Camila Coelho
Não tem sido fácil.
Ponho o remédio em minha boca e engulo. Meu organismo não reagiu bem ao término com o Bernardo.
Acho que não é nenhuma novidade.
Na primeira semana segui firme...
Indo para as aulas de dança. Voltei ao meu antigo horário e estava animada, na segunda semana já acordava desanimada todos os dias, e meu apetite foi embora.
Já na terceira semana os pesadelos voltaram. Um primeiro sintoma da minha síndrome do pânico. Mas eles não tinham mais como "agente" principal, meu padrasto. Dessa vez era sempre Bernardo... Sonhos picantes, que se tornaram uma tortura no final. Geralmente era com ele me perguntando porque eu resolvi ir embora.
Eu andava muito cansada para interromper os sonhos.
Eu sentia muita falta dele, a ponto de meu coração doer. Eu tinha consciência de que poderia estar prejudicando a minha saúde. Mas era algo maior que eu...meu médico resolveu diminuir o espaçamento dos check-ups. Agora eu ia nele todo mês, para investigar como as coisas estavam indo.
Eu continuava na terapia. O que me ajudava bastante. Ela me ajudava a entender todos esses sentimentos conflituosos que faziam parte de mim, neste último mês. Eu conseguia manter o foco, graças a ela. E o meu foco no momento era o ateliê.
A confecção dos vestidos estava de vento e polpa. Em poucas semanas abriremos as portas. Fora as encomendas que estavam aumentando. Eu peguei a incumbência de desenhar o vestido da cerimônia das rosas de Duda, e isso fez com que D. Eleonora e D. Irene se interessassem por alguns vestidos... As coisas estavam se encaminhando bem, já que eu estava confeccionando vestidos para a auto sociedade de São Paulo.
As redes sociais estavam bombando e em breve, eu teria que contratar mais funcionários.
Bom, pelo menos o ateliê estava indo bem! Pelo menos uma coisa na minha vida!
Fazia pouco tempo que tinha terminado com Bernardo e eu acreditava fielmente, que esse vazio ia passar. Eu estava no caminho de uma vida normal... Mas talvez o caminho de me manter distante dele, não era o ideal neste momento.
Mas mesmo muito machucada e confusa, eu não desistia! Mergulhava no trabalho, me dedicava a isso e ia em frente.
Ele de vez em quando mandava mensagem. Provavelmente sentia falta de mim, como sentia dele. Mas como disse, não havia mais futuro para nós e eu tinha que me convencer disso. Então eu tratava ele apenas com educação. Era o que eu tinha que fazer, não era?
Ir no noivado de Duda foi um inferno para mim! Mas eu disfarcei bem. Pus uma roupa de grife, deixei meus cabelos bem lisinhos. Agora que eles estavam Chanel, fazer escova neles era muito mais fácil. Pus uma maquiagem bem forte para esconder minhas olheiras e fui na cara e coragem.
Quando o vi, confesso que meu coração deu uma pontada... Mas depois eu segui firme. O tratei como qualquer outra pessoa do recinto. E nem foi difícil, porque logo ele foi embora.
O que foi difícil foi ver como ele estava vivendo. As minhas suspeitas se confirmaram. Ele estava bebendo demais.
Isso me deixava mal novamente, tão mal, que quando cheguei em casa ontem eu precisei de um antídoto para me entorpecer. Eu não conseguia me desvencilhar do sentimento de culpa de deixar ele num momento tão difícil.
Meu bebezão não era forte como eu... Porque ele não tinha passado nem a metade do que eu tinha passado. Ele não sabia lidar com seus sentimentos como eu. E estava sofrendo... Dava pra ver na sua face.
Me dirijo para o banheiro da minha suite e me sento na tampa do vaso levantando a minha camisola e olhando para o meu bom e velho cilício. Que me acompanha desde os quinze anos.
Me lembro como se fosse hoje quando ganhei ele de presente de um padre.
Logo depois que denunciei meu padrasto aos policiais, minha mãe fez com que todos acreditassem que eu estava louca e me entregou aos cuidados do padre da cidade. Ele me fez acreditar que a história que inventei, era fruto do Diabo querendo separar a nossa família. Mau sabia ele que o próprio diabo encarnado era o cara que ele defendia com unhas e dentes, como sendo um pai exemplar. Enfim, o padre me ensinou como eu deveria agir com o diabo que estava tentando meus pensamentos.
As penitências eram diárias... E logo descobri que os cilícios me ajudaram bastante. Eles me faziam esquecer da dor da minha alma.
Quando conheci madame, ela me ensinou a controlar o vício da dor sem eles, porém eu nunca me desfiz deles. Eles sempre estiveram comigo, para me lembrar que às vezes, eu precisaria me penitenciar para ser uma pessoa melhor. Não pelos motivos que o padre me disse na época. Mas porque existiam pecados que não tinham concertos.
Me doía ver Bernardo sofrendo. O grande amor da minha vida! E sabendo que ele estava sofrendo com um pouco de ajuda minha!
Afrouxo o elástico que prende ele na minha perna, e logo sinto o formigamento no local com um pouco de dor. Gemo de contentamento.
Não uso frequentemente... Aliás, nesse tempo todo não precisei dele... Mas ontem foi uma exceção.
Eu não conseguiria dormir se não fizesse uso dele. Com eles eu me concentro em algo que não seja meus pânicos noturnos. Funciona bem.
De repente me vem um sentimento de culpa. Eu não deveria ter usado eles. É como regredir em todo o tratamento. Mas a terapeuta disse que as recaídas vão acontecer! O que me faz forte, é o que vem depois...
O local em que estava fixado está bem vermelho, mas nada que um banho com água morna e uma loção pós banho não resolva.
Não cheguei ao grau de me ferir com eles como antigamente, e acreditava fielmente que não precisaria ir até esse limite...
Foi só uma recaída Camila! Relaxa!
Eu só precisava aliviar um pouco minha dor... Só isso…
Tirei minha camisola e fui para debaixo do chuveiro. Eu precisava trabalhar. E ficar pensando no Bernardo não me ajudaria a ir em frente... Preciso fazer alguns croquis para dar para Duda escolher. Estou muito feliz pela minha amiga e recebi a notícia de que eu iria fazer seu vestido da cerimônia de rosas com muita animação. Ela poderia ter escolhido qualquer estilista famoso. Mas ela escolheu a mim, eu teria que criar algo excepcional!
Estava feliz por ela...pelas duas. Elas finalmente encontraram a felicidade... Sabrina então... Eu sorrio com a cabeça debaixo do chuveiro.
O que poderia ser mais que especial para Sabrina, que sonhou a vida toda em casar e ter filhos? Lógico que seria uma gravidez inesperada com o amor da sua vida. Era um final perfeito!
As pessoas tinham que lutar pelo o que elas queriam. Deveriam lutar pelos seus sonhos... Não há nada mais especial do que ver minhas duas amigas, realizando o delas.
Eu estava feliz por elas! E faria de tudo para que esta felicidade continuasse em suas vidas!
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-Eu amei esse …
-Eu também... -Sabrina diz sorrindo.
-Vai valorizar seus seios... E ele vai ser todo moldado no seu corpo, o que vai deixar perfeito. Agora que cor?-Falo para ela.
Duda veio escolher o croqui para a sua cerimônia das rosas. E trouxe Sabrina a tiracolo.
Elas estão radiantes. É tão bom ver minhas amigas assim.
-Queria algo sóbrio, nada de vermelho como D. Paula disse.
-Azul bebê combina com você, com a cor de sua pele. -Sabrina diz para Duda sorrindo.
-Também acho.. Sá, tu leva jeito para isso, já pensou em virar minha sócia?
Desde que ela chegou eu venho pensando nisso. Vai ser uma forma de ela dividir seu tempo com a família. Não é saudável pra ninguém viver a vida do outro, em função do outro...
Conseguimos viver assim por um tempo. Por isso que as relações baseadas apenas no Bdsm são curtas. E aquelas que prolongam, os acordos que existiam não fazem mais sentido e tudo é readaptado à nova realidade.
Principalmente Sabrina, que tinha alguns problemas e algumas batalhas que ainda trava todos os dias.
-Adorei a ideia Sá, você tem talento pra isso. No internato você me ajudava bastante com os looks.
-Nem precisa ir muito longe, basta ver a elegância com que ela se veste. Ter uma sócia facilitaria a minha vida... E você ajudou bastante o Paulo no hospital, eu me lembro bem... Quando Nala ainda não dava conta da função de secretária.
-Eu não sei Camila... Eu tenho que conversar com o Paulo primeiro... Nessa fase…
Corto ela antes que fale demais.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Redenção do Ogro
A história desse livro é muito massa e uma Pena que está postado a história toda...