Camila Coelho
Suspiro fechando os olhos e acalmando a minha respiração. Aos poucos eu voltei às aulas de dança. Claro que as piruetas do pole dance, não me pertencem mais. Eu não posso deixar minha pressão oscilar. Apesar de nunca ter tido pressão alta, a pressão baixa também é perigosa.
Aos poucos vou me adaptando ao novo estilo de vida.
Ainda danço... Principalmente dança do ventre... Lena fez um ótimo trabalho na adaptação. Mas nada muito cansativo, pois devido aos sintomas, eu me canso mais rápido do que antes.
Me adaptei bem aos novos remédios, o que é uma glória! Bernardo nem percebeu eles, já que eu sempre tomei antidepressivos.
Pra mim é fácil omitir as coisas dele, se Fernanda continuar sendo minha guarda costas. Ela só conta a ele o que autorizo. E eu uso o telefone dela quando preciso falar com o médico. Durante a semana ele está muito envolvido com o hospital. Nos finais de semana, já é mais complicado, mas eu tenho feito um bom trabalho.
-Está se sentindo bem? -Lena pergunta pela décima vez.
Eu contei a verdade para ela porque não tive escolha, já que eu não pretendia parar de dançar, mas ela disse que não contaria a mais ninguém. Fernanda e ela já eram uma pequena multidão sabendo de tudo. Eu não podia correr o risco dos outros saberem. Pedir segredo a ela, topou... Só porque ela sabia que meu contrato com Bernardo estava acabando, e que eu estava seguindo à risca as recomendações do médico. Porque se não fosse isso, essa baixinha ia bater com a língua nos dentes. Eu entendo ela…
-Sim... Só preciso recuperar o fôlego. -sorrio.
Me sento na cadeira e tomo um gole de água, enquanto ela ensaia uma batida da música, diferente no espelho.
Ela só quer meu bem... Como Fernanda também. Ela se tornou um general em relação aos cuidados com a minha saúde. E parecia meu relógio animado. Toda vez que dava a hora de tomar os remédios, ela estava me lembrando. E ficou animada em saber, que mesmo depois do fim do contrato, ela continuaria fazendo minha segurança.
Falta pouco agora... Amanhã estarei já no meu sobrado. Hoje é meu último dia com ele. Estou animada por ter conseguido passar todos esses dias ao lado de Bernardo e ele não ter desconfiado de nada.
E foi difícil! Muito difícil!
Porém, eu adquiri um novo trauma com a nossa relação! E esse, eu pretendo manter bem longe de mim... Eu não quero, em hipótese nenhuma, que ele saiba da minha doença.
A minha mãe destruiu a minha vida para sempre... Porque tenho certeza que essa doença foi provocada pela falta de cuidado dela com uma criança... Ela tem bastante culpa no cartório. Se Bernardo souber disso, é bem capaz de sentir pena de mim. A menina que não foi órfão, mais que se fosse criada num orfanato teria tido uma vida bem mais digna do que esteve ao lado de sua mãe.
Eu nunca na minha vida quis depender de ninguém. Porque quando dependir da minha infância, se aproveitaram da minha inocência e me destruíram por dentro.
Eu não darei essa oportunidade a mais ninguém. Mesmo sabendo que o meu ogro, seria incapaz disso.
Ele nunca pediu uma submissa doente que dependesse dele para tudo... E que atrapalhasse sua vida, o seu jeito de ver a vida. E eu não poderia fazer isso com ele.
Fora os jogos! Bernardo era sádico! Ele se excitava com dor...E ele não poderia mais provocar isso em mim... Seria um dominador sem a sua essência.
Os jogos, na maioria das vezes, não eram apenas para diversão. Era uma forma de lidar com os nossos demônios.
Quanto a mim, eu teria que ser obrigada a deixar de lado o meu masoquismo.
Te falo que estava sendo mais fácil do que esperava.Não vou dizer que não sentia falta da euforia, do bem estar que a dor me provocava. Sentia... Principalmente quando a dor da minha alma resolvia se fazer presente. Nessas horas eu tinha vontade de arrancar meu coração do peito e não sentir nada daquilo, mas hoje em dia, a falta da dor era infinitamente mais controlada do que antes.
Talvez seja o que a terapeuta disse... Talvez saber que o homem que me machucou no passado, morreu, tenha acalmado a minha mente e me feito ter mais controle sobre a minha podridão.
Porque todo mundo tem um lado podre que precisa controlar! Eu não sou diferente…
Eu conseguiria ir em frente... Eu conseguiria controlar meus vícios.
Talvez o que eu não conseguiria seria viver longe do meu ogro...Seria a coisa mais difícil que eu iria fazer na vida!
Eu o amava... E de todos os desejos que tinha, ver o Bernardo feliz era o meu desejo mais insano.
"Mas Camila, como sabe que o ama, você nunca amou alguém?"
Eu tenho certeza que o amo exatamente pelo o que sinto. Não importa o caminho que ele siga. Eu quero que ele seja feliz! Só isso...
Me preocupo em ver ele passando por todo esse estresse com o pai e o irmão. Ele definitivamente perdia o controle quando o assunto era esse.
Ele estaria sozinho para enfrentar isso quando eu fosse embora... Já que desabafar ele só fazia com o pai do Arthur e comigo, não porque eu era muito importante, mas porque estava presente em sua vida 24h. Nós aprendemos a nos apoiar nesse 1 ano de relacionamento. Agora com a minha partida. O que seria dele?
Ele anda afastado dos meninos, não por maldade... Ele os ama... Quer o bem deles... Se preocupa... Ele só não quer dar trabalho pra ninguém... E neste momento ele está desequilibrado o bastante para encher o saco das pessoas. Fora que Arthur e Paulo já tem seus dramas para lidar com suas submissas. E como ele não entende muita coisa, ele prefere ficar na dele, para não ofender ninguém com suas opiniões nada convencionais.
Eu entendo ele... Às vezes tenho vontade de me afastar das meninas também. E não dar minha opinião sobre nada, porque também eu não entendo muita coisa... Mas eu aprendi uma coisa na minha vida que Bernardo não aprendeu... Eu sei que não posso me meter nas escolhas dos outros, mesmo que eu veja esse outro sofrendo lá na frente. Bernardo não pensa assim...
Até ele trabalhar isso em sua cabeça, ele estaria fora de controle. E Bernardo fora de controle significaria muitas garrafas de whisky.
Eu tinha medo que ele metesse os pés pelas mãos. Eu tinha medo que ele se machucasse, ou que se afastasse do que ele tinha de mais precioso: que era o hospital e a sua família.
Mas eu não podia fazer nada... Era algo que ele teria que aprender a lidar…

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Redenção do Ogro
A história desse livro é muito massa e uma Pena que está postado a história toda...