Camila Coelho
Ele dirige em silêncio, sem falar nada. Não tomamos o caminho do apartamento do Paulo. Acho estranho, não iríamos lá? Talvez ele queira me deixar em casa e depois vá para lá…
Ele aumenta a velocidade e em poucos minutos chegamos em casa. Desce do carro em silêncio e eu faço o mesmo. Entramos em casa e ele acende todas as luzes dizendo em seguida:
-Enquanto ponho a sunga para nadar, se importa de descongelar algo para comermos... Você também não almoçou…
Olho para ele e confirmo. Eu acabo fazendo a pergunta de milhões. Eu não tenho nada a ver com isso, mas…
-Não íamos para o apartamento do mestre Paulo?
Ele fala sem me olhar, quase no topo da escada.
-Não... Vou ajudar ele com as agulhas amanhã, só usei essa desculpa para sair de lá. Foi uma péssima ideia ir almoçar com eles hoje…
Eu suspiro... Ele sobe as escadas e eu vou para a cozinha ver algo para fazer. Abro o freezer e vejo logo duas marmitas de bolo de batata.
Pego elas e ponho no microondas.
Eu nem estou com fome, porque deu para comer bem, apesar de ter saído do almoço no meio. Ele é enorme, uma marmita só não vai deixá-lo totalmente alimentado. Vou para a geladeira e pego o material para fazer uma salada.
O que será que o pai dele falou para ele ficar tão abalado? Será que tem a ver com a vinda do irmão? Eles não se falam há décadas. Será que o Bernardo vai aguentar trabalhar com o irmão, num mesmo hospital?
Eles tiveram uma briga feia quando ele foi embora. Tá certo que um eram adolescentes na época … Porém a briga foi feia.
Bernardo é territorialista, implicante e sarcástico. Não sei se isso vai dar certo. A maior prova disso é o comportamento dele tão perturbado.
Vejo ele descendo com uma toalha no ombro, e apenas de sunga preta. Ele nunca usa sunga para nadar, sempre nada nú... Ele é exibido demais para usar uma sunga na sua piscina. Mas um motivo, para eu achar que as coisas não estão boas.
-Estou descongelando bolo de batata, pode ser?
-Sim, perfeito!!! Enquanto isso vou dar um mergulho.
Ele vira de costas e vai em direção a porta dos fundos.
-Mestre... -Ele pára e me olha.
-Quer conversar?
Ele balança a cabeça dizendo que não, e se encaminha para a piscina.
E eu fico com os meus pensamentos. Que merda foi essa!?
******************
Depois que ele almoçou, viemos ver um filme na sala. Ele está numa poltrona reclinável prestando atenção no filme e eu estou deitada num sofá, desassossegada. Pela primeira vez eu não durmo assistindo um filme. Estou preocupada com ele.
Ele voltou da piscina silencioso, almoçou silencioso e apenas me chamou para assistir o filme. Esse não é o Bernardo que conheço...
Nesses seis meses em que estamos juntos, ele nunca ficou tão quieto assim.
O que está rolando é grave! Queria ajudar, mas não sei como. Me mexo de novo no sofá e ele me olha.
-Não está dormindo? Que novidade é essa?
-Estou preocupada com o mestre… -sou sincera, afinal acima de tudo somos amigos.
Ele suspira e diz:
-Não tem porque se preocupar…
-O senhor está muito calado... Não é assim...
-Você agora tem PhD em Bernardo? -Ele se senta na poltrona e me olha com a sobrancelha levantada.
-Já te conheço bem pra saber que não está bem…
Tô nem aí para seu sarcasmo Bernardo. Isso pode funcionar com os outros, não comigo.
-Se eu estou bem ou não Camila, não é da sua conta... Quer que eu seja mais claro ainda? - Ele se levanta do sofá, desliga a tv e se encaminha para a escada...Para no meio do caminho e diz: -Essa é uma daquelas vezes que eu te disse que queria privacidade. Nem pense em me contrariar…
Ele sobe as escadas e eu bufo. Babaca!
Ele nunca me pediu privacidade…
Que merda!
Quer saber? Eu ofereci ajuda... Eu até insisti... Se ele não quer, o que posso fazer?

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Redenção do Ogro
A história desse livro é muito massa e uma Pena que está postado a história toda...