POV: AIRYS
— Terá que servir. — Murmurei, voltando para perto dele. Empurrei suas pernas para abrir espaço entre elas. Ele tombou a cabeça para o lado, me encarando em silêncio enquanto tomava outro gole.
— Não deveria beber estando ferido. — Resmunguei, preparando o material.
— O que pensa que está fazendo, pequena? — Sua voz saiu grave e rouca, carregada de um aviso.
— Tentando impedir que sangre até morrer. — Retruquei, pegando a garrafa ao lado e despejando um pouco da bebida sobre a ferida. Ele rosnou baixo, mas não se moveu.
— Isso vai doer. Ainda não quer ir ao hospital ou ao lago? — Questionei, encarando-o.
— Não há necessidade de fazer isto. — Daimon deu de ombros, pegando a garrafa da minha mão e virando mais um gole, indiferente.
— Você que sabe. — Murmurei, passando a agulha pela sua carne, fechando o corte com precisão. Ele não resmungava, não rosnava, sequer se movia. Apenas me observava. Terminei o último ponto, apliquei um curativo e assoprei levemente sobre a pele quente. — Não é um dos meus melhores trabalhos, mas vai impedir que sangre mais.
Daimon permaneceu em silêncio por um instante, depois deslizou os dedos pelo meu queixo, seu toque firme e quente, diferente da frieza habitual em seu olhar.
— Por que está fazendo isso? — Sua voz saiu mais baixa, intrigado, buscando me compreender. — Sou o homem que a comprou no leilão, a tomou como prisioneira, a caçou e a testou. — Seus olhos estavam sombrios, mas havia algo mais ali. Algo que parecia... quebrado. — Sou uma fera. Não me odeia por isso?
“Deveria odiar” Minha mente gritava. “Gostaria de odiar.”
— Parece que é o que você deseja, Alfa. — Suspirei pensativa. — Que eu o odeie. — Sussurrei, segurando sua mão contra meu rosto, sentindo a aspereza de seus dedos. Me inclinei um pouco mais sobre os joelhos, buscando seus olhos. — Daimon, o que aconteceu?
Ele franziu o cenho, o maxilar travado.
— Uma carnificina. — Seu tom baixo e rouco veio junto com um rosnado contido. — Muitos inocentes... levados de forma brutal.
Me levantei devagar, sentindo um aperto no peito. Sem pensar, me sentei em seu colo e tomei a garrafa de sua mão. Ele tombou a cabeça para o lado, intrigado, os olhos analisando cada um dos meus movimentos como um predador à espreita.
Hesitante, inclinei na direção de seus lábios, a respiração presa pela incerteza. Seus olhos terrosos, intensos, apenas aguardavam. Deslizei a ponta dos dedos por sua face, um toque suave, quase tímido. Daimon fechou os olhos. Então, aproximei mais, colando nossas bocas e o beijei.
Seu beijo foi surpreendentemente calmo, mas nem por isso menos dominante. Uma onda de calor percorreu meu corpo, e quando me afastei, estávamos ambos ofegantes.
— Venha. Durma comigo. — Sussurrei, me levantando e puxando sua mão. Ele não resistiu. Se deitou, e por um instante, hesitei antes de deslizar para perto dele. Respirei fundo e deitei minha cabeça sobre seu peito, sentindo o calor de sua pele e seus dedos se infiltrando em meus cabelos.
— Descanse. Amanhã, encontre os culpados e os façam pagar... — Minha voz saiu firme, sem hesitação. — Dolorosamente.
Daimon interrompeu a carícia e soltou um riso seco, sem qualquer humor.
— Pequena, você é mesmo intrigante. — Sua voz era baixa, intensa e cheia de fascínio. — Achei que eu fosse um monstro aos seus olhos, um assassino, se não me engano.
Engoli em seco antes de responder, sentindo a hesitação nas minhas próprias mãos quando as coloquei lentamente sobre o tórax nu dele, sentindo o calor de sua pele contra a minha palma. Fechei os olhos por um instante, absorvendo o ritmo firme e acelerado de seu coração.
— Se estão assassinando crianças e inocentes, talvez precisem mesmo de um monstro para os parar. — Ressoei suave e firme. — Apesar da sua fama terrível, ouvi do conselho e dos grandes líderes que você sempre foi justo.

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