POV: AIRYS
Ele não respondeu, apenas me fitou com aquele olhar impenetrável. — Fenrir desafiava a Deusa Lua a cada reencarnação porque nunca encontrou sua companheira de alma. Isso o atormentava. Mas, ao desafiar a deidade, suas emoções eram dilaceradas, sua essência despedaçada, arrancando dele qualquer possibilidade de amar.
Minha voz falhou. Apertei os lábios, engolindo o desconforto. Não parecia justo. Por que a Deusa simplesmente não lhe concedia uma companheira?
— Daimon… — Minha respiração pesou. — Por que seu lobo sempre rejeitou as fêmeas?
Ele não respondeu de imediato. Apenas se moveu lentamente, o queixo roçando em meu ombro, sua respiração quente espalhando um arrepio intenso pela minha pele. O toque sutil dos músculos rígidos de seu braço deslizou contra o meu, enviando ondas de tensão pelo meu corpo. Sem desviar o olhar, ele virou algumas páginas e apontou para um trecho do livro.
Meus olhos deslizaram pelas palavras, e o choque me atingiu em cheio. O sangue gelou em minhas veias, e um arrepio cruel percorreu minha espinha.
— Então… as outras…? — Minha voz vacilou.
Daimon não se moveu. Apenas observou a garrafa em sua mão, o maxilar travado.
— Fenrir tentou reivindicar outras fêmeas quando assumiu os Alfas antecessores… — Sua voz era baixa, densa, carregada de algo sombrio. — Mas sem o elo de alma, ele se perdia. Perdíamos o controle. Ele as caçava. Destroçava. A cada tentativa fracassada, se afundava mais, se tornando algo sem volta.
Eu tremi. Meu coração martelava contra as costelas, mas ele não me deu espaço para recuar. Apenas levou a garrafa aos lábios, virando o líquido em um único gole.
— Quando fui escolhido, fiz um pacto com a fera. — Seus olhos pousaram nos meus, intensos, sem hesitação. — Só aceitaríamos a verdadeira escolhida. Mesmo que isso significasse uma vida sem companheira.
— Mas... — Hesitei, sentindo um nó na garganta. — Por que fez esse acordo se corria o risco de viver milênios sem uma companheira?
Daimon expirou devagar, mas a tensão em seu maxilar ficou evidente. Quando falou, sua voz era um rosnado contido, carregado de algo sombrio e doloroso.
— Porque uma das Lunas mortas brutalmente foi a minha mãe.
Minha respiração parou.
— Pelas garras do meu pai, quando ainda éramos crianças.
Meus olhos se arregalaram. Um choque gélido percorreu minha espinha. Vi a sombra de algo violento brilhar em seu olhar, os tons terrosos oscilando até o vermelho vivo, feroz, como uma fera prestes a emergir.
Sem pensar, toquei sua coxa.
— Daimon... Eu sinto muito. — Minha voz saiu hesitante.
Ele não respondeu. Seus olhos desceram lentamente para minha mão sobre sua pele nua. O silêncio se alongou, pesado, e quando seus olhos voltaram aos meus, o predador faminto estava lá. Meu corpo arrepiou, e antes que eu pudesse me conter, recuei a mão. Engoli em seco.
— Quantos anos vocês tinham?
— Oito. — Ele murmurou, os dedos apertando a garrafa entre as mãos. — Raiker e eu conseguimos fugir. Nos escondemos no labirinto, camuflamos nossos cheiros.
Houve um instante de silêncio antes que ele continuasse.
— No começo, eu odiava Fenrir. — A pausa foi carregada de um peso que quase me fez tremer. — Talvez por isso ele tenha me escolhido.
Franzi o cenho.
— O que quer dizer?

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