Camila Coelho
Ontem foi um dia especial. Foi dia do jogo de tênis no clube, e eu finalmente encontrei com as meninas.
Fiquei feliz em poder conversar com elas, e contastar com meus próprios olhos, que são do jeito que imaginei.
Sabrina eu já conhecia... Apesar de não ter estreitado laços com ela no internato, porque definitivamente naquela época, eu estava de mal com o mundo.
Culpava a madame por tudo, pois ela me obrigou a ficar lá, então eu evitava as pessoas que chegavam até mim para falar bem dela... E uma dessas pessoas foi Sabrina.
Mas eu sabia que ela era uma boa garota. Muito romântica e tinha a cabeça na lua, mas ainda sim era uma boa garota. Não tinha traumas como eu e nunca foi abusada... Então meio que tinha raiva dela…
Na minha cabeça, Deus escolhia as pessoas como suas preferidas, e davam a elas as provas de acordo com o seu grau de amor. Então tinham aquelas pessoas com uma infância que era o próprio purgatório, e outras que tinham uma infância rica de carinho e cuidado.
Hoje em dia eu sei que não é bem assim…Pra dizer a verdade, eu ainda não entendo muito bem, mas eu fui procurar meios de entender o porquê disso tudo. De todas as explicações a que mais se encaixou foi a teoria da reencarnação.
Então se eu quero ter uma vida equilibrada, eu preciso pensar que não há escolhidos por Deus... Apenas vivemos aquilo que precisamos para evoluir.
Acho que nem preciso dizer que a gente aprende com a dor...
Então se isso tudo aconteceu comigo enquanto eu era uma criança inofensiva, foi para que eu amadurecesse com mais rapidez que os outros e porque, em algum momento da minha existência eu mereci passar por isso.
Na nossa vida procuramos meios e justificativas para enfrentarmos as provas que nos foi destinada.
Eu amo viver e quero ter uma vida próspera apesar de tudo. Não terei, se continuar lamentando o meu passado.
Enfim, fiz um rodeio danado, pra dizer que eu estou animada com a amizade com as meninas, principalmente com esse grupo de whatsapp. Vai ser bom conversar com elas...
Eu sei que os meninos vão saber tudo que conversamos no grupo, porque o Bernardo mantém meu telefone grampeado. Ele não sabe que eu sei, claro… Mas eu devo ser leal a ele acima de tudo, e leal a Fernanda que não esconde nada de mim, e que me deixa bem informada. Não posso contar para as meninas que existe uma escuta…
Estarei sendo desleal a elas? Nem tanto… elas são submissas como eu, já devem ter uma idéia de que isso pode acontecer. Eu só preciso maneirar nas conversas para não encrencar elas... Acho que consigo fazer isso, sem Bernardo perceber que eu sei da escuta.
Volto para a Terra, quando vejo ele estacionando o carro na frente da casa de seus pais. Hoje é domingo, dia de almoço com D. Irene e Senhor Max.
Nossa, que legal!!!
Dá pra ver minha animação né?!
É porque eu sou introvertida. Os únicos momentos que não sou, é quando estou dançando ou tagarelando com o Bernardo. O meu normal é ouvir mais que falar, observar mais que interagir.
Mais a D. Irene…
Ela não é assim…
Ela faz questão de me manter ocupada a maior parte do tempo e não para de falar um minuto sequer. Mais é um doce de pessoa… ama o filho com toda sua intensidade. E eu me vejo fazendo sacrifícios por ela, quando venho aqui.
Já Senhor Max… eu não tenho o que dizer sobre ele… pois nunca trocou mais que meia dúzia de palavras comigo. É muito sério! Ele e Bernardo quando estão conversando, é sempre um jogando ironia em cima do outro. Mas não é falta de amor… é uma competição sem sentido. Já até achei uma vez que ele sentia ciúmes de D. Irene com Bernardo, ou vice e versa. Enfim… só sei que existe uma história entre ele, Bernardo e o irmão que eu não conheço. E que eles precisam resolver…
Outra coisa que me incomoda, é ele achar que o filho não está certo em ter escolhido Ortopedia. Ele se acha melhor que o filho por ser neurologista. E vive jogando indiretas quando o assunto vai por esse caminho. Fico chateada pois, pelo pouco que entendo de família, o certo é os pais terem orgulho de seus filhos, seja o caminho que eles quiserem seguir.
E Bernardo quis trilhar seu próprio caminho… qual o problema nisso?!?
-Vamos?? -Ele diz me olhando
-Sim mestre!
Abro a porta do carro e saio alisando meu vestido. Bernardo escolheu hoje um vestido de verão amarelo,na altura dos joelhos. Ele tem o corpete ajustado no corpo e uma saia rodada. Estou com um tamanco plataforma e com os cabelos soltos. Ele ama esses vestidos rodados, eu tenho trilhões na minha parte do closet. Alguns foram desenhados por mim, outros foi ele que escolheu.
Hoje não estou de maquiagem carregada. Quase nunca estou quando visitamos seus pais.
Logo vejo D. Irene saindo da casa e vindo até nós sorridente. Ela está vestindo hoje um vestido branco reto e está com Penélope nos braços.
Bernardo quando a vê a beija na bochecha e pega Penélope em seu colo. A bichinha lambe ele todo. Ela é uma fofa!
-Boa tarde D. Irene…
-Boa tarde querida. Só estava esperando vocês chegarem para servir o almoço.
-Desculpe mãe, nos atrasamos hoje…
-Que nada…
Ela vem em minha direção e beija minha bochecha, me abraçando com carinho e praticamente me obrigando a acompanhá-la assim, de braços dados.
Outra coisa... Eu tenho problemas com toques... Quando era mais nova, eles me incomodavam muito... Mas depois da terapia, eu melhorei bastante.
Ainda não gosto de ter uma pessoa me tocando o tempo todo. E dona Irene é daquelas que conversam, tocando…
-Mandei fazer lasanha, não somos italianos, mas adoramos uma massa. -Ela diz sorrindo.
-Eu também amo lasanha.
Vejo Senhor Max se aproximando…
-Boa tarde, enfim chegaram... Achei que íamos ter que jantar em vez de almoçar.
Ele fala isso porque já são três da tarde... Bernardo ficou enrolando pra vir hoje, não sei o motivo... Mas ele não queria vir…
- Estamos aqui pai... Eu disse que viria... Podia ter almoçado antes, não precisava esperar…
-Suas mãe fez questão da sua presença.
Ele fala revirando os olhos.
-Vamos... Já está tudo pronto.
Nos encaminhamos para a mesa quando ouço ele dizer para o Bernardo.
-Precisamos conversar, Bernardo.
-Agora pai? Você não disse que estava morrendo de fome?
-É apenas meia hora, sua mãe e Camila podem almoçar... Venha…
Ele suspira e acompanha o pai...

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Redenção do Ogro
A história desse livro é muito massa e uma Pena que está postado a história toda...