A Redenção do Ogro romance Capítulo 56

Bernardo Thomson

Ela fica branca novamente, mais logo se recompõe.

-Que tratamento?

-O da síndrome do pânico. Você não continua na terapia? Eu sei por causa do relatório da Fernanda.

-Ahhh tá, desculpe... É que a terapia já faz parte da minha vida, eu nem considero mais como tratamento. Vai bem... Tive algumas recaídas, mas isso faz parte.

-O quê?

Ela lambe os lábios e diz.

-Alguns pesadelos. Mais está tudo bem... Você não precisa se preocupar.

-É o vício da dor Camila... Você realmente se afastou do Bdsm?

-Sim ... Eu não faço mais parte deste mundo. E o vício da dor está tudo se encaminhando. Um dia de cada vez. -Ela não me olha mais. Eu sei que ela está mentindo pra mim…Eu sei! Mas não posso fazer nada. Não sou mais nada dela.-Vou fazer o que disse... Posso contratar um assistente, como Arthur…

Eu suspiro e digo.

-Isso é uma boa... Naquela agência que te falei, você vai encontrar algum profissional gabaritado. Mais um conselho, sempre de a última palavra em tudo que ele vá fazer. Você precisa de pessoas para te ajudar, mas o controle de tudo a gente nunca deve dar na mão de ninguém.

- Copiado... Tenho uma coisa para te contar...

-O quê?

-Seu irmão esteve aqui no ateliê semana passada.

-Veio acompanhar a modelo de perna fina na compra de vestidos.

Ela sorri e diz:

-Não, ele veio sozinho.

-O quê veio fazer aqui?

-Eu me fiz essa mesma pergunta quando me disseram que estava me procurando. Mas no final foi até legal a conversa.

-Vai morrer de amores por ele também Camila? Porque minha família está um saco.

Ela sorri...

-Você ainda continua sendo o meu preferido dos Thomson.

-Bom saber disso... Mas o que o banana queria?

-Ele achou que eu podia te convencer a ouvir ele ... Imagina! Eu ... Ex submissa sua, depois de quase dois meses sem ter contato com você, consegue te convencer de fazer algo que nunca quis fazer a mais de vinte anos. Surreal, você não acha?

-Acho... Será que ele não aprendeu que eu não sou convencido por ninguém?

-Pois é... Eu lembrei isso a ele... Mais aí ele me contou que seu pai disse que você não fez um escândalo na festa por minha causa.

Merda! Além de ser a porra de um pai carrasco, ainda é fofoqueiro.

- De um certa forma você foi a causa…

-Pode explicar? Porque nem tocamos nesse assunto naquela noite…

Eu suspiro.

-Eu vi aquela sombra …

Ela não entende nada.

-Que sombra, Bernardo?

-A sombra que esteve nos seus olhos quando te conheci e que só sumiu de lá depois de alguns meses de contrato. Seus olhos parecem vazios quando você sofre. Oco e frio... Quando me pediu para não deixar ninguém mudar meu coração, eu vi essa sombra. Então eu refleti que você tinha razão. Eu ia prejudicar muitas pessoas se abrisse a boca naquele discurso. Pessoas que não tem nada a ver com a minha rixa com meu pai e irmão. Então decidi não fazer.

Ela fica um tempo me encarando sem falar nada.

E eu tomei mais um gole de café.

-Eu não sabia que eu tinha essa sombra nos olhos.

Eu sorrio.

- Não é algo que todos percebam. Relaxa! Você só é transparente para mim.Na verdade eu não recebi meu irmão, mas fui obrigado a ler o projeto pelo Paulo.

-Armaram pra você de novo?

-Não... A japonês incorporou o samurai... Às vezes ela faz isso, sabe? - Ela solta uma gargalhada.- Então ele deixou a pasta com o tal projeto na minha mesa... E você sabe o resto…

-A curiosidade foi maior …

-Isso... Eu acabei de ler e vir para cá. Estava precisando ouvir um amigo neutro, e que não tenha segundas intenções. Espero que não tenha sido demais para você.

-Bom, preciso te contar uma coisa.

-Diga…

-Eu ia tentar te encontrar amanhã e tentar te convencer a receber ele. Afinal, não é crime tentar ajudar um amigo a se reconciliar com a família. Willian foi bem sincero quando esteve aqui. Ele só quer consertar as coisas... E eu acho que vocês dois merecem isso…

-Então ia tentar me convencer?

Ela ri.

-Claro que não... Você nunca nos escuta! Você só faz o que quer, mas eu ia te contar o teor da conversa. O que você ia fazer depois com essa informação, era um problema seu.