POV: AIRYS
Por que eu estava com tanta raiva?
Essa pergunta ecoava constantemente na minha cabeça enquanto caminhava sem rumo pela enorme cidade de Tal’Dorei. Sentia meu coração acelerar, batendo descompassado, irritado, inquieto. Gotas pesadas de chuva começaram a cair, molhando minha pele e aumentando ainda mais minha irritação.
— Ótimo, como se este dia pudesse ficar ainda pior — resmunguei com impaciência, parando perto da ponte sobre o rio agitado. Apertei as mãos na beirada, olhando para a água turva abaixo. — Se ao menos essa chuva conseguisse levar embora tudo o que estou sentindo.
Mas não podia. Minhas emoções eram intensas demais, confusas, difíceis de entender. Por que exatamente eu estava furiosa?
"Ele puniu aqueles que te machucaram repetidamente. Fez com que eles sentissem parte do sofrimento que você viveu." Minha mente argumentava, lutando contra minhas emoções em conflito. "Mas não é isso que está te deixando louca. Foi o jeito que Daimon te tratou ontem à noite, frio e distante, quando tudo que você queria era estar envolvida nos braços dele, quebrando barreiras, sentindo algo real."
Suspirei profundamente, um soluço escapando sem aviso enquanto eu pegava uma pequena pedra no chão, lançando-a com força contra a correnteza do rio. Notei um caminho estreito e escorregadio que levava até a margem; segui por ele com cuidado, sentando-me próxima à água, deixando que as gotas frias da chuva escorressem por meu corpo.
A correnteza estava ficando mais forte, assim como minha respiração, que se tornava entrecortada e ofegante enquanto a ansiedade crescia dentro de mim. Tremendo, encolhi o corpo, abraçando meus próprios joelhos com força, tentando me proteger da confusão que dominava meu peito.
— Eu poderia jurar que vi algo verdadeiro em seus olhos ontem — murmurei baixinho, minha voz trêmula de emoções reprimidas. — Um sofrimento profundo, escondido atrás de toda aquela arrogância e frieza.
Um arrepio forte percorreu minha espinha ao lembrar do toque rude e intenso de seus lábios sobre os meus. Ainda conseguia sentir a pressão de seus dedos contra minha pele, dominando, desejando, cheio de uma raiva selvagem que revelava muito mais sobre ele do que gostaria, seus sentimentos eram intensos.
“Uma conexão perigosa...”
— Essa conexão entre nós... — sussurrei, estremecendo ao admitir aquilo em voz alta pela primeira vez. — Como é possível existir algo assim comigo, se nem mesmo sou uma Lupina?
Levantei o rosto para a chuva forte, deixando que as gotas frias escorressem por minha pele quente, numa tentativa inútil de afastar aqueles pensamentos perigosos. Mas não importava o quanto eu negasse, estava claro que Daimon havia se infiltrado profundamente dentro de mim, mexendo em todas as defesas que tentei construir.
E agora eu temia o que ele poderia causar em mim, com seu poder bruto e sedutor. Eu temia o que eu mesma poderia desejar dele, o monstro cruel e irresistível que tanto ansiava evitar.
Me levantei lentamente, enxugando o rosto molhado pela chuva, sentindo um arrepio intenso correr pela minha pele. Respirei fundo, tentando acalmar meus pensamentos tumultuados, e comecei a caminhar em direção à mansão. Olhava ao redor, observando os comércios que começavam a abrir, notando adolescentes animados conversando dentro de uma cafeteria. Percebi, surpresa, que já havia amanhecido, e eu sequer havia notado durante aquela noite infernal.
— Eu mataria por um café — murmurei para mim mesma, ao olhar através da vitrine, sentindo minha barriga roncar alto, com um protesto desesperado por comida. — Estou parecendo um cachorro abandonado.

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