pra outra se transformou em alguém agressivo, manipulador, possessivo e infiel.
Eu passei dois anos com ele e ele nunca deu indícios de que era assim, e eu acho que ninguém nunca conseguiria esconder quem é de verdade por tanto tempo. Se o Rodrigo fosse realmente assim, você não acha que eu teria percebido nos primeiros meses de namoro?
— Você acha que foi isso o que aconteceu com o Rodrigo?
Mãe: Eu não posso afirmar nada Melissa, eu não o acompanhei de tão perto, não sei o que de fato ele passou, mas você pode fazer uma análise de tudo o que você viu e tirar a conclusão disso por si só.
— Tudo bem mamãe, obrigada por essa conversa.
Mãe: Por nada minha filha, eu não sei o que você está pensando em fazer, mas sei da sabedoria e da responsabilidade que você tem, e isso me deixa mais tranquila. Me ligue pra qualquer coisa que precisar.
— Tá bom mãe, te amo.
Mãe: Também amo você.
Ela desligou, e eu já havia chegado em uma conclusão.
Eu nunca quis encontrar justificativas pra nada que o Rodrigo fez, muito pelo contrário, eu quis e lutei pra que ele tivesse o castigo por todas as suas atitudes ruins.
Mas eu vi o Rodrigo de uma forma que ninguém nunca viu, eu conhecia suas fraquezas, suas vulnerabilidades e até alguns de seus traumas, e não existiu trauma maior do que ver os pais dele se separando e saber ao mesmo tempo que o pai dele não era nada do que ele imaginou ser.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A filha do meu padrasto