A Redenção do Ogro romance Capítulo 55

Bernardo Thomson

Estou na minha sala terminando de assinar alguns recibos de plano de saúde que Melissa me trouxe quando minha porta é escancarada e entra um japonês muito do contrariado, porta adentro.

Paro de assinar. Me encosto na cadeira e olho para ele.

-Não sabe bater?

-Pra que? Você sempre fez isso comigo, me achei no direito de fazer o mesmo... Já não era sem tempo, você não acha?

-Sabe japonês... Sarcasmo e essa cara raivosa não combina com você…

-É só o que você merece... Só isso…

Melissa fica vermelha e sai da sala pedindo licença.

-Assustou a menina, japonês.

-Vai para o inferno Bernardo! Eu não aguento essa sua teimosia! Aliás eu não suporto! Tô feliz que você tenha resolvido voltar ao hospital e que não está mais com cara de bêbado pelos corredores, mas essa sua teimosia está me tirando do sério.

-O quê eu fiz japonês?

-Seu irmão não quer tirar suas ações…

-Eu não…

- CALA A PORRA BOCA! FICA QUIETINHO, OU EU NÃO RESPONDO POR MIM… KUSO!

Fico parado olhando para ele. Eu acho que tirei um japonês do sério!

-Ele não quer. Ele quer desenvolver um projeto com você! Um projeto que ele criou para se aproximar do irmão. Se te interessa saber do que se trata, leia esses papéis. -Abro a boca dando a entender que vou dizer algo.- CALA A BOCA! Eu ainda não terminei... Só leia... Se isso der certo, o hospital vai sair ganhando, a sua carreira vai alavancar. Vocês podem até ganhar um prêmio, seu idiota... Deixe seu orgulho de lado, só leia o projeto. Você tem uma semana para isso.

Ele joga as pastas na minha frente e começa a se retirar do escritório. Eu suspiro de raiva! Quem ele pensa que é pra invadir o meu consultório e me obrigar a fazer algo que eu não quero fazer?

"Ele é seu irmão, forjado na vida. Lembra da lealdade?" -Fala minha consciência.

-Eu não vou ler. - Ignorando qualquer conselho que meu bom senso possa me dar.

-Agora você pode fazer o que quiser, porque já sabe do que se trata, mas saiba que se não ler, você é uma mula misturada com jumento! Baka! (Burro)

E sai da sala batendo a porta atrás de si. Virou o samurai… pqp!

*******

Olho para as pastas em cima da minha mesa de centro e tomo mais um gole de whisky.

Projeto... Então quer dizer que ele quer desenvolver um projeto no hospital e não quer as ações?

E comigo?

O que vou fazer num projeto junto com a neurologia?

Confesso que estou curioso! Muito curioso!

Mas não acredito nenhum pouco na história de que ele não veio ao Brasil com segundas intenções. Acho que ele só está falando isso porque tem medo que eu conte para meu pai o segredinho sujo dele.

O verdadeiro motivo por ter ficado tantos anos morando longe.

Afinal, eu ameacei ele no fatídico dia em que ele foi embora e na festa.

Deve estar se borrando de medo.

Ele podia ser inteligente na sua vida pessoal como é no trabalho. Será que ele não se toca que se mudando para o Brasil, meu pai vai acabar sabendo de tudo?

Todo mundo vai saber quem é o verdadeiro Willian. Não que isso seja problema para a grande maioria das pessoas que nos cercam, que são considerados da família. Mas meu pai... Ahhh meu pai não vai aceitar de jeito nenhum!

E pq ele quer se aproximar de mim? Nunca tivemos afinidades... Nunca...

Somos completamente diferentes um do outro. Quer salvar a nossa relação. Que relação?

Olho novamente para a pasta em cima da mesa...Inferno!

Pra que eu trouxe isso para casa.

Tomo o restante do whisky e me levanto indo ao bar e enchendo o copo novamente.

Vai ter que se render, Bernardo. O japonês disse que você vai ser a mula mais jumenta desse planeta senão olhar do que se trata.

Será que dá pra cruzar jumento com mula? Seria interessante!

Merda!

O que eu faço?

Vou dar só uma olhadinha…

Isso não vai me matar... Só quero saber o tamanho da merda que eu vou estar negando pelo hospital. Afinal se eu vou fazer uma merda, tenho que fazer a merda conscientemente.

Me sento novamente no sofá e ponho o copo cheio em cima da mesinha, pego a pasta e coloco em meu colo.

Vamos lá Bernardo!

Coragem!!!

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Toco o interfone e espero alguém atender.

-Pois não?

-Sou eu Fernanda, Camila está?

Ela fica muda no telefone por um tempo, mais logo depois diz:

-Dr. Bernardo?

-O próprio... Ela está?

Mais um silêncio.

Eu nunca pensei que viria bater na porta dela algum dia. Nem como amigo...Achei que ela, alguma hora da vida, fosse fazer isso, mas eu preciso conversar…

E eu lembro que sempre conversamos muito... E ela nunca dizia as coisas para me agradar. Ela sempre dizia a verdade. Quero conversar com alguém neutro na história que olhe as coisas por um ângulo que eu não teria, se conversasse com alguém da minha família.

Eu fiquei encantado com o projeto do Willian! Fora que poderia ajudar tantas pessoas . É surreal que tudo aquilo tenha saído da cabeça daquele banana.

Era surpreendente!